Qualidade vs. investimento: a terceirização barata nos games

Sim, remasterizações, jogos cross-gen e ports estão ficando exagerados, mas já falamos demais disso. Todavia se tem algo que é um problema já há algum tempo e pouco se comenta, é o processo de desenvolvimento desses jogos.

Podemos usar como exemplo Ultra Street Fighter IV para PS4. O game foi (re)lançado nesta semana e conta com problemas terríveis, como você pode ver aqui, aqui e aqui. E também abaixo:

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“Press Start”. No PS4. Vocês ao menos tentaram levar esse trabalho a sério?

“Mas qual foi a ‘treta’?”

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Caso você não saiba, a Capcom e a Sony estão com uma parceria de exclusividade da franquia Street Fighter, o que rendeu ao PS4 esse port de USFIV e um futuro Street Fighter V. Como a Capcom está com as mãos na massa na próxima iteração de sua franquia de luta — que não chegará tão cedo —, a divisão da Sony responsável por lidar com outsourcing (ou terceirização) tomou uma decisão um tanto quanto infeliz: terceirização barata. Não há problema algum em terceirizar algum lançamento menor — a maioria das remasterizações só aconteceram por conta dessa prática, aliás. O problema é que esse mercado de ports e remasterizações está praticamente — com o perdão da palavra — prostituído.

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Com o PS4 liderando a venda de consoles da nova geração, e esta sedenta por novos jogos, já pudemos observar que quaisquer lançamentos acima da média vendem bem. E provavelmente foi isso que a Sony pensou ao contratar a Other Ocean, desenvolvedora que fez esse trabalho medíocre com Ultra Street Fighter IV no PS4. Os problemas vão além do que foi visto nos vídeos: jogadores estão relatando problemas de frame lag, uma anomalia que dificulta a realização de especiais e combos, assim destruindo a competitividade do jogo. A EVO 2015 já havia divulgado que essa seria a versão usada na edição deste ano do campeonato, mas voltou atrás, dizendo que se ela não for arrumada a tempo, a versão de Xbox 360 será utilizada.

E agora, quem culpar? 

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Todas as três, sinceramente. Como a Sony teve a indecência de contratar uma empresa qualquer para marcar a estreia de Street Fighter — seu novo exclusivo — no PS4? Por que a Capcom deixou isso passar? Como uma desenvolvedora consegue fazer um trabalho tão medíocre com um jogo tão otimizado e de uma geração atrás? Street Fighter IV está presente até no Nintendo 3DS, onde oferece uma experiência similar à vista nos consoles e não apresenta problemas técnicos agravantes como os vistos aqui.

A falta de importância dada à garantia de qualidade é incrível. Eu sei que estou me focando só neste caso, mas se você ainda não ouviu falar dos problemas de Halo: Master Chief Collection, Mortal Kombat X de PC, ou as versões de Shadow of Mordor para PS3 e Xbox 360, te convido a dar uma googlada rápida e se deparar com reclamações everywhere. E sim, todos eles são casos de terceirizações. Na verdade, Halo: MCC é um caso um pouco diferente, mas ainda é válido.

Sim, existem boas alternativas

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Existem boas empresas nesse ramo. A Hexadrive e a Bluepoint Games são ótimos exemplos, responsáveis por Okami HDque teoricamente, roda a 4K no PS3 (!) — e Metal Gear Solid HD, respectivamente. Ambos os lançamentos não sofreram de problemas e foram muito bem recebidos. Resultados como os vistos em Ultra Street Fighter IV são só um reflexo da ganância das desenvolvedoras em conseguir um lucro rápido e com pouco investimento, e sinceramente, essa prática nem me surpreende mais.

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Podemos concluir, portanto, que não há desculpas. Aparentemente, nesta geração temos que lidar com patches que não resolvem tudo em jogos problemáticos, DLCs e monetização exagerados, produtos inacabados e muitas outras coisas. Às vezes acho que esses são tempos meio masoquistas para ser um jogador.