Análise: Bohemiam Killing faz você provar sua inocência sendo culpado

Desenvolvido pelo The Moonwalls e publicado pela IQ Publishing, Bohemiam Killing é um jogo de simulação (walking simulator) onde você é um assassino e precisa convencer o juri de que é inocente. O que intriga na história é o fato de você ser o assassino, então o desafio do jogo é mostrar a sua habilidade de convencer o juri e sair inocente da parada.

A trama

Você começa o jogo na cena do crime, em Paris, no ano de 1894. O fato de ter que matar alguém só porque é parte da trama me deixou meio abalada, mas isso rola em muitos jogos. Enfim, matei a moça sem entender o que tava rolando.

Um ano depois, estou num tribunal, conto com um advogado que só reforça minha visão dos fatos. Ali começa o jogo de verdade, conversando com o juri e, basicamente, metendo o louco, pois você, jogador, também não sabe o que rolou.

Depois da sessão no tribunal, você aparece nas ruas de Paris, revivendo os momentos antes do crime. Desta forma, você pode montar a sua narrativa e levar a trama até a próxima sessão no tribunal. O importante é explorar bem o cenário e as possibilidades. Com o tempo, você percebe que não é apenas o que você fala ou conta que fez que vale. Existem possíveis testemunhas e pistas que a polícia tem.

Existem oito finais possíveis e cada um depende de como você se comporta na história. Eu consegui a proeza de ter o final mais curto, que é fazer tudo errado e, claro, ser condenado. Depois, na segunda tentativa, eu já estava mais esperta e consegui outro final possível (sem spoilers).

O Gameplay

Bohemiam Killing se trata de um walking simulator com algumas partes de história, texto e animação. Você pode escolher entre diferentes repostas para dar ao juri, mas é importante prestar atenção na correlação entre a simulação e o que você fala no tribunal. Não existe muita ação, mas o clima de suspense ajuda a dar aquela pressa para resolver logo o trecho do jogo em que você se encontra.

Muito simples na teoria, mas na prática, um pouco confuso. O fato de ter muito texto acaba deixando a experiência cansativa. Você passa muito tempo ouvindo e respondendo no tribunal, o que combina muito com a ideia do jogo, mas o sotaque falso de francês dos dubladores e a duração de cada sessão no tribunal acabam passando demais da conta. Poderia ser mais objetivo, na minha opinião.

Claro, para quem curte walking simulators, o jogo será bem familiar e, com certeza, será uma forma de entretenimento bem interessante.

Pontos Positivos

Entre as partes do jogo que mais me cativaram estava a complexidade da história. Porque pega em diversas questões morais e você tem que tomar decisões levando em conta que você sabe que seu personagem é o assassino e que você não tem ideia do porquê ele fez o que fez.

Essa provocação é legal, faz com que você questione diversas ideias e seu caráter como jogador e como pessoa. Mais do que andar por Paris, o jogo mostra um personagem pertubador, com diversas falhas de caráter.

Além disso, o jogo mostra que quem decide no tribunal também é uma pessoa e também está suscetível a falhas. Imagine, no século XIX o que vale é uma palavra contra a outra. Algumas evidências, claro, mas não há tecnologia, então, o que vale, mesmo, é o que você fala e como você constrói a sua narrativa.

Pontos Negativos

Mesmo entendendo as nuances do personagem, ainda se trata de um homem matando uma mulher indefesa. Me incomodou muito essa introdução. Eu já queria meter o cara na cadeia de cara, e foi que acabei fazendo, instintivamente.

Além disso, como falei antes, o sotaque francês de mentira me deixou com uma sensação de mal feito. Me irritou. Eu entendo que queiram ilustrar a sociedade parisiense de 1894, mas acho que isso poderia ter sido feito de formas mais interessantes.

Primeiro, melhorando os gráficos e a sensação de andar por Paris. Esse jogo deveria dar prazer só por proporcionar que o jogador caminhe por Paris do século XIX. Mas o que temos são gráficos com cara de 2010, só que em 2016 (quando o jogo foi lançado).

Também seria interessante se aprofundar na diferença entre classes sociais, que moldava a sociedade daquela época. Por mais que isso apareça no jogo, acho que acaba ficando pouco destacado. Assim como o posicionamento do meu personagem perante a isso.

Por mais que eu seja o personagem e que eu tenha como refazer meus passos, eu não consigo entender bem quem é esse homem. E essa sensação não passou, mesmo jogando por horas.

Conclusão

Conheci os desenvolvedores e eles tem consciência de que o jogo é bem complexo e difícil de categorizar. Eu não diria que é um jogo ótimo e nem que é um jogo péssimo. Eu diria que é um jogo interessante, com diversas falhas, mas com uma boa história e desafios relevantes.

Num mundo onde os pequenos desenvolvedores estão batalhando para ter seus projetos lançados, acho importante valorizar e dar espaço a jogos como o Bohemiam Killing.

Estamos falando de um jogo polonês que ainda não tem versão em português e contou com diversos desafios em seu desenvolvimento. Vale dar uma chance!

O jogo está disponível no Steam! Mais informações, entre no site deles (em inglês).