Na era dos immersive sims — gênero que se popularizou no final dos anos 90 em jogos como Deus Ex e System Shock — a expressão do jogador foi priorizada ao ponto de todo o jogo girar no pivô central da experiência. O fator gameplay era o imperante: o modo como você joga dita a narrativa e outras mecânicas provenientes desses sistemas interativos. Afinal, a liberdade de jogar como quiser era um golpe de ar fresco em meio a tanta coisa manjada na época.
Dishonored nasceu dessa filosofia, trazendo consigo outro emaranhado de novos jogos dentro desse padrão. Executar as missões como você quiser e encarar as consequências de suas escolhas eram algo intrínseco ao gameplay. Assumindo a posição de um assassino com poderes sobrenaturais, a fórmula do sucesso estava apenas crescendo: Prey e Dishonored 2, ambos da Arkane Studios, seguiram firme e forte dentro dessa mecânica, sendo jogos verdadeiramente brilhantes em seus próprios termos.
Ficaria no ar como o estúdio conseguiria fazer o mesmo feito novamente. Para a surpresa (ou não) de muitos, Death of the Outsider segue a linha e se arrisca até um pouco mais. Mesmo com alguns pequenos tropeços no final, temos um jogo extremamente sólido.
Quando o vazio te olha de volta
Uma surpresa que me agradou bastante foi a protagonista que controlamos. Billie Lurk, ex-aliada do outro assassino sobrenatural chamado Daud, possui um objetivo em comum com seu antigo companheiro, após tantos anos separados: matar o Outsider. Um ser místico onipresente que habita uma realidade paralela, agindo como espectador do caos — uma visita do Outsider pode mudar para sempre a vida da pessoa, lhe concedendo poderes como aconteceu com Corvo, Emily e Daud.
O plano para matar essa entidade tem sua motivação principal numa espécie de redenção. É preciso por um fim às atrocidades cometidas por ele ao transformar as pessoas em assassinos e acabar com a ruína que se transformou a vida de Daud ao aceitar o presente do Outsider. Billie o ajudará nessa empreitada, buscando pela mesma libertação que seu mentor procura, mesmo após traí-lo anos atrás.
Entretanto, a missão não será fácil: para matar um deus, será necessário adentrar ao mundo dele e tirar sua vida da mesma forma como ele foi criado. Outsider tenta persuadir Billie, lhe dando um arsenal de novos poderes. Estes mesmos poderes que, paradoxalmente, irão ajudar Lurk a executar sua tarefa.
A trama é bem construída e recheada de revelações e segredos que embasam a história do próprio Outsider e sua criação, desmistificando vários rumores sobre quem ele realmente é e de onde surgiu. Embora seja uma campanha curta e pro final do jogo as coisas deem uma singela tropeçada (no meu ponto de vista), a experiência nunca deixa de cumprir seu papel ao entregar uma narrativa interessante com uma atuação excelente e momentos de tensão.
Novos poderes e possibilidades
Death of the Outsider ainda é Dishonored. Portanto, espere as mesmas mecânicas dos outros jogos da série: furtividade, poderes sobrenaturais e muita cabeça rolando (ou não, dependendo do seu estilo de jogo). Mesmo sendo poucos, Billie é equipada com um novo set de poderes que, tirando o clássico teletransporte, são ligeiramente novos e acrescentam um novo leque de abordagens e possibilidades na jogatina.
Sua ‘mana’ agora regenera automaticamente, deixando o uso de poderes com muito mais liberdade — me fazendo desejar que os jogos anteriores também seguissem essa mesma prática. Cada missão oferece variadas oportunidades de infiltração, com ações especiais a serem realizadas te garantindo uma vantagem maior ao executar seus objetivos.
O jogo agora conta também com um sistema de contratos: missões paralelas que te recompensam com dinheiro ou bonecharms. São tarefas simples mas requerem alguma estratégia para serem executadas. Por exemplo, em um contrato é pedido para forjar a morte de um mímico de rua de modo que pareça um suicídio. E, como era de se esperar, ele está no meio da rua, rodeado por algumas pessoas. Como realizar tal feito, preferencialmente, sem ser visto? Habilidade, eu diria.
…
Dishonored: Death of the Outsider é familiar mas não ao ponto de ser repetitivo; traz uma inovação em seu protagonismo e em algumas mecânicas do jogo. É curto sem ser insuficiente, sendo capaz de demonstrar todo seu potencial em algumas missões que podem demorar quase algumas horas para serem feitas dependendo do seu grau de exploração e compromisso.
A nova prática da Bethesda de vender expansões standalones — que não necessitam do jogo base — tem me atraído, pelo menos enquanto os produtos forem de qualidade. Felizmente, não fui decepcionado.
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A análise foi realizada com base na versão de PC cedida pela distribuidora. Dishonored: Death of the Outsider está disponível para PS4, Xbox One e PC.
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