Análise: Resident Evil Village é intenso e assustador na medida certa

Release Date
07/05/2021
Desenvolvedora
Capcom
Publisher
Capcom
Plataformas
PS5, PS4, Xbox One, Xbox Series X/S, PC e Stadia
Our Score
9

Sempre tive a impressão de que a Capcom segue um ritmo cíclico com Resident Evil. Assim que é estabelecido um novo direcionamento para a franquia, se inicia uma série de jogos aproveitando o mesmo conceito e ideal. A trilogia inicial se consagrou pelo seu terror claustrofóbico, o medo do desconhecido e o manejo constante de (escassos) recursos em função de garantir sua sobrevivência em meio aos zumbis, mutações genéticas e armas biológicas.

Até que o ciclo é renovado com um novo elemento: ação. Resident Evil 4 estabeleceu – por muitos anos – o direcionamento que os próximos jogos da série iriam seguir. O desenvolvimento de Leon como um super soldado americano capaz de se armar até os dentes e executar movimentos que desafiam até a gravidade escalaram em um ritmo frenético, especialmente no quinto e sexto game da franquia. RE 4 tem momentos genuinamente aterrorizantes (fiquei algumas semanas sem encostar no jogo após o meu primeiro encontro com o Dr. Salvador, quando era criança) – mas a fórmula já havia sido estabelecida para o futuro.

Enfim, Resident Evil 7 aconteceu. Trazendo de volta todos os elementos clássicos do terror dos primeiros jogos, a casa dos Baker e a jornada de Ethan Winters em salvar sua esposa foram de tirar o sono. A mudança de perspectiva para primeira pessoa também teve um papel importantíssimo para a imersão, colocando o jogador como a peça central da trama. Você não era mais um agente especial das forças americanas, mas sim um cara normal sem muita perspectiva de sair vivo daquele inferno.

Assim como aconteceu no sétimo jogo, Resident Evil Village tenta se estruturar na mesma premissa, só que usando Resident Evil 4 como uma grande, óbvia e direta referência. E eu nem digo pela ambientação ser parecida (especificamente a vila e o castelo), mas pela maneira que o jogo te engaja de momento em momento, misturando uma dosagem equilibrada de terror e, claro, ação. Da mesma forma como Resident Evil 4 não precisou recorrer a set pieces intensas apenas com a premissa de te assustar, Village também se destaca como mais um grande título em uma franquia que vem desde 2017 estabelecendo cada vez melhor a sua identidade.

Bestas… em todo lugar. Você se tornará uma, cedo ou tarde

A história é uma continuação direta de Resident Evil 7. Três anos após o incidente em Luisiana, Ethan e Mia finalmente conquistam um pouco de paz que se traduz na chegada de uma filha, batizada de Rose. Entretanto, era de se esperar que o pesadelo na casa dos Baker não deixaria Ethan em paz por um bom tempo. O assunto continuava reverberando entre a conversa do casal – Mia tentava esquecer enquanto Ethan fazia questão de conversar sobre tudo aquilo direito.

Em uma determinada noite aparentemente tranquila, Ethan revive novamente o terror: sua casa é atacada por soldados de uma organização desconhecida, Mia é atingida por uma rajada de tiros e sua filha sequestrada. Se deparando com o responsável pelo ataque, o protagonista cai em descrença mais uma vez ao ver que Chris Redfield estava por trás do que acabara de acontecer. A mando de Chris, Ethan também é levado junto com sua filha.

No meio do caminho, o comboio que levava Ethan e Rose é atacado. O protagonista acorda desorientado, no meio de uma floresta escura e a menina desaparecida. O que aconteceu? Quem a levou? O que atacou o transporte deles? Em meio a tantas perguntas sem respostas, Ethan precisa se recompor e procurar ajuda em um vilarejo próximo à floresta.

Chegando na vila, seus residentes estão sendo atacados por criaturas que se assemelham a lobisomens – inimigos ferais e altamente perigosos que atacam sem pensar duas vezes. Após mal sobreviver ao ataque, Ethan se encontra com uma outra residente, bem mais peculiar: uma velha com trajes maltrapilhos e um cajado que se assemelha ao de uma bruxa.

A anciã então fornece singelas pistas sobre o paradeiro de Rose: ela passou por ali e foi levada a algum lugar nas redondezas. Quem a levou permanece um mistério, embora um nome seja constantemente dito pelos moradores: Mother Miranda. Sem muita escolha de onde seguir com sua procura, o protagonista parte rumo ao Castelo Dimitrescu em busca de mais respostas.

Ao meu ver, enredo nunca foi um forte em Resident Evil. Entretanto, em RE Village, a Capcom demonstrou que sabe construir uma história cativante e personagens super memoráveis. A primeira metade, em especial, consegue manter um ritmo impecável – com os holofotes para o Castelo Dimitrescu e a casa de Donna Beneviento. Ethan também se torna um protagonista um pouco mais identificável em meio a toda angústia em salvar sua filha.

No fim das contas, toda a trama de Village consegue se estabelecer como mais um ponto alto nesses 25 anos de Resident Evil, demonstrando que a franquia está mais forte que nunca.

Oh… I’ll buy it at a high price!

As mecânicas e gameplay se mantém com o mesmo padrão que vimos em Resident Evil 7. A perspectiva continua em primeira pessoa – as armas são mais variadas e possuem um pouco mais de peso em cada tiro e deixa o gunplay com mais “peso” e uma pegada mais atraente. As escopetas são pesadas e devastadoras, assim como o rifle à longa distância (uma nova adição aqui) e o lança granadas.

Ao contrário de RE7, em Village coletamos dinheiro – no mundo do jogo chamado de Lei – e outros tesouros para vender. Uma antiga mecânica, especificamente de Resident Evil 4, está de volta: o mercador. Chamado de Duke, esse carismático personagem será seu melhor amigo para vender armas, suprimentos e melhorias para seu arsenal. Duke também possui uma cardápio de especiarias da região que fornecem à Ethan upgrades permanentes em sua vida e mobilidade, basta trazer as carnes certas para o mercador. Sim, em RE Village é possível caçar animais, como peixes, porcos e galinhas.

O mapa da vila também serve como um ponto principal no jogo: o jogador retornará diversas vezes para o vilarejo em função de destrancar novos caminhos, portas previamente fechadas e descobrir segredos. Assim como nos jogos antigos, o backtracking é bem recorrente e demonstra um forte investimento em level design, com várias áreas se conectando e fazendo o jogador memorizar bem cada caminho.

A vila se conecta a todos os pontos importantes da história: o castelo, a casa Beneviento, as minas e a fábrica. Todos esses pontos são cruciais para prosseguir no jogo e há uma separação bem homogênea entre cada uma dessas partes, incluindo em estética e gameplay. Infelizmente, como em quase todo Resident Evil, o nível tende a cair um pouco na segunda metade, especificamente na fábrica.

Não vou adentrar em spoilers aqui, mas comparado aos primeiros momentos do game, essa seção em específico é um parto. Level confuso, claustrofóbico e sem muito destaque. Por sorte, isso se torna perdoável por conta dos momentos tão memoráveis na primeira metade.

Uma mistura de gêneros

Resident Evil Village é um dos melhores jogos da franquia – e falo com folga e tranquilidade. Mesmo sendo pesadamente inspirado em Resident Evil 4 (as melhores partes de RE 4, pelo menos), Village consegue estabelecer sua personalidade como algo único e com diversos momentos verdadeiramente aterrorizantes.

O jogo também consegue manter um equilíbrio quase perfeito entre ação e terror, sem te entediar ou frustrar demais, mesmo nos últimos momentos. A trama é bem elaborada, intrigante e recheada de personagens incríveis. Embora Lady Dimitrescu não tenha uma participação muito grande, sua estadia foi super bem vinda – incluindo suas filhas.

RE Village é um jogo obrigatório para todo fã de terror, de Resident Evil, de ação, ou de tudo junto.

Análise: Resident Evil Village é intenso e assustador na medida certa
CONCLUSÃO
Resident Evil Village possui uma mistura quase perfeita entre terror e ação, com personagens memoráveis e um dos melhores momentos da franquia.
POSITIVOS
História com boas reviravoltas
Gameplay bem refinado
Personagens memoráveis
NEGATIVOS
Parte final um pouco arrastada
9
EXCELENTE