Análise – The Evil Within

Excelente para uns, problemático para outros. The Evil Within é uma experiência de Survival Horror que se espelhou profundamente em seus antepassados, tanto no brilhantismo quanto nos defeitos.

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Zerei esse jogo três dias após seu lançamento em 14 de Outubro. Quando os créditos começaram a subir na tela, logo pensei “To lascado”. Essa análise com certeza não seria fácil de escrever por alguns motivos que ficarão explicitados ao decorrer do texto, mas principalmente por meus embates internos.

Por mais que eu tenha gostado, falhas óbvias não deixarão de ser citadas. Apesar dos apesares, The Evil Within era o Resident Evil que eu estava esperando.

O game foi idealizado pelo mestre dos mestres, senhor dos senhores do Survival Horror, Shinji Mikami. Mikami e seu novo estúdio, Tango Gameworks, se responsabilizaram pela produção, enquanto Bethesda/ZeniMax distribuíram o jogo.

O horror em sua forma puramente física e brutal

Você é Sebastian Castellanos, um detetive que um dia teve prioridades na vida. Seu rosto acabado pelo tempo e suas rugas de rancor não deixam mentir experiências sofridas no passado, entretanto, ele precisava estar ali. Afinal, faz parte de seu serviço em Krimson City, cidade fictícia onde o jogo se passa.

Sebastian recebe um chamado de emergência para investigar acontecimentos bizonhos que estariam assombrando Beacon Mental Hospital, o centro psiquiátrico da cidade. Chegando ao local com seus parceiros, Joseph Oda e Julie Kidman, eles encontram algo que mais parecia ter saído de um filme trash de terror dos anos 80: sangue, corpos amontoados em todos os lados e nenhum sinal aparente de vida. Vasculhando mais um pouco, descobrem um dos doutores do local quase desacordado, na sala de segurança onde ficam as câmeras. Infelizmente, nada de útil se consegue do Dr. Marcelo Jimenez, além de sussurros por um paciente chamado “Leslie”.

Indo verificar as câmeras, Sebastian assiste a morte brutal dos guardas por uma espécie de identidade que se move mais rápido do que qualquer coisa que ele havia presenciado. Antes que pudesse tirar conclusão sobre qualquer coisa, ao olhar para trás, o que ele não esperava: Sebastian era a próxima vítima. O assassino dos guardas na fita de vídeo havia se teletransportado do filme para as costas de Sebastian. E de repente, um blackout.

Acordando numa espécie de açougue do demônio e pendurado de cabeça pra baixo, ele era o próximo a ser dissecado vivo. E não de uma das formas mais legais de se morrer: nas mãos de um maníaco, grande e com a cara desconfigurada.

O que eu senti jogando The Evil Within

A partir desse ponto, esqueça a possibilidade de tentar encontrar algum nexo entre os acontecimentos seguintes do game. Transições loucas de cenário e enredo cheio de mistérios que envolvem neurociência, hipnose, tortura, violência extrema, pitadas de terror psicológico e até incesto, dependendo do ponto de vista. Apesar da dificuldade de se acompanhar e compreender alguns aspectos de sua história, The Evil Within não peca nesse quesito. É aí que vemos a mente de Shinji Mikami em ação e suas inspirações mais que óbvias em Silent Hill.

Ultrapassado ou oldschool?

O que define um jogo ser oldschool? O que faz um jogo ser julgado como ultrapassado? São algumas das questões a serem apresentadas aqui ao falar do gameplay em geral.

Se você chegou a jogar os primeiros Resident Evil, Silent Hill, Dino Crisis e outros survival horrors, vai se lembrar de como a jogabilidade daqueles games eram uma delícia. Delícia de ruim, no caso. A câmera problemática e mal posicionada fazia a dificuldade do jogo dobrar, onde não tinha um discernimento exato de quando começar a bater ou atirar nos inimigos. Correr/fugir de uma luta era pior ainda.

E mesmo assim, com todos esses “problemas”, os jogos que citei são tidos como obras-primas, e eu nem de longe os tiro desse patamar (até porque sou fã de survival horror). São jogos oldschool. E The Evil Within é justamente isso: uma ode aos jogos daquela época – até porque Shinji Mikami que nos introduziu esse novo gênero -. Muitos reclamaram da câmera, outros da movimentação de Sebastian, outros da dificuldade de se pegar determinado item no cenário, e alguns acharam ruim tudo isso junto. E aqui fica a questão: é porque Evil Within é mal feito/optimizado? Bem, fica a reflexão.

Óbvio, o jogo não é perfeito. Ele não é perfeito muito em decorrência desses pontos que eu acabei de citar. Ao tentar a tarefa de ser oldschool, se traz dois fatores: o brilhantismo e os defeitos dos jogos dessa época. Tudo o que fez o game brilhar, ao mesmo tempo, ofuscou parte desse brilho. A movimentação de Sebastian é realmente robótica, a câmera não colabora e em vários momentos e tive problemas para pegar itens no cenário. Mas sabe de uma coisa? Mesmo com tudo isso, me senti enormemente satisfeito. Resident Evil 4 foi o RE que eu mais joguei e por conta disso The Evil Within foi um abraço caloroso daquela visita que você gosta bastante.

Falando sobre a ação bruta do game, temos um arsenal bem velha guarda também, com exceção de uma arma. O revolver, shotgun, rifle/sniper, granadas e uma besta com diversos tipos de munição. Chamado de Agony Crossbow, essa besta é capaz de atirar flechas normais, incendiárias, venenosas, congelantes e explosivas. É aquela famosa arma pra dar um “tchan” no jogo.

Outro detalhe que é merecido citar, é o da personalidade “peixe morto” de Sebastian. Mesmo enfrentando os seres mais diabólicos, sanguinários, violentos e horríveis que você possa imaginar, ele não solta um “ai”. Não se mostra desesperado, com medo, angustiado nem nada. Ele simplesmente faz o que tem que fazer. Muitos irão dizer que isso é por mera falta de carisma, mas eu digo outra coisa diferente: além da possibilidade de Sebastian ser assim pelos acontecimentos em sua vida, tenho a teoria que a falta daquele “chamego” do personagem é intencional.

Ao produzir um game de terror, é o objetivo de muitos produtores passar toda aquela tensão e pavor ao jogador (por isso que muitos survivals são em primeira pessoa). Partindo disso, pode-se deduzir que fazer um personagem sem o menor traço de personalidade evidente para que você, jogador, se encaixe. Não vai ser o Sebastian fugindo de um maníaco de uma motosserra, vai ser você. Não vai ser o Sebastian se escondendo dentro de um armário para despistar inimigos, será você. O jogador quer SE salvar, e não salvar o pobre coitado que está controlando. Talvez eu esteja forçando um argumento, mas é dessa forma que eu pensei.

Uma visão geral sobre aspectos técnicos

Quando me referi sobre algumas pessoas dizerem que o game é ultrapassado, esse ponto também se encaixa aqui. Graficamente, eu considerei o jogo bem bonito no geral. Mas aos detalhes, é perceptível os serrilhados e o atraso descarado de renderização das texturas dos inimigos e cenários. Talvez a ambientação e o level design como um todo tenham ajudado a disfarçar esses “detalhes”.

E falando em ambientação, esse ponto é simplesmente espetacular. Assim como Outlast conseguiu trazer um detalhamento até desnecessário de vísceras, corpos mutilados e podres, Evil Within não fica atrás nesse quesito. Todo o design e feeling transmitido por cada ambiente nos traz um pouquinho daquela sensação de se andar nos corredores do Alchemilla Hospital em Silent Hill ou nas ruas de Raccoon City, em Resident Evil. É realmente de se aplaudir.

Performance auditiva também deixa uma marca forte. Trilhas sonoras bem escolhidas e outras bem produzidas, que combinam com todos os locais que você passa e vivencia durante o jogo. Atenção especial para belíssima Clair de Lune que toca nos momentos quando você vai para seu “safe room” salvar o game. Outra que coisa que vale a pena ser ressaltada foi o talentoso elenco escalado para realizar a dublagem do game.

Nomes como Jennifer Carpenter (O Exorcismo de Emily Rose, Dexter) e Jackie Earle Haley (Freddy Krueguer no remake de A Hora do Pesadelo) parece que não foram bem aproveitados em seus personagens. Jackie até faz um bom trabalho como Ruvik (vilão do jogo), mas por um lado ainda deixa a desejar. Fora isso, não vejo nada a reclamar sobre a execução da dublagem e áudio em geral.

E ah, claro. As benditas barras pretas. Bendito widescreen cinematográfico. Nesse ponto, eu realmente não entendi a decisão de tentar dar um aspecto de filme, sendo que todos os fatores do jogo contribuem para um grande “NÃO, isso é apenas um jogo de survival”. A única proximidade que Evil Within possa ter a um filme, são os 30fps (que na verdade em filmes são 24fps). Além de atrapalhar, me senti meio agoniado nas primeiras horas de jogo. Tanto que, nos patches recentes para PC, deram a liberdade de remover essa barra. Queria que isso também fosse possível nos consoles, principalmente na versão do PS4 na qual joguei.

Sangue, porrada e muito gore. Vale a pena?

The Evil Within traz uma experiência de jogabilidade que vai dividir bem o público. Vai ter gente que irá amar, considerando-o como verdadeiro retorno do Survival Horror de Mikami numa experiência longa, sólida e divertida. Outros, dirão que o jogo tem sérios problemas técnicos, é ultrapassado e com uma dificuldade acima do normal por conta de seus defeitos. Então, vai realmente de você, caro leitor, decidir se aventurar ou não, seguindo alguns critérios: É fã de Surival Horror? Gosta de Resident Evil? Não se importa com os problemas que esse gênero apresentou no passado? Se a resposta é sim e não para a última, você fica na mesma situação que eu e muito provavelmente vai aproveitar bastante.

Caso contrário, sugiro que espere uma queda de preço, aluguel ou afins. Evil Within foi CLARAMENTE produzido para um público alvo, específico. Possui uma história enigmática e doentia, gameplay velha guarda, personagem principal peixe morto e uma incrível atmosfera de tensão que só Resident Evil 3 conseguia expressar enquanto se fugia do Nemesis. Avalie esses pontos e formule sua decisão.

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• Enredo intrigante
• Gameplay oldschool
• Ambientação fantástica

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• Personagens com carisma abaixo de 0
• Problemas relacionados ao gameplay por ser oldschool
• Dubladores mal aproveitados

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