Com remake em produção, The Stanley Parable completa dez anos de lançamento

Lançado em 31 de julho de 2011, o game The Stanley Parable completou exatos dez anos de seu lançamento há cerca de duas semanas atrás.

Assim como Counter-Strike, Garry’s Mod e Cry of Fear, The Stanley Parable foi publicado originalmente como um mod gratuito para o jogo Half-Life 2. Somente em 2013 foi lançada uma nova versão, a mais conhecida atualmente.

Na época de seu lançamento, o game surpreendeu pela sua narrativa única e pelas inúmeras possibilidades que oferece. “É um jogo inteligente e instigante que deve ser experimentado por todos e que será referenciado por muito tempo”, diz o review da Game Revolution.

No nosso país, a história não foi diferente. Aclamado pelo público e pela crítica, gameplays em português do jogo geravam milhões de visualizações em diversos canais brasileiros. A playlist do canal Coisa de Nerd, por exemplo, conta com cerca de 8,8 milhões de views, somando todos os vídeos.

Grande parte desse sucesso veio – além do roteiro original e possibilidade de escolhas – da ótima tradução e legendagem do game para a língua portuguesa, realizada pelo brasileiro Nicholas de Lucca.

The Stanley Parable na nossa língua

Desde criança, Nicholas tinha o desejo de trabalhar com desenvolvimento de jogos. Durante sua adolescência, começou a realizar trabalhos de tradução para jogos com o Steam Translation Server (serviço de traduções do Steam realizadas em sua maioria por voluntários).

Porém, sua primeira experiência como tradutor único de um jogo foi com The Stanley Parable. Isso se deu pois Nicholas já era um admirador do game quando entrou em contato com Davey Wreden, o criador do jogo.

Eu já era um grande fã do jogo quando ainda era somente um mod gratuito. Gostei tanto do jogo, que o mostrei para grande parte de meus amigos e familiares, exceto para aqueles que não entendiam inglês”. E foi nesse instante que ele percebeu a oportunidade de contribuir para a popularização do jogo no nosso país.

Entrei em contato com o Davey Wreden informando que já possuía experiência com tradução de jogos e que me disponibilizaria para realizar a tradução do jogo de maneira gratuita, para que mais pessoas pudessem aproveitar a experiência oferecida pelo mesmo”.

E a resposta veio: “Ele me agradeceu e informou que estava desenvolvendo uma nova versão do jogo e que, se eu tivesse interesse, ele entraria em contato comigo quando o roteiro estivesse pronto para tradução. Como é de se esperar, eu aceitei prontamente”.

Nicholas diz, em entrevista ao Jogazera, que em um jogo predominantemente narrativo, entender cada instante do game é fundamental. “Fiz questão de passar por todos os finais antes de começar a tradução, para entender melhor o contexto da narração”, afirma.

Este contexto, segundo De Lucca, é muito importante para o resultado geral de uma obra. “Por se tratar de um jogo baseado muito em diálogo, um dos pontos em que tive que tomar mais cuidado foi em prestar muita atenção quando um diálogo fazia referência a algum outro. Se a tradução não fosse consistente, a referência poderia passar despercebida pelo jogador”.

Alguns problemas na tradução, segundo Nicholas, não tiveram tempo de serem corrigidos para o lançamento da versão final do jogo. “Percebi alguns erros de digitação que deixei passar, mas só depois do prazo de poder alterá-los ter expirado. São coisas que vejo que se atribuem ao nível de experiência que tinha na época”, diz o tradutor.

Nicholas contou qual seu momento preferido do game: “Um caminho do jogo que eu mais me diverti, tanto como jogador como quanto tradutor, foi o caminho da linha. O humor utilizado nesta parte ressoou muito bem com o meu”.

Deixamos para ele próprio contar como foi sua experiência com a tradução do jogo: “Foi bem puxado, mas extremamente gratificante. Na época ainda era estudante universitário, então um dos maiores desafios foi tentar equilibrar os estudos e a tradução do jogo em um tempo relativamente curto”, conclui.

Nicholas continua no ramo do desenvolvimento de jogos e hoje tem seu próprio estúdio, a Mayor Games. A empresa, localizada em Curitiba, é responsável pelo desenvolvimento de Chuvitiba (2015) e Inki (2016). Confira mais detalhes sobre a produtora independente pelo seu site oficial.

Stanley em outras mídias

A mescla entre o estilo narrativo jogo e a vida real é um grande trunfo de A Parábola de Stanley.
(Imagem: Reprodução/Estúdio Unesp)

O encanto pela novidade trazida pelo jogo foi tão catártico que influenciou diversas obras de outros gêneros e estilos em todo o mundo. Em uma busca rápida no YouTube, podemos observar ao menos nove curtas-metragens inspiradas no distinto estilo narrativo do game.

Dentre elas, se destaca uma produção nacional: “A Parábola de Stanley”, um curta-metragem produzido em 2017 por alunos do curso de Rádio e TV da Unesp de Bauru.

Em entrevista ao Jogazera, a diretora do curta, Rosa Rubim, diz que sempre esteve rodeada por games. “Eu acompanhei PlayStation 1, PlayStation 2, PlayStation 3, jogos para PC, porque meu irmão jogava muito”, e isso influenciou na produção do curta.

O trabalho, produzido para uma disciplina para a faculdade, exigia que fosse uma adaptação de alguma obra. “Pensamos em adaptar um game por ser um tema pouco explorado na universidade e por permitir um orçamento mais baixo”, conta o roteirista Bruno Almeida.

Por seu estilo de narrativa que se encaixa em vários cenários, The Stanley Parable foi o jogo escolhido para essa adaptação audiovisual. “Esse formato de jogo é muito mais fácil de ser adaptado do que outros games, por dar muito espaço para mudanças no roteiro”, diz Rosa.

Com um texto fortemente baseado no jogo, a obra conta a história de Stanley, um garoto comum que trabalha em uma locadora e tem sua rotina quebrada ao perceber que um narrador externo está determinando suas ações.

A semelhança do Stanley do curta com o Stanley do jogo é essa tentativa de persuasão por parte do narrador, e seus esforços para tomar suas próprias decisões“, diz Bruno Almeida, roteirista da obra.

O começo foi muito complexo”, complementa Bruno. “É um game com vários finais, não sabíamos como adaptar para uma obra audiovisual que só pode ter um único desfecho. Por isso, criamos uma narrativa cujo final permite perceber várias coisas que não haviam sido percebidas antes”.

Como a desenvolvedora disponibiliza gratuitamente a original soundtrack do jogo, os alunos se valeram desta possibilidade para incluir no curta a trilha sonora utilizada dentro do game. Após seu lançamento oficial, o curta foi premiado em festivais de cinema, como o Loco de Ouro.

Confira o curta na íntegra pelo link (a partir da minutagem 26:30):

O novo jogo

Possível logotipo do novo jogo. (Imagem: Reprodução/The Stanley Parable)

O novo jogo, denominado “The Stanley Parable: Ultra Deluxe”, será uma edição expandida do clássico cult, adicionando novas experiências e até novos finais para o jogo. Ainda não se tem muitas informações sobre ele, mas sabe-se que o game poderá ser jogado tanto no PC quanto nos consoles.

Seu lançamento estava originalmente previsto para a metade de 2020, mas a pandemia da covid-19 obrigou seu atraso para 2021. Bom para nós, que teremos uma nova versão do jogo para comemorar os seus dez anos de inovação na estrutura narrativa na indústria dos videogames.