Análise: Ghostwire: Tokyo encanta pelos visuais mas peca com o gameplay

Folclore e tradições japonesas sempre me encantaram. Contos, lendas urbanas e todo o misticismo que estórias antigas pintam sobre a cultura do país asiático é algo muito legal de se ler e estudar, principalmente se você foi um adolescente que cresceu no mundo dos animes e jogos japoneses. Grande parte dessas mídias tem seus fundamentos inspirados nesses folclores, dando uma fonte imensa para criadores se esbanjarem e darem vida às suas criações.

Ghostwire: Tokyo conseguiu abrir ainda mais minha visão para esse universo. Com missões paralelas que contam mais sobre as lendas urbanas do país, visuais belíssimos que retratam uma Tóquio moderna e uma narrativa que evoca o sobrenatural, o game tem uma tarefa bem fácil de imergir o jogador.

Infelizmente, nem só de visual se sustenta um jogo. Apesar de trazer aquele feeling de geração nova, Ghostwire se sustenta em frágeis bases de gameplay, que começam a ficar um pouco entediantes do meio do jogo para frente. A sorte é de que o título não se alonga demais e pode ser facilmente terminado antes das 20 horas.

Visitantes do além

A história principal do jogo faz o bastante para te manter engajado até o final. Não é espetacular ou cheia de nuances, mas está lá, cumprindo tabela. O verdadeiro sustento vem dos personagens principais e sua dinâmica ácida, que dá um gostinho todo especial à experiência.

O título conta a aventura de Akito, um rapaz que até então tinha uma vida relativamente normal, e K.K, um espírito que busca vingança contra os ocultistas que são responsáveis por fazer toda a cidade simplesmente desaparecer. Sim, a cidade inteira some por conta de uma névoa que domina toda a região, tomando a alma de seus residentes.

Esse acontecimento desencadeia uma série de eventos paranormais na cidade, como espíritos vagando nas ruas e um sério desequilíbrio entre o mundo dos vivos e o dos mortos. Os responsáveis por isso são apresentados como os vilões principais do jogo e seu líder é apenas conhecido como o “Hannya”, se referindo a um tipo específico de máscara usada em teatros japoneses (não vou me alongar demais aqui sobre o conceito histórico para não cometer nenhuma gafe, mas vale a pesquisa).

Embora Akito e K.K tenham motivações diferentes, ambos trabalham juntos para um propósito em comum, que é impedir o progresso no ritual liderado pelo homem na máscara de Hannya e salvar a cidade. Não só a cidade, já que Akito precisa também salvar sua irmã, que foi sequestrada pelo líder dos ocultistas. Akito e sua irmã, Mari, viviam como órfãos após a morte de seus pais. Mari foi hospitalizada após um acidente e é capturada antes de Akito chegar no hospital onde ela estava internada.

Agora, os dois personagens precisam limpar a névoa que cobre a cidade e ir salvando os espíritos perdidos de seus residentes enquanto lidam com suas diferenças e personalidades bem distintas. Existem pequenas reviravoltas e segmentos dramáticos ao longo do jogo que, pelo menos pra mim, não surtiram muito efeito porque não fui fisgado o bastante para sentir esse envolvimento todo que os desenvolvedores planejavam.

Ar, água e fogo

Ghostwire: Tokyo é um jogo de mundo aberto. Isso pode vir como surpresa para alguns visto que o últimos lançamentos do estúdio eram experiências mais contidas e lineares. Apesar da cidade em si não ser gigante, o mapa é repleto de ícones e pontos de interesse, algo que eu estava completamente desacostumado depois de jogar 100 horas de Elden Ring.

E nem sempre esses pontos de interesse são realmente interessantes de se fazer. As atividades de mundo aberto tentam te passar um falso senso de variedade, mas a real é que apenas as side quests se destacam no monte. Posso destacar aqui os bazilhões de coletáveis que podem ser trocados por dinheiro e XP, yokais escondidos que precisam ser “capturados” para liberar pontos de upgrade na árvore de habilidades e espíritos – muitos espíritos – a serem coletados.

Esses espíritos, como eu disse ali no começo, pertencem às pessoas que residem na cidade. Em função de salvá-las, o protagonista absorve as almas e as “prende” num bonequinho de papel chamado katashiro. Quanto mais katashiros você tiver, mais almas consegue acumular e levar para a liberdade. Para fazer isso, Akito precisa encontrar uma cabine telefônica e “descarregar” essas almas, as enviando para um colega de K.K chamado Ed, personagem responsável por isso e por diversos outros momentos importantes na história.

Akito possui três árvores de habilidades, que correspondem a conjuntos de skills diferentes – uma para a manipulação de elementos (o jeito principal de combate e infligir dano), outra com habilidades mais generalistas e a última focada nas skills mais de suporte, como melhoria de talismãs e itens de cura.

Falando do combate, o protagonista consegue manipular três elementos (água, fogo e ar) com a ajuda de K.K. Isso transforma o jogo em basicamente um FPS que, por coincidência ou não, me lembrou o flow de Doom Eternal. Usando analogias de um jogo de tiro, habilidades com ar são como sua metralhadora/pistola, causam dano baixo mas com uma frequência de tiro maior. Água é como sua shotgun e o fogo age como uma espécie de lança granadas. Não sei vocês, mas eu julgo três variações de armas num jogo FPS algo bem limitante. E, infelizmente, aqui também é.

Por mais que você tente variar, o combate nunca parece ter aquele dinamismo desejado, e você sempre fica com a sensação de estar faltando algo. Os movimentos e animações das mãos de Akito ao executar esses golpes são sensacionais, principalmente ao realizar a habilidade de quebrar o “core” dos inimigos (parecido com as glory kills em Doom), mas, ainda assim, falharam em me impressionar.

Outro ponto grande de descontentamento meu foi a movimentação no jogo. O game possui um grande senso de verticalidade, sendo possível navegar por telhados e pegar itens de forma mais aérea. Akito pode planar por alguns segundos após pular de algum lugar alto, mas o controle é bem ruim e totalmente sensível.

Então não dá medo?

Se você esperava um jogo de terror – especialmente survival horror aos moldes de The Evil Within – vai ficar decepcionado. Ghostwire: Tokyo é um game de ação e aventura num mundo aberto, com uma cidade maravilhosa e visuais belíssimos, enriquecido com folclore e tradições japonesas. E acho que essa é uma das minhas maiores críticas: poderia ter sido um jogo de terror. Talvez uma experiência mais linear e contida.

Entretanto, podemos apreciar as coisas pelo o que elas são. Apesar de não impressionar pelos motivos certos, é sempre refrescante ver surgir uma IP que tenta algo ligeiramente novo.

Análise: Ghostwire: Tokyo encanta pelos visuais mas peca com o gameplay
CONCLUSÃO
Ghostwire: Tokyo apresenta uma Tóquio lindíssima, rica em tradições e folclores, além de visuais incríveis. Infelizmente, o gameplay não se sustenta por muito tempo, tornando a experiência um pouco arrastada.
POSITIVOS
Visuais incríveis
Missões paralelas interessantes
Bons personagens e protagonista
NEGATIVOS
Gameplay com pouca variedade
Mundo aberto recheado de filler
Final bem apressado
7
BOM