Review – Bioshock Infinite: Burial At Sea Episódio 1 & 2

Columbia foi maravilhosa e trouxe grandes emoções para quem desfrutou da campanha principal de Bioshock Infinite. Com seu sucesso, a Irrational Games tinha uma ótima carta na manga pra alastrar ainda mais o sucesso de seu shooter. Foi bem óbvio, mas uma boa sacada. E qual sacada? Bem… Por que não trazer Rapture de volta? E ainda com Booker e Elizabeth? Numa história que iria se relacionar com o primeiro Bioshock? Não tinha como dar errado. E não deu. A cidade icônica submersa no oceano do primeiro Bioshock está de volta em sua melhor forma.

Como vocês devem saber, Burial At Sea foi divido em dois episódios. Irei analisá-los simultaneamente em pontos que são comuns (quesitos técnicos em geral) e separadamente em pontos que são distintos, como história e gameplay.

História & Gameplay

Episódio 1

“Mesmo numa utopia, alguém tem que limpar a bagunça. E é aí que eu entro. A garota me prometeu uma saída, e eu estava desesperado o bastante para acreditar nela. Nós estávamos enterrados no mar, só não sabíamos disso ainda.” – Booker DeWitt.

Começamos de uma maneira direta, ríspida e no ponto. Estamos em 1958, a guerra civil de Rapture ainda não teve início e Booker trabalha como investigador particular na cidade. Uma jovem, bonita e elegante moça vêm ao seu encontro, pedindo por um de seus serviços e sua ajuda. E quem podia ser? Claro, Elizabeth. Aparentemente mais madura, com um look totalmente diferente do que vimos naquela moça inocente em Infinite, a definição de “femme fatale” nunca caiu tão bem em Liza como agora.

O serviço é apenas um: Elizabeth quer que Booker a ajude encontrar uma garota. Seu nome é Sally e ela está desaparecida por algum tempo. Ao encontro de Booker, Elizabeth permanece um mistério, apenas fornecendo alguns – poucos – detalhes sobre o serviço. Liza tem a informação que Sander Cohen sabe sobre o paradeiro de Sally e eles precisam ir até ele para saber de mais informações. Cohen, o artista louco de Rapture, promove festas grandiosas e só quem tem máscaras específicas conseguem adentrar a festa. Booker e Elizabeth começam então uma corrida para arranjar as máscaras e encontrar com Cohen numa tentativa de encontrar a menina desaparecida.

O enredo do primeiro episódio é singelamente mais simples. Mas, até mesmo o “simples” em Bioshock Infinite se torna complexo. Ao decorrer da história, vários plot-twists ocorrem e novamente, te deixam de boca aberta. Você acha que deduziu uma coisa, mas o jogo consegue de uma maneira mais que sagaz surpreender e te deixar babando por três dias seguidos. Assim como a campanha de Infinite, se prepare para uma série de mindfucks e algumas horas de pesquisa sobre a explanação completa do final. Aqui, mais uma vez, a coleta de todos os audio logs é fundamental para o entendimento completo da história. Burial At Sea Episódio 1 não decepciona no quesito enredo e traz uma volta triunfante à Rapture, “nostalgiando” aqueles que jogaram o primeiro game da franquia.

Acho que o único pequeno tropeço desse primeiro episódio foi uma falta de inovação no gameplay (fato que é expressamente “consertado” no segundo episódio). A jogabilidade permanece a mesma em relação a campanha principal de Infinite. Booker continua bruto e violento, usando Plasmids (sim, Plasmids, não estamos mais em Columbia!), armas e sua Air-Grabber, antiga Sky-Hook, mas que possui a mesma exata finalidade.

As novidades ficam por conta de um novo Plasmid, o re-design da Hand Cannon e Shotgun, e a adição de duas armas novas. O novo Plasmid (e que é necessário para passar de determinada parte da história) é chamado de Old Man Winter. Ele é a mesma coisa do Winter Blast, em Bioshock 1. Surgiu apenas como uma referência em Burial At Sea. É capaz de congelar os inimigos por um curto período de tempo para que o jogador seja capaz de destruí-los enquanto congelados. As novas armas que compõe o arsenal de Booker são a Radar Range e Tommy Gun. No caso da Radar Range, podemos classificá-la como um “micro-ondas a distância”, que ao atacar um inimigo, podemos explodi-lo. Sua munição acaba muito rápido e é meio escassa, mas seu ataque é extremamente poderoso. A Tommy Gun é apenas uma submetralhadora típica usada por gangsters e que também pode ser encontrada em Bioshock 1, sendo mais uma referência. O re-design da Hand Cannon e Shotgun as deixou muito mais bonitas em comparação com as de Columbia, deixando numa entonação prateada com dourado.

O gameplay é sólido, assim como na campanha principal. Os grandes diferenciais veremos a partir do segundo episódio que tem uma abordagem completamente diferente da brutalidade de Booker.

Episódio 2

Falar do enredo para quem não jogou o primeiro episódio é pisar sobre ovos. Para não me arriscar a estragar a experiência de ninguém, serei bem sucinto ao falar desse enredo. Após os eventos ocorridos na saga de Booker, assumimos o controle de Elizabeth. É a primeira vez que jogamos uma mulher na saga e isso vai acarretar várias mudanças no gameplay que falarei mais adiante. A busca por Sally continua, mas dessa vez Elizabeth sabe como encontrá-la e a ter de volta. A menina encontra com um velho conhecido nosso de outros jogos que, para a surpresa de vocês, não falarei quem. Liza, agora sendo forçada a trabalhar para este homem, deve entrar em contato com Yi Suchong, o pesquisador de Rapture que também está presente em Bioshock 1 para cumprir algumas tarefas e, por fim, finalmente encontrar com Sally.

O enredo, dessa vez, está mais poderoso do que visto no episódio um. Vemos o lado mais sentimental de Elizabeth e todos seus sentimentos à flor da pele na tentativa de reencontrar a querida garota. Vemos a pressão recaindo sobre ela a todo instante, em que qualquer passo errado, tudo pode ir por água abaixo. Elizabeth precisa ser mais forte e esperta do que antes para conseguir cumprir seu objetivo e de todas as figuras maldosas presentes em Rapture. Além, claro, dos Splicers.

A história contada nesses dois episódios é um beijo e uma abraço para todos os fãs da série, que encerra com chave de ouro uma das franquias mais queridas por nós. E, literalmente, eternizando Elizabeth e Booker.

O gameplay, como dito anteriormente, é o mais diferenciado de toda a franquia (digo isso com base em Bioshock 1 e Infinite em questão de personagens ‘humanos’, já que em Bioshock 2 controlamos um Big Daddy). Elizabeth é mais fraca e obviamente não tem a força de Booker. Mas isso não é um problema, já que temos a possibilidade de ir em stealth completo. O jogo te incentiva a ser furtivo sempre e evitar combate, já que Liza não aguenta mais que 3 ou 4 tiros de média distância para morrer. Agora há um ‘detector de visão’ sob a cabeça de cada inimigo que indica o tanto que ele está te vendo. São duas barras, que quando enchidas uma vez, se tornam amarelas e os Splicers sabem que você está lá. Depois do amarelo, as barras ficam vermelhas e eles te viram/estão te vendo. Ao despistá-los, o detector vai voltando ao normal e os inimigos saem do modo de alerta. Não tem segredo: o lance é andar sempre agachado.

Algo que foi muito inspirado pela série Thief, é a utilização do som. Toda superfície emite um barulho diferenciado que é capaz de chamar atenção dos inimigos. Andar na água e pisar sobre cacos de vidro produzem muito mais barulho do que andar em um tapete, por exemplo. Correr/andar levantado também produz mais barulho do que ser furtivo e ficar agachado. Ao seguir essa linha de furtividade, Elizabeth é capaz de nocautear inimigos que não estão cientes de sua presença (os famosos takedowns). Com sua Air-Grabber, Liza atinge os inimigos na cabeça e os faz desmaiar por tempo indeterminado no chão. Esse takedown só possível se, e apenas se, os inimigos não estiverem te vendo ou não souberem de sua presença, caso contrário, Elizabeth não consegue executá-los igual Booker faz, realizando apenas um “chega pra lá” neles, atordoando-os por curtíssimo período de tempo.

Em adição às armas e Plasmids, temos novidades. Nos Plamids, além do Old Man Winter, temos agora o chamado Peeping Tom e Ironsides (e Possession, que já fazia parte da campanha principal de Infinite). Peeping Tom é o Plasmid que facilita a furtividade de Elizabeth, possibilitando que se torne invisível e veja inimigos e itens através das paredes. Toda essa ação de ficar invisível consome Eve, principalmente se movimentar estando invisível. Com upgrades (que são encontrados em áreas secretas do cenário e não mais comprados), esse Plasmid consome menos Eve, por exemplo. Assim como há adições por upgrades em todos os Plasmids presentes nas DLCs, inclusive no primeiro episódio. O Ironsides tem exatamente o mesmo poder que o Vigor encontrado em Columbia, Return to Sender. Absorvendo o dano (projéteis) causado por inimigos e jogá-los de volta. Sobre as armas, além da Hand Cannon, Shotgun e Radar Range, temos uma adição especial: um Crossbow. Este, que será o fiel parceiro de Elizabeth durante sua saga stealth, possui três tipos de tiro: tranquilizantes, produtores de barulho e gás sonífero. O tranquilizante, como o nome diz, faz os inimigos dormirem, sedando-os. Um tiro na cabeça agiliza o efeito. O gás sonífero tem o mesmo efeito do tranquilizante, mas aqui pode ser atirado em grupos de inimigos, fazendo todos dormirem ao mesmo tempo e ficarem nocauteados. Os produtores de barulho servem apenas como distração, focalizando a atenção dos Splicers em determinada área para que você possa passar para outro lugar sem ser visto.

Assim como em Infinite, Elizabeth pode realizar lockpicking (destrancar fechaduras). Em Burial At Sea parte 2 isso funciona como um mini-game e, ao acioná-lo, podemos ver dentro da fechadura. Com a ferramenta, devemos acionar o pino certo para destrancar a porta. Existem três tipos de pino: os vermelhos que ao acionado produz um alarme no local, alertando todos que estivem perto; os brancos que apenas destravam a porta e os azuis, que ao serem pressionados no tempo certo, destravam a porta e te recompensa com um produtor de barulho para seu Crossbow. A ferramenta para lockpick fica no “automático”, ou seja, passando sozinha pelos pinos é preciso acertar o tempo certo deles para não acionar nenhum alarme. Os inimigos são alertados por barulho de armas, menos do Crossbow.

Em conclusão, o gameplay é extremamente divertido com um stealth incrivelmente bem feito, chegando a ser melhor que muito jogo que é propriamente furtivo. Todos os elementos se combinam perfeitamente bem numa junção que traz Elizabeth em melhor captura de sensações e sentimentos. Você sente que o estilo fica completamente diferente, Liza tem suas particularidades em gameplay que com certeza irão te fazer ter vontade de mais um jogo com ela.

Quesitos técnicos

Episódio 1 & 2

Se tratando de uma DLC ou extensão do jogo principal, os quesitos técnicos são praticamente os mesmos da campanha principal. Obviamente, com as diferenças de cenário, ambiente e trilha sonora.

Os gráficos mantém o mesmo nível de detalhamento magnífico (principalmente no PC), trazendo quase que uma versão ‘remasterizada’ de Rapture. Foi um colírio e um orgulho imenso ver aquela cidade icônica de uma maneira limpa, linda e tão bem retradada quanto em Burial At Sea. Todas as instalações e lugares respeitaram as do primeiro jogo e, por se tratar a época antes da guerra civil de Rapture, nós vemos todos os cenários antes de serem destruídos. É realmente lindo.

As músicas ficam se destacam mais ainda. Os compositores se inspiraram e trouxeram músicas mais bonitas e interessantes ainda (principalmente no episódio dois) que compõe o clima vintage de Rapture. Os efeitos sonoros, dublagem e tudo mais permaneceu com a mesma qualidade sonora da campanha principal e é só agrados. Principalmente o rugido dos Big Daddies que trazem aquele ar de nostalgia.

A inteligência artifical dos Splicers e inimigos mais pesados (aqui temos uma versão dos Houdini Splicers mesclado com o Fireman de Infinite, fazendo um inimigo que joga bolas de fogo e se teletransporta) segue de maneira muito bem e não encontrei nenhum tipo de bug que prejudicasse a imersão ou jogatina como um todo. Tudo dentro de seus conformes. O sistema de alerta dos inimigos no episódio dois também funciona muito bem e não tem aquele clássico “me viu do nada ou a milhões de km de distância”.

Conclusão

A conclusão nessa parte da análise fica até meio óbvio do que irei escrever aqui. E não tem escapatória: se você gostou de Bioshock Infinite, jogou e amou Bioshock 1, Burial At Sea Episódio 1 e 2 é mais que uma compra certa, é obrigatória. O encerramento da história de Elizabeth e Booker nessa versão da cidade submarina é de cair o queixo da boca com tamanha criatividade para o enredo e o encaixe perfeito, em todos os detalhes e até complementando-os, do primeiro Bioshock. Esses DLCs foram um belíssimo presente de despedida da Irrational Games e de Ken Levine para todos os fãs, fechando com chave de ouro a experiência Bioshock Infinite.

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