Análise: O demônio e a política se encontram no terceiro episódio de The Council

Análise: The Council – Episódio III: “Ripples” (2018)

Finalmente tivemos o lançamento do terceiro episódio de The Council e, como de costume, viemos trazer nossas impressões sobre o jogo narrativo criado pelo estúdio Big Bad Wolf. Caso você não tenha visto, não deixe de conferir a análise do primeiro capítulo, na qual discutimos o enredo e modelo de gameplay, e a análise do segundo capítulo, na qual nos aprofundamos um pouco mais na narrativa e nas possibilidades de escolha oferecidas pelo jogo. Vale lembrar que nossa análise apresenta spoilers moderados sobre o enredo – então, se você não quiser saber de nenhum detalhe, recomendamos jogar primeiro antes de se aventurar na leitura dos próximos parágrafos. Todos prontos? Então vamos lá!

 

Fazer política pode ser divertido!

O terceiro episódio de The Council é dividido em três atos e, no primeiro deles, finalmente acontece a tão aguardada conferência organizada por Lorde Mortimer. Caso você não se lembre, Mortimer é o excêntrico dono da ilha onde se passa o jogo e que realiza encontros esporádicos com grandes personalidades políticas. Até então não sabíamos o motivo da atual reunião, afinal, estávamos na ilha apenas para encontrar a mãe desaparecida de Louis, Sarah de Richet; no entanto, como Sarah continua desaparecida, Louis é convidado a ocupar o lugar dela e participar da convenção que todos tanto esperam.

Antes da convenção começar, Louis tem a oportunidade de conversar com Lorde Mortimer, que explica a dinâmica das reuniões e o papel que o jovem terá que desempenhar. Aqui, ficamos sabendo que aquele grupo de pessoas constitui uma poderosa organização, que decide os destinos do mundo ocidental com pelo menos cinco anos de antecedência (para se ter uma ideia, Mortimer revela que a Revolução Francesa foi planejada por eles).

E qual a pauta da atual reunião? Bem, Mortimer quer convencer que a Espanha ceda o território da Louisiana, atualmente sob o controle dos espanhóis, para a França. O que ele não revela, no entanto, é que prepara uma segunda fase do plano, na qual a França cederia a Louisiana para os Estados Unidos, permitindo que os estadunidenses ampliassem seu território e iniciassem a marcha rumo à colonização do oeste da América do Norte, povoado por indígenas. O objetivo principal é ter duas nações democráticas, França e Estados Unidos, como grandes polarizadoras do mundo ocidental, forçando os demais países a abandonarem suas monarquias e antigas tradições e se aproximarem do modelo dessas duas nações.

A proposta, obviamente, não agrada nada os demais convidados, vindos da Inglaterra, Espanha, Prússia e Vaticano. Com exceção de Napoleão Bonaparte e Louis, que já conheciam o plano de antemão, e do presidente americano George Washington, que é pego de surpresa, todos os demais reagem de maneira bastante negativa à proposta. E, nessa parte, The Council se mostra extremamente divertido: Louis tem a possibilidade de argumentar com os presentes e tentar convencê-los da viabilidade do plano, bem como mostrar-se como figura confiável e capaz de representar sua mãe enquanto ela está desaparecida. As discussões são bastante instigantes e trazem à tona assuntos polêmicos da época, como escravidão, regime de monarquia, dizimação de indígenas, influência da Igreja Católica, entre outros. Sem dúvidas, um prato cheio para quem se interessa por tal período histórico.

Ao final da primeira sessão da conferência, há duas possibilidades de escolha: Louis pode apoiar Mortimer e votar a favor da cessão da Louisiana à França, ou se opor a Mortimer e votar a favor da Espanha manter o seu domínio sobre a região. Caso escolha apoiar Mortimer, Louis terá a missão de convencer o duque espanhol Manuel de Godoy a mudar de ideia; caso escolha se opor a Mortimer, terá de convencer George Washington de que tal plano não será bom para os Estados Unidos.

 

Reencontros e despedidas

No segundo ato de The Council, finalmente vemos se encerrar alguns mistérios que pairavam desde o início do jogo. Duas personagens misteriosas e que estavam desaparecidas na ilha, a duquesa Emma Hillsborrow, irmã gêmea de Emily, e Sarah de Richet, mãe de Louis, finalmente reaparecem, e juntas. Mas o que poderia ser um momento de alívio acaba se transformando em mais uma situação de tensão: Louis encontra as duas irmãs gêmeas discutindo, com armas apontadas uma para outra, e sua mãe caída ao chão.

Sem perder tempo, Louis terá que intervir e ser capaz de identificar qual das duas gêmeas está falando a verdade e é a verdadeira Emily (as duas alegam ser Emily e acusam a outra de ser Emma). Aqui, o jogador terá de recuperar em sua memória passagens importantes vividas junto com Emily nos episódios anteriores e fazer perguntas às irmãs que só a verdadeira Emily seria capaz de responder. Após tal identificação, uma das irmãs acaba baleada e Louis foge com sua mãe para uma cripta secreta localizada no jardim da mansão.

Finalmente teremos o reencontro entre mãe e filho! Um momento feliz, certo? Não se engane, os problemas estão apenas começando. Sem tempo a perder, Sarah explica porque está fugindo e de quem está se escondendo, e aqui temos a primeira grande revelação do enredo de The Council. Resumidamente, Sarah conta a Louis que demônios são reais e que eles estão agindo para influenciar as pessoas reunidas naquela convenção a fim de determinar o futuro do mundo ocidental.

Nessa parte, o jogo se torna um pouco cansativo, com todas as inúmeras explicações e justificativas sendo contadas por meio da fala de Sarah. Não há nenhuma cutscene, apenas a personagem falando por longos minutos a fim de convencer o filho de que não está louca e que demônios existem. Sentimos uma quebra de ritmo bastante grande aqui, e até mesmo uma certa incoerência, porque ao mesmo tempo que Sarah está desesperada para fugir da ilha, gasta inúmeros minutos explicando todos os detalhes daquela conspiração. Passou-se a impressão de que o roteirista do jogo queria ter certeza de que todos os detalhes estavam muito bem explicados, mas, infelizmente, tal opção deixou essa parte do jogo bastante monótona. Achamos que tal revelação, tão grandiosa e importante para o enredo, merecia ter sido introduzida de uma maneira mais marcante do que uma mera conversa às pressas num corredor.

 

Que comece a caça aos demônios!

Depois de ser convencido que demônios existem, Louis precisa ajudar sua mãe a recolher algumas chaves escondidas pela mansão, a fim de abrir uma câmara secreta no fundo da cripta, onde, segundo ela, haverá algo essencial para dar fim ao mal que assola a ilha.

Nesse último ato, revisitamos diferentes partes da mansão a fim de recolher tais itens e tentar abrir a cripta. Nesse ponto, as limitações técnicas do jogo irritam bastante e atrapalham a fluidez do gameplay. Para encontrar tais chaves, será preciso entrar e sair de inúmeros cômodos e, a cada um deles, nos deparamos com uma longa tela de carregamento, o que deixa todo o processo bastante cansativo.

De maneira geral, algumas falhas técnicas se mostraram mais presentes nesse episódio do que nos anteriores: em algumas cenas, os personagens falavam sem mover os lábios e, em meio às discussões, muitas vezes se tornava confuso entender quem falou o quê, principalmente na discussão entre as duas irmãs gêmeas que, bem, tinham a mesma voz. Também percebemos algumas inconsistências entre o que os personagens diziam e o que aparecia nas legendas: em determinado momento Sarah revelou uma senha que continha o número 6, e na legenda apareceu o número 5. Numa situação dessas, qual número seguir? Principalmente se considerarmos que há alguns mecanismos que podem te punir severamente caso você ofereça a resposta errada (cuidado com o último puzzle no fim da cripta, aliás). Esperamos que tais problemas sejam resolvidos em futuras atualizações.

Em suma, podemos dizer que o terceiro episódio de The Council finalmente entrega algumas revelações do enredo que os jogadores tanto esperavam, mas falha ao fazer isso de maneira significativa, exagerando nas explicações e dando pouca atenção a aspectos que mereciam ser melhor apresentados (como descobrir uma conspiração de demônios para influenciar o futuro da humanidade, por exemplo). Apesar disso, chegamos ao meio da série e estamos ansiosos para ver como o jogo continuará agora que esse grande segredo foi revelado, e quais surpresas aguardam o protagonista Louis de Richet em sua batalha contra as forças do mal nos dois capítulos restantes.

The Council está disponível para PS4, Xbox One e PC. Confira mais informações sobre o jogo no site oficial, aqui.

 

[alert type=white]

A análise foi feita com base na versão para PS4, gentilmente cedida pela Focus Home Interactive.

[/alert]