Produzido pela Telltale Games, mesmos produtores de The Walking Dead (Game of the Year de 2012), The Wolf Among Us traz uma história de contos de fada em um cenário estilo Law & Order, com uma história baseada nos quadrinhos Fables (Fábulas, no Brasil) do selo Vertigo.
Coloca o jogador na pele de Bigby Wolf, o lobo mal das histórias, que nessa realidade não é tão mal assim. A sensação ao se jogar The Wolf Among Us é de assistir um filme interativo, onde o clímax da história tem seu início a partir do momento em que se clica no botão de iniciar o jogo.
Lançado no dia 11 de Outubro deste ano na Steam, o jogo se encontra disponível por R$44,99 e tem uma mecânica diferente de lançamento. Ao comprar o jogo, você recebe o título em episódios, que vão ser lançados até o inverno de 2014.
O sabor de expectativa ao fim do primeiro episódio foi imensurável, onde o jogador tem uma palhinha do que esperar no próximo capítulo, marcando pontos onde suas decisões foram cruciais e que cada escolha feita pelo jogador tem um pesar concreto na história.
A previsão é de que sejam lançados 5 capítulos sendo estes:
Episode 1: Faith – Já Disponível
Episode 2: Smoke and Mirrors – Em Breve
Episode 3: A Crooked Mile – Em Breve
Episode 4: In Sheep’s Clothing – Em Breve
Episode 5: Cry Wolf – Em Breve
Dê uma olhada no trailer do episódio 1:
Confira abaixo a review do primeiro episódio dessa série que promete ser um dos melhores contos de fadas contados até hoje!
Lobo mal? Contos de fadas?
A princípio pode parecer que, por ser uma história tematizada com personagens das fábulas, já conhecidos de nossos tempos de criança, seja uma história mais fraca, onde a personalidade não tenha para onde se expandir ou que tenha uma limitação que já presenciamos em outras séries que tentam mesclar os contos de fadas com aspectos mais maduros.
Porém, o jogo se difere exatamente neste ponto. Apesar dos personagens serem de conhecimento geral, isso não passa de seus nomes e suas características mais superficiais. Todo o mistério está incluso no que não era de se esperar de um personagem. A história se desenvolve bem, girando em torno do xerife de Fabletown, chamado Bigby Wolf.
Também conhecido como Grande Lobo Mal, Bigby apresenta-se como um herói incompreendido, talvez até um pouco inibido de sua bondade, fazendo papel de um personagem que faz o seu trabalho, mas que luta contra um passado ainda a ser discutido. O interessante é que, durante o andamento da história, cabe ao jogador decidir se Bigby é um lobo desalmado e sem piedade, ou um personagem arrependido e que tenta fazer o melhor pelo bem comum.
Cada decisão a ser tomada tem um peso nos resultados finais do capítulo. Atos bobos como tomar uma conversa mais pacífica ou tentar receber respostas indiretas podem influenciar em bom tamanho nos resultados que Bigby escutará dos outros personagens, que defendem suas personalidades com caráter muito bem elaborado.
A história se vira muito bem ao mistério e em acertar o psicológico do jogador, que se vê em situações de clímax a todo o tempo. Personagens que podem antes parecer um aliado, ao fim podem se mostrar receosos de dividir informações com o xerife, enquanto outros personagens que se mostram hostis, podem se apresentar futuramente como pessoas inseguras ou desesperadas.
A todo momento o jogador deve provar sua tranquilidade nos momentos de decisão, pois são neles que sua experiência inteira do jogo se fundamentará, e cada escolha tem um pesar diferente, tendo resultados como ver através das mentiras dos personagens, escapar de obstáculos nas cenas de perseguição, vencer combates com personagens insanos, tudo em uma ação simples e ao mesmo tempo, de grande emoção.
Além do grande lobo mal, temos a presença da Branca de Neve, Bela e a Fera e até mesmo do Sapo. É divertido que durante o andamento da história do jogo, os espectadores podem identificar aqueles personagens que já conhecem e também conhecer alguns novos, de contos nem tão falados assim.
Esquerda… Cima… Clica!
Pessoalmente, ao ver um jogo que tem como objetivo contar uma história ao jogador, estranhei estar categorizado como um jogo de aventura.
Mas todo esse conceito modifica durante o jogo, passando por três paradigmas principais de jogabilidade.
Basicamente, combates e perseguições são recheados de quick-time events, aqueles momentos em que devemos pressionar um botão rapidamente, normalmente representando reflexos do personagem no momento.
Em outros momentos, temos um formato de point-and-click, que é mais utilizado nos momentos de exploração e de observar pistas, que, se não forem dadas a devida atenção, podem deixar de ser observadas ou pior, esquecidas nos momentos de diálogo.
O terceiro formato é usado nos interrogatórios e diálogos, que têm a grande parte das decisões em seu conteúdo. É durante um diálogo que o personagem deve utilizar tudo o que observou, sendo-lhe dadas quatro opções, uma dessas sendo a opção de se manter em silêncio!
Todos esses formatos de jogo se mesclam muito bem durante o jogo, sem muita repetição e sempre dando um ar de novidade ao jogador. Não foi uma única vez em que fui pego de surpresa em momentos de quick-time por estar aprofundado demais na história.
Essa que, por sua, vez fará de tudo para manter sua atenção no jogo. A história flui muito bem com a jogabilidade e resulta em um jogo que é capaz de contar uma história de mistério e que nem é tão carregada de ação, de forma que não exista a sensação de tédio.
The Wolf Among Us teve a capacidade de entreter sem perder conteúdo ou enrolar. Diferente de muitos outros jogos que temos no cenário atual, que tendem a focar muito em um setor, seja apenas ação ou apenas história, neste jogo em questão temos um equilíbrio de ambas as partes, que satisfazem o jogador de forma completa.
A flexibilidade do jogo diante de alguns erros durante as cenas de ação tornam a experiência ainda mais agradável, evitando a repetição das cenas.
É interessante ressaltar que toda a experiência do jogador se constrói durante a história e é isso que fica mais marcante, pois não há necessidade de treinar para concluir os testes, mas, ao mesmo tempo, a sensação de novidade durante as cenas é fixa e acompanha o jogador do início ao fim.
Ênfase no “escutar uma historia”
Se houvesse uma razão para definir o áudio de The Wolf Among Us seria: A Dublagem. É provavelmente uma das melhores dublagens que já ouvi. Dizendo isso com prioridade, por ser um grande fã do trabalho dos dubladores, neste jogo, os atores parecem conseguir passar as emoções dos personagens em sua voz de uma forma muito evidente e marcante.
Em cenas de desabafo e diálogos, o tom da voz das personagens muda drasticamente e em alguns casos até mesmo rouquidão aparece presente em personagens que se encaixam perfeitamente com aquele tom de voz, como se mentalmente já houvesse uma pré-seleção de qual voz o personagem teria e que, por sua vez, se concretiza sem falhas.
A trilha sonora sempre presente durante o jogo dá um ar misterioso aos momentos de investigação e a sonoplastia é efetiva nos momentos de ação. A imersão é enorme quando se mescla o visual com o áudio, e a grande cereja em cima do sorvete é a jogabilidade, que vem trazendo modos diferentes para evitar o cansaço do jogador.
O áudio do jogo é extremamente cinemático e tem momentos em que a sensação do ambiente se baseia principalmente no som; momentos em que tudo pode acontecer e a única coisa a se passar pelas sensações do jogador é a trilha sonora e os sons de objetos na cena, que amplificam a tensão e o suspense do ambiente com efetividade, sem forçar a barra.
Pessoalmente, recomendo que o jogo seja inteiramente jogado com fones de ouvidos. Quanto mais imerso o jogador ficar, melhor será a experiência com a história. Como se fosse a leitura de um livro, com a sensação de assistir uma série e a ação de se jogar um jogo, toda essa mistura dá resultado, harmonioso, em The Wolf Among Us.
Estou lendo um quadrinho? Vendo um filme?
Definitivamente, a melhor parte do jogo. É tudo maravilhosamente bem colocado em The Wolf Among Us: o estilo quadrinista do jogo, encaixado bem com uma estilo meio noir, dando um tom de mistério e ao mesmo tempo de fantástico ao mundo imperfeito de Fabletown.
Os primeiros 5 minutos de jogo dão a sensação de colocar um filme para rodar e simplesmente se admirar com todos os detalhes e a arte tão trabalhada do jogo. O sombreamento dos personagens dá a sensação de uma história em quadrinhos, com traços fortes e de personagens que tem suas personalidades traçadas pelas suas feições.
O jogo bombardeia a tela com obras de arte, definidas em um cenário maravilhoso, e que se vistas de maneira correta têm muito mais a apresentar do que um simples ambiente. Os locais de Fabletown refletem muito mais que os olhos podem ver e permitem a dedução de tudo o que rodeia aquela área. Regiões mais pobres, regiões mais ricas, ambientes que aparentam ser um local de conforto, mas que dividem uma dualidade com ambientes de miséria.
Toda a representação ficou ótima, expressionismo dos personagens bate muito bem com todos os outros aspectos, sejam auditivos ou visuais, e que refletem bem nas ações. Personagens mais agressivos já tem em seus traços semblantes mais agressivos, enquanto personagens mais delicados tem seu visual mais sutil.
O visual cativa também pelos personagens reagirem às suas atitudes. Olhares de desaprovação, feições de medo, rostos que expõe um caráter do personagem, seja raiva, seja covardia. O expressionismo fica muito bem trabalhado, como nos quadrinhos, que foram uma influência muito bem aplicada no estilo do jogo.
Uma pequena falha é que em alguns momentos, durante as decisões do jogo, por ser uma constante alternação de vídeos e cenas, alguns flashes podem ocorrer na tela, cortando uma pequena parcela da fluidez do jogo. Essa falha é um pequeno detalhe, mas devido à imersão, a nitidez destes erros tende a não passar batida.
Vale a pena ver de novo?
Se observarmos o preço, R$44,99 podem desanimar alguns jogadores pela temática ou como o jogo é executado. Mas o mais interessante, que rebate muito bem o valor do jogo, é que a mesma história tem diversos caminhos a serem traçados e que um jogador dificilmente irá realizar as mesmas escolhas que um outro jogador faz.
Dando um ar único a cada história, o peso das decisões influencia de forma positiva na re-jogabilidade do jogo. Um jogo capaz de satisfazer tanto àqueles que só querem terminar o jogo, quanto aos curiosos, que testam as mais diversas decisões e tentam alterar drasticamente seu estilo de jogo para observar os diferentes finais que um mesmo conto pode tomar.
Combinando beleza do visual, com a perfeição da dublagem, ambientação da trilha sonora, arte harmoniosa que unifica todos estes aspectos mesclada a uma jogabilidade sutil, de fácil aprendizado, mas que não perde em conteúdo e emoção ao jogador, temos um dos jogos mais agradáveis e mais cativantes do semestre, talvez até mesmo do ano.
Uma história muito bem embasada, que tira suas raízes dos quadrinhos de forma que pouquíssimos jogos conseguiram executar. Em alguns momentos, cheguei até a me sentir jogando L.A. Noire. A comparação pode parecer injusta, pois os jogos da Rockstar são mega produções, mas The Wolf Among Us tem o mesmo toque sombrio de investigação, de forma que cativa o jogador a buscar respostas e instiga a observação, desafiando o instinto de decisão de quem se habilita a acompanhar a história.
Bigby trará um novo conceito de lobo mal e lhe fará questionar muitos pontos dos contos de forma interessante, com dilemas e emoções que temos nas séries, somados a uma interação agradável dos jogos. The Wolf Among Us vale (E MUITO) cada centavo.