Análise: PlayerUnknown’s Battlegrounds era a novela que tinha tudo para dar errado

Muitos ficaram perplexos ao ver que o hit megalomaníaco conhecido como PUBG estava concorrendo ao oscars dos videogames no The Game Awards como jogo do ano. Lançado em março no Steam no programa de early access, o muitas vezes infame battle royale tinha tudo para dar errado. “Como um jogo em early access concorre a jogo do ano?” eram um dos parafraseamentos que eu mais via na internet na semana da premiação.

Entretanto, PUBG apela para algo que nenhum outro jogo atualmente parece tentar. É como se fosse aquele almoço padrão da casa na sua vó. Aquele arroz soltinho, feijão com um belíssimo caldo, uma saladinha de tomate com alface e cebola temperada, e aquele bife por cima. Você sabe, não é nenhuma macarronada de um restaurante gourmet do centro de São Paulo ou aquele pavêzão das festas de final de ano. É o arroz e feijão: todo mundo come, mas não é exatamente a comida favorita de alguém.

É gostoso boa parte do tempo, mas com o tempo começa a apresentar uns problemas. O mesmo arroz, o mesmo feijão: será que não tem uma mistura diferente? Parece que nem um frango assado parece remexer na fórmula. O arroz não fica tão mais soltinho, o caldo do feijão fica muito ralo, mas você continua lá, comendo. Tá ok, é o que tem pra janta.

Levando isso em consideração, por qual motivo PUBG disparou como o fenômeno mais jogado da Steam, quebrando todos os recordes que o Guinness precisaria fazer uma seção só para o jogo? Fico feliz por ter perguntado! Vamos discutir mais um pouco sobre o assunto nos tópicos abaixo.

Mecânicas simples, planejamento complexo

Ao cair no campo de batalha de Battlegrounds, o jogo se passa como um third (ou first, dependendo do modo) person shooter como qualquer outro. É intuitivo, você sente como se já tivesse jogado aquilo antes. Ao descer do avião, as coisas começam a se complicar um pouco mais: onde eu desço? quais equipamentos devo pegar? por que eu morri nos 30 segundos de partida?

São todas questões válidas, principalmente quando outros 99 jogadores estão se matando para ser o último vivo dentro de uma área mortal que vai se fechando. Seu personagem desce no mapa similar ao ato de nascer: pelado, perdido e com medo. Desarmado, a primeira tarefa do jogador é encontrar uma arma e equipamentos de proteção desesperadamente — você nunca sabe quem vai estar na casa do lado, se a pessoa já está armada e se você vai conseguir sair vivo dali.

E basicamente é essa a experiência das primeiras partidas. Ao jogar mais, se familiarizar com o mapa e os pontos de loot mais interessantes, o jogo deixa de ser uma espécie de survival horror e vira um shooter tático. Ao se planejar melhor dentro da área que você está, as chances de sobrevivência são muito melhores. Em PUBG, nunca esquecemos nossa primeira kill (a não ser, claro, se você for um dos proplayers que mata 1/3 do servidor na partida).

Mesmo se acostumando com o jogo e tendo centenas de horas acumuladas, PUBG nunca te deixa esquecer daquele sentimento de tomar uma bala perdida no meio do mapa. O derrame de adrenalina é constante e nunca se sabe o que vai acontecer nos próximos minutos, inerentemente ao quão bem você joga. O elemento surpresa que o jogo carrega (por serem jogadores reais) é sempre constante. E é isso que fez o game brilhar e consequentemente explodir. Mas nem tudo são flores, né?

Os mesmos sérios problemas

Um dos principais estigmas de PUBG desde seu lançamento no começo do ano é unânime: sua performance terrível. No lançamento, nem mesmo um PC quântico conseguia rodar o jogo numa qualidade descente com uma boa taxa de quadros. Parecia o antigo bordão de 2007: “mas seu computador roda Crysis?” e 10 anos depois, reformulamos para “mas seu computador roda PUBG no médio com 60 fps?”

Patches e mais patches depois, consertos ali e remendos daqui, lançamento oficial e tudo mais o que você pensar, cá estamos. O jogo está otimizado? Não. Roda bem na maior parte dos computadores? Nope. E mesmo assim está anos-luz melhor do que no lançamento. Mesmo não sendo ideal, já acostumei minhas vistas ao visual de baixo orçamento, também conhecido como very low.

O novo mapa, Miramar, consegue apresentar uma performance consideravelmente melhor que seu antecessor, talvez por conta da falta de vegetação e grama, talvez pela melhor experiência dos desenvolvedores com o primeiro mapa. Essa questão vai melhorar no futuro? Com certeza. Entretanto, se seu computador for muito de entrada, prepare-se para um gameplay sub-60 fps, stuttering constante e outros probleminhas de performance.

Essa vai ser a primeira análise sem nota do site. PUBG não é um jogo quantificável e tem um apelo bastante diferente de outros jogos lançados nos últimos anos. Embora se encaixe no “ame ou odeie”, há uma área cinza no meio onde é possível gostar — lentamente — do jogo.

Battlegrounds foi uma das experiências mais estranhas esse ano, e tinha tudo para dar errado. Com a ajuda de streamers e Youtube, PUBG conseguiu se consagrar nas massas, tanto pelo seu conceito quanto pela sua simplicidade de adentrar nesse mundo battle royale que pode se tornar um ótimo shooter estratégico.