O que achamos do beta de Ghost Recon: Wildlands

Participamos do beta fechado Ghost Recon: Wildlands que ocorreu de 3 a 6 de fevereiro e pudemos testar bastante o próximo grande lançamento da Ubisoft, mas infelizmente a experiência não foi muito agradável.

Veja abaixo o que eu e o Mateus achamos do jogo:

[divider]Mateus Alexandre[/divider]

Eu tenho a vaga impressão de que toda vez que algum desenvolvedor de jogo blockbuster enfatiza o tamanho do mundo de seu jogo (principalmente usando a frase “a massive open world” quase poeticamente), as chances de algo dar errado são bem altas. E foi nesse quesito que a Ubisoft, a atual rainha dos jogos de mundo aberto, errou e muito – e eu achando que as lições seriam aprendidas em 2017. Creio que nem todas.

O beta de Wildlands veio com um caldeirão de fórmulas de jogos já conhecidos da Ubisoft: aqui, se reúnem quase todos os elementos que conhecemos de jogos como Far Cry e Assassin’s Creed a Splinter Cell e, obviamente, da série Ghost Recon. No beta, pudemos explorar apenas uma região da gigantesca área que o jogo oferecerá – e sem exageros, essa única área seria espaço o suficiente para o jogo completo sem problema algum. A aposta aqui está no macro e, infelizmente, isso pode ter acarretado em mais problemas do que virtudes.

O jogo é um revival dos thrillers de grupos especiais de operações táticas em terras bolivianas. Nele, você é o comandante de um esquadrão apelidado de Ghostsque realiza missões em função de deter um dos maiores cartéis de drogas do planeta. Pelo que foi oferecido no beta, o jogo tem um ótimo potencial para desenvolver uma narrativa interessante, dando-nos a possibilidade de executar um punhado de missões da história para derrubar dois chefões do cartel Santa Blanca.

Porém, como muita coisa não pôde ser absorvida da história, vamos ao conteúdo que se mostrou mais latente: o gameplay.

A falta de atenção aos detalhes

Ghost Recon é um jogo com enfoque no stealth. Embora a Ubisoft tente desviar o caminho ou inventar uma moda nesse meio termo, a furtividade ainda é o elemento-chave ao encarar as missões de Wildlands. Levando isso em consideração, há de se comparar com outros jogos com esse mesmo enfoque, e quando digo isso, Metal Gear Solid V: The Phantom Pain é o primeiro jogo que me vem à mente.

Em MGS V, o mundo aberto foi pensado com o variado leque de possibilidades de abordagem, sendo possível criar e variar táticas de diversas formas para executar determinada missão – quem jogou sabe como funciona, principalmente no que diz respeito à atenção aos detalhes. O jogo de Kojima impressiona não só pelo gameplay refinado, mas pela atenção às pequenas coisas que melhoram sua qualidade de vida e corroboram na dinâmica do mundo.

No mundo de Wildlands, senti que vários desses detalhes foram deixados para trás. Não é possível carregar corpos de inimigos neutralizados e a inteligência artificial é extremamente limitada e superficial no que tange à investigação de barulhos e fenômenos incomuns. Também me senti limitado nas formas de realizar cada missão: embora seu personagem porte duas armas pesadas, uma pistola, binóculos, um drone, granada, mina, óculos de visão noturna e temperatura, nada me restava senão executar a mesma sequência toda vez que encontrava um posto vigiado ou a área da missão a ser realizada.

A movimentação do personagem e como a câmera se coordena me causou certo desconforto também – não há suavidade nos movimentos e tudo acontece de maneira robótica ou travada. Embora leve um certo tempo para se acostumar, é possível pegar o jeito depois de algumas horas se atrapalhando ou errando tiros óbvios.

Duvido muito que haja melhorias significativas para o lançamento final. O que me transpareceu, em Wildlands, foi que suas mecânicas – provenientes de vários outros jogos da Ubisoft – não conversam entre si, culminando no que foi apresentado no beta fechado: [highlight]um monstro de Frankenstein[/highlight]. Sendo sincero, esperava muito mais, visto as grandes turbulências e críticas sofridas pela empresa nos últimos anos. Pelo menos para mim, que joguei sozinho, Tom Clancy’s Ghost Recon: Wildlands me pareceu ter muito mais tropeços do que acertos.

[divider]Felipe Spengler[/divider]

Já faz algum tempo que tenho torcido o nariz toda vez que um jogo utiliza o termo open world como algo incrível. Pessoalmente, acredito que o conceito já está batido e há poucos jogos que de fato fizeram bom uso dele. De modo geral, me parece uma forma de esconder a falta de criatividade para desenvolver uma história bem desenvolvida e envolvente, aí se joga um monte de missões aleatórias em um grande mapa, se chama algumas de “campanha principal”, e é isso. E, infelizmente, para mim Ghost Recon: Wildlands é isso.

De qualquer forma, como o Mateus já falou bastante sobre isso acima, quero ser um pouco mais específico nos problemas que encontrei.

Gráficos e Performance

Como todo bom PC gamer, quando vou testar um jogo novo, sempre gasto uns bons minutos nas opções gráficas. Com minha configuração (GTX 980TI + monitor 1440p), foi possível deixar o jogo com a maioria dos controles em HIGH e permanecer acima dos 60 fps na maioria do tempo. Mas infelizmente, Wildlands não tem nada de espetacular.

Se compararmos com outros blockbusters recentes, podemos dizer que The Division, o último Tomb Raider e até mesmo Far Cry Primal entregam gráficos e desempenho muito melhores. Além das quedas de até 20/25 fps ao entrar em algumas áreas (o que pode ser melhorado até o lançamento, obviamente), há algumas texturas bem estranhas no jogo, a exemplo do efeito de “lama” nos pneus dos veículos e as barbas dos personagens, que ficaram MUITO longe do que é mostrado nos materiais publicitários.

Tá mais pra um pedaço de bombril do que uma barba, não?

Controles / Câmera

Se para o Mateus, que jogou no PS4, a movimentação dos personagens e da câmera incomodou, vocês já devem imaginar o quão ruim é no PC, onde o movimento do mouse só intensifica esse tipo de problema. Mesmo com g-sync/v-sync ativado, o jogo não responde bem e em alguns momento atrapalha bastante a experiência e a diversão.

A movimentação do personagem é no máximo “ok”, mas há um comportamento bem estranho logo após interagir com algum objeto (baús de munição e outras coisas): parece que o personagem fica “preso” no objeto por alguns segundos e os controles não respondem imediatamente, ele sempre sai andando meio “de lado”.

Mas o pior de tudo são os veículos. Galera, sério, tenham um controle/joystick ligado no PC a todo momento, pois a experiência de controlar alguns veículos com o teclado é ruim demais, e o avião é uma piada de mal gosto.

O único que acaba sendo mais divertido é o helicóptero, mas mesmo este possui um comportamento estranho: se você acelera demais ele SEMPRE começa a descer; não é possível acelerar e compensar a altura ao mesmo tempo. Horrível.

Gameplay / AI

Olha, não consegui entender direito qual o propósito da Ubisoft aqui, pois em alguns momentos fica parecendo que gostariam que o game fosse um GTA ou Just Cause, mas não tiveram coragem suficiente.

Por exemplo, é possível desencanar totalmente do estilo stealth e entrar no que eu chamo de Modo Rambo, executando as missões a bordo de um carro ou com o helicóptero que simplesmente torna tudo ridiculamente fácil (sério, é só não vacilar e dirigir, seu esquadrão se torna uma máquina assassina). Mas em outros momentos, se você por acaso matar 2 ou 3 civis sem querer, o jogo te “reseta”  para fora da área da missão – o que ficou bem confuso em um jogo desse estilo.

E por falar do seu esquadrão, a AI em Wildlands é de chorar pelas diferenças gritantes dependendo de como se está jogando. Quando não se opta pelo “modo Rambo”, seu esquadrão passa de máquina assassina para um bando de inúteis (a menos que você sempre use o tiro sincronizado). Além disso, os inimigos sempre sabem onde você está e algumas bases possuem “reforços infinitos” se você demorar muito para matar todo mundo.

Mas definitivamente o PIOR de tudo é que no modo stealth seu esquadrão é literalmente invisível para os inimigos. Uma hora ordenei para que eles entrassem em uma casa com um inimigo bem na escada e NADA aconteceu. Ficaram os 4 ali, como se fossem bons amigos trocando ideia – até eu entrar na casa e todo mundo começar a gritar “what is this cabron!!!” e começar o tiroteio! É de chorar!

Sinceramente, a única coisa divertida do gameplay são as utilizações dos drones (chega a escorrer uma lágrima de pensar como isso teria sido foda em The Division). De resto, é lamentável como parece que foi tudo finalizado de qualquer jeito.

Mas e aí, vale a pena?

Olha, como opinião é sempre algo subjetivo, pode ser que para algumas pessoas esses pontos não atrapalhem tanto, mas para mim sinceramente não vale a pena – o que é uma pena, pois eu estava torcendo para ser um bom jogo.

Como o lançamento está próximo, dificilmente muita coisa vá mudar, então sinto que a Ubisoft deu um passo para trás em vários aspectos se compararmos com seus últimos lançamentos, algo difícil de entender.

Fico com a impressão de que talvez em algum momento nestes 4 anos de desenvolvimento Ghost Recon: Wildlands perdeu o rumo e o time simplesmente entrou no modo “ok, vamos terminar isso logo”, pois parece um jogo mal finalizado que demorou demais para sair, e o que era para ser novidade agora já é figurinha marcada (open world, estou olhando para você).

No final da jogatina, em vez de querer voltar ao jogo, fiquei com vontade de jogar um pouco de GTA ou The Division :/

Ghost Recon: Wildlands será lançado em 7 de março para PC, PlayStation 4 e Xbox One, e um open beta deve ocorrer ainda em Fevereiro.