Análise: Star Fox Zero – nunca foi tão triste se sentir perdido no espaço

A espera foi longa. Muito longa. E como uma amiga minha costuma dizer, “quanto maior a sua expectativa por algo, maior será o tamanho de sua decepção”. A nova aventura de Fox fez esta frase ecoar em minha cabeça.

Star Fox Zero foi certamente um dos jogos mais aguardados para o Wii U, desde o seu anúncio na E3 de 2014. Em parceria com o estúdio responsável por Bayonetta, a Nintendo apostou numa dose cavalar de nostalgia, ignorando — como sempre — elementos modernos, que seriam muito bem vindos em uma nova aventura de um dos seus principais ícones. Este é o primeiro título da franquia desde 2006, quando o Nintendo DS recebeu Star Fox Command. De lá pra cá, vimos Star Fox passar em branco no Nintendo Wii, dando mais motivos para reforçar as expectativas para que o novo game fosse extremamente aguardado.

A mesma história e uma grande nostalgia

A nostalgia normalmente cumpre um papel importante quando grandes clássicos dos games são ressuscitados. Anos sem entrar na pele — ou na nave — de Fox fez com que o sentimento de “estar novamente em casa” fosse bem forte. Mas, aparentemente, a Nintendo apostou demais nisso. A começar pela história: Star Fox Zero não traz uma trama inédita. Na verdade, ele reedita a história dos dois primeiros capítulos da franquia. Neste novo episódio da saga de Fox, relembramos que o protagonista perdeu seu pai, que fazemos parte de um grupo de mercenários interestelar e temos de enfrentar Andross, o vilão responsável por todos os problemas — inclusive pelo fim do pai de Fox.

Veja bem, a minha crítica não é direcionada à história, que por sinal sempre foi muito bem encaixada nos jogos anteriores, mas esperávamos que, após tanto tempo, pudéssemos vivenciar uma nova aventura. Infelizmente para os fãs, a trama não deixa no ar uma sensação de continuação e provavelmente o esquadrão Star Fox descansará novamente por um bom tempo.

Mas, como já citado acima, a nostalgia é importante. Os produtores acertaram em cheio na hora de trazer diálogos, sons e ambientações idênticas às que experimentamos nos jogos clássicos. Falco, Peppy e Slippy interagem com você por meio do gamepad. Podemos ouvir suas frases, como se elas estivessem saindo do painel de controle da nave de Fox. A interação realizada entre os diálogos é perfeita, mas infelizmente os seus companheiros não cumprem o papel de “equipe”, ajudando poucas vezes nas batalhas; seus tiros parecem simplesmente não atingir os inimigos.

Um fator positivo (e, mais uma vez, nostálgico) é o uso do Amiibo de Fox: se conectado ao jogo, é possível desbloquear a skin clássica da nave de Fox. Já o Amiibo do Falco desbloqueia uma nova nave, mais poderosa que a padrão. Ambas também podem ser desbloqueadas ao encontrar todas as moedas colecionáveis, localizadas nas fases.

star fox zero

Um belíssimo universo, modos de jogo limitados e abafados por controles confusos

Ao inserir o seu disco no Nintendo Wii U e iniciar o jogo, logo você entenderá o “belíssimo universo”. Apesar de estar atrás de Mario Kart 8 em nível de detalhes, Star Fox Zero nos presenteia com gráficos refinados, um mundo repleto de cores, luas e planetas figurando um cenário atrativo e encantador. Se toda a nostalgia não bastasse para deixar um sorriso de canto de boca enquanto jogamos, os gráficos novos fazem esse papel. Mesmo que para muitos não tenha sido o suficiente, te garanto que ao jogar os gráficos serão de longe um motivo para reclamar.

Infelizmente, como quase todos os jogos no Wii U, nem tudo são flores. Até hoje o gamepad “diferentão” do controle do console da Nintendo não se fez muito necessário em nenhum jogo. Para o desespero de muitos, ele resolveu ser necessário e se mostrou bastante incômodo. Na maior parte das vezes, os controles parecem ficar confusos, você fica na dúvida se olha para sua televisão ou para o controle, o que faz com que você deixe passar certas coisas no cenário e certos inimigos que te dariam mais pontos. Apesar das batalhas contra os chefes serem bem dinâmicas e supercriativas, a sensação de estar perdido, causada pelo gamepad, acaba prejudicando a experiência e interrompendo por muitas vezes a sua imersão e diversão.

Outro descuido na produção do game foi a ausência de um modo co-op. O ponto forte nos argumentos dos fãs da Nintendo é justamente este: a diversão que os jogos trazem para quem gosta de jogar com os amigos e a família. Star Fox Zero pisou MUITO na bola em não trazer um modo cooperativo para sua campanha, fato este que, para mim, é decisivo na escolha de um jogo para o Wii U.

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Afinal, o jogo entrega o que se espera?

Star Fox Zero é o mais belo jogo da franquia, além de trazer desafios interessantes, um bom conteúdo na campanha e batalhas muito criativas. Apesar disso, a Nintendo perdeu a grande oportunidade de inserir um modo cooperativo, o que traria uma vida longa ao game, rendendo um replay maior e saciando a vontade dos fãs de jogarem com seus amigos — vontade esta que existe desde os tempos do Nintendo 64. O fator nostalgia camufla as falhas do jogo na maior parte do tempo, mas mesmo com isso a sensação de estar jogando algo nada inovador incomoda. Após uma década de espera, Star Fox Zero não cumpre a imensa expectativa e, apesar de divertido, não é nem de perto um jogo digno de Fox McCloud e seus companheiros.