Como facas virtuais de R$1000 salvaram Counter-Strike

Em 2011, quando Counter-Strike: Global Offensive foi anunciado, a produtora Hidden Path carregava a responsabilidade de fazer a continuação de uma das franquias mais consagradas da história dos games. Claramente perdido com essa tarefa, o estúdio utilizava o recurso de jogar entre PC e consoles como algo de destaque, e até mesmo chegou a mostrar o jogo primeiramente no Xbox 360, revoltando a comunidade quase inteiramente PC gamer, que esperava um conteúdo melhor direcionado.

Porém, no último ano a empresa vem se mostrando extremamente competente e começou a tomar decisões muito mais coerentes com o estilo competitivo dos jogadores de CS. Certamente dá uma aula de como se catapulta um jogo fadado ao esquecimento para um dos principais nomes do eSport. Realmente, muita coisa mudou.

A final do último grande campeonato de CS:GO atraiu mais de 1 milhão de espectadores para a grande final e recolheu mais de 4 milhões de dólares em contribuições dos jogadores em itens relacionados ao torneio – é difícil acreditar, mas há dois anos, essa comunidade tão ativa e ascendente era quatorze vezes menor.

A grande pergunta é: o que a Hidden Path fez de tão certo?

A resposta completa (adição do modo competitivo, balanceamento de armas, mapas redesenhados, etc.) certamente interessaria apenas aos mais aplicados no jogo, então é mais interessante focar na decisão que trouxe (muito) mais dinheiro para a distribuidora Valve. O segredo da ascensão meteórica de CS tem nome: skins de armas.

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O item acima pode custar até R$320

Primeiramente, o que são skins e o que elas fazem? Skins são customizações visuais para as armas disponíveis no jogo e elas não fazem absolutamente nada além de satisfazer o ego de seu dono e ser um símbolo do quão dedicado aquele jogador é. Pense em skins como chuteiras de jogadores de futebol, muitas vezes o modelo mais caro não é mais eficiente, é simplesmente mais bonito.

É possível obter skins mais baratas e modestas simplesmente jogando e torcendo para que ao final da partida, a sorte lhe beneficie. Para itens mais caros, inicialmente era possível apenas consegui-los através da abertura de caixas de itens aleatórios (que custam até R$30,00) ou comprando-os de quem teve sorte nas caixas – as skins mais caras são as de facas, podem custar até R$1.600,00 e o YouTube está repleto de vídeos mostrando as reações de quem consegue tais itens, como mostrado abaixo.

A partir disso, inúmeras outras formas apareceram de se conseguir skins, como apostar dinheiro real em partidas de times profissionais, que ocorrem diariamente em diversos torneios que se concentram principalmente na América do Norte e Europa.

Para quem realmente se dedica ao jogo, a posse de skins é uma questão de status e vaidade, mas não deixa de ser importante – jogadores de habilidade rara merecem armas raras também, certo? Em uma parte considerável do tempo em partidas competitivas, o jogador apenas assiste seus parceiros jogarem, e é difícil não babar em um item caríssimo brilhando na tela.

Após a introdução das skins, pegar a arma do seu oponente ganhou um novo significado: tornou-se um troféu visual.

A Valve se dedicou ainda mais e colocou diversos itens como medalhas e conquistas que só podem ser obtidos jogando um certo número de horas ou apostando em times profissionais nas épocas de grandes campeonatos. No último torneio foram vendidos adesivos virtuais para as armas do jogo com os logotipos dos dezesseis maiores times do cenário competitivo (incluindo um brasileiro) e até mesmo com as assinaturas dos profissionais.

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O adesivo do time brasileiro Luminosity custa R$3,50 e gerou milhares de reais aos profissionais

Todo o dinheiro gerado por esse novo mercado do CS:GO é investido em atualizações constantes do jogo e claro, em cada vez mais campeonatos que mostrem o quão emocionante partidas de Counter-Strike podem ser. As maiores competições, chamadas de majors, possuem patrocínio direto da Valve que inclusive permite que as partidas sejam assistidas no próprio jogo, onde o usuário pode alterar as configurações de transmissão que seriam fixas numa livestream do Twitch, por exemplo.

E foi dessa forma, ouvindo a comunidade e entendendo suas necessidades e desejos, que a Valve e Hidden Path redesenharam a trajetória de Counter-Strike: Global Offensive, fazendo com que o jogo movimente milhões de dólares, promova grandes competições e tenha o respeito máximo dos fãs de longa data.

Referências: Kotaku, PCGamerCSGO Stash, TheWarOwl3kliksphilip