Jogos muito realistas podem estragar a diversão?

Já li várias resenhas de jogos que eram comparados com a realidade. Seja no som, nos gráficos ou nas mecânicas de jogo, muitas vezes temos jogos preocupados em ser realistas ou passar uma experiência tão perto da real quanto possível para o jogador. A tecnologia com certeza vem facilitando isso, inclusive com a recente possibilidade de jogos em um ambiente de realidade virtual.

Aproximar um jogo da realidade pode ter muitos objetivos e vantagens. Um deles são os jogos usados como treinamento para diversas situações. O mais clássico e conhecido talvez seja o Flight Simulador, que pode ser a primeira vez de um piloto em um voo. Temos jogos para médicos, e recentemente, algumas autoescolas receberam simuladores de direção para treinar os futuros motoristas.

Mas e quando falamos de jogos para diversão? Será que realismo é algo fundamental para eles? Bom, essa primeira pergunta é fácil de responder. Basta analisar alguns jogos de hoje e de antigamente para sabermos que não. Skyrim, Zelda, Mario, Pokémon, entre tantos outros, não têm nenhuma intenção de serem realistas, e mesmo assim, são muito vendidos e elogiados. Ao contrário, a quebra do realismo pode ser um fator de sucesso para o jogo, como a série Just Cause ou Dead Rising.

Just Cause 3
Just Cause 3

Apesar disso, se pensamos em outros jogos, percebemos que o realismo é um componente fundamental da diversão para eles. Muitos jogos de corrida, como os da série Forza, usam este realismo para passar ao jogador a sensação de dirigir um carro, podendo usar as mesmas manobras e truques de um piloto, e sujeitos às mesmas mecânicas e leis da física. Em jogos de esportes, poder reproduzir as mesmas jogadas que seus ídolos fazem, ver todas as regras do jogo em uso, tal como possibilidade de usar estratégias, é um dos fatores que torna o jogo divertido.

Por mais que possa parecer que temos uma divisão em relação ao realismo em jogos, os dois exemplos mostram uma concordância. Não em relação ao realismo em si, mas em relação à diversão. Nos dois casos, se analisarmos bem, o grau de realismo é relativo ao tipo de diversão e experiência que se espera dar ao jogador. Se ele quer um jogo absurdo, onde explorar a quebra de realidade é divertido, é isso que ele recebe. Se ele deseja um jogo realista, que possa ser explorado de maneira similar ao mundo real, então o jogo será dessa maneira.

Assim, o realismo de um jogo não é o principal, mas sim seu estilo e a experiência que ele planeja proporcionar ao jogador. Em outras palavras, a diversão. Este acaba sendo o fator mais importante. O realismo simplesmente se adapta a ela. O contrário poderia ser catastrófico. Por exemplo, quem gostaria de viver as experiências da Segunda Guerra Mundial exatamente como eram? Ou passar pela situação real de um atentado terrorista, com pessoas desesperadas, mortos e feridos, parentes preocupados atrás de seus entes queridos? Mesmo quando as coisas dão errado nos jogos, eles geralmente não são tão brutais quanto seria a realidade, nem que seja pelo fato de sabermos que é apenas um jogo.

Rainbow Six Siege (7)
Rainbow Six Siege

E mesmo se estivermos falando de leis da física ou mecânica de jogo, o realismo pode não ser interessante em alguns casos. Segundo a teoria da relatividade, o tempo passa diferente em sistemas diferentes, o que inviabilizaria qualquer jogo de viagem espacial. Na maioria dos jogos de tiro, as balas são administradas individualmente para facilitar o controle do jogador, e não por pente.

Seria possível citar diversos outros casos onde um jogo foge do realismo, mesmo quando ele tenta se destacar por ser um jogo realista, a fim de não estragar a diversão. E em nenhum momento isso impede o jogo de ser legal, bem feito ou ainda atrair legiões de fãs. O que mostra que apesar de em certos pontos ou doses o realismo ajudar em um jogo, muito dele pode torná-lo chato. Afinal, muitas coisas que fazemos nos jogos não são nem de perto tão legais ou fáceis na vida real.

Ainda assim, muitas vezes vemos uma exigência por parte de jogadores de jogos cada vez mais realistas, tal como a sua valorização. O que leva a pergunta: será que não estamos perdendo diversão em nome deste realismo? Por exemplo, imagine um habitante do Peru, que deseja jogar com a sua seleção. Nós jogos modernos, ele terá um enorme trabalho para vencer um campeonato mundial, muito mais que um jogador brasileiro, argentino ou alemão. O realismo de representar cada jogador da seleção de seu país como ele é pode estar tirando a diversão destas pessoas. Por que não colocar um modo em que os jogadores fossem balanceados, além do modo realista?

Rockter(12)
Rocket League

Por que não um jogo de corrida estilo Mario Kart com carros reais? Com uma Ferrari que solta bombas de fumaça e uma BMW que deixa óleo na pista, por exemplo? E que tal um jogo de administração de cidades onde você precisasse resolver problemas como invasões de dinossauros, ataques alienígenas ou epidemia de unha encravada? Aliás, os primeiros jogos da série Sim City possuíam algumas catástrofes mais lúdicas.

Não que jogos realistas sejam ruins ou devam parar de serem produzidos. Mas por que caminhar sempre nesta direção, e não ir um pouco na outra também? Poderia ser uma maneira de criar novas franquias, explorar melhor o mercado, e diversificar as ofertas de jogos. Talvez fosse inclusive mais lucrativo do que lançar mais um jogo da mesma franquia, muito parecido com o anterior, tentando apenas colocar mais alguns detalhes e mudanças.

Da mesma maneira, vale o questionamento de até onde o realismo em jogos deve ir. Em quais pontos o realismo deixaria o jogo chato por complicá-lo demais, ou por deixar ele muito parecido com a vida real? Será que ao tornar um jogo mais realista, ele necessariamente fica mais legal? E com base nestas perguntas, até que ponto devemos valorizar e elogiar um jogo pelo seu realismo, e criticá-lo pela falta dele? Precisamos tomar cuidado para não passar uma ideia para os desenvolvedores que, se colocada em prática, nós não iremos gostar. O famoso “cuidado com o que deseja, pois pode se tornar realidade”.

E você? Tem alguma ideia ou algum estilo de jogo que gostaria de ver fugindo da tentativa de ser realista? Compartilhe sua ideia conosco nos comentários!
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Este artigo foi redigido por um de nossos colunistas esporádicos. Você também pode publicar um texto de sua autoria no Jogazera, basta clicar aqui e seguir as instruções. Boa sorte!

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