A notícia de que a Nintendo mostraria apenas o novo Zelda em sua conferência da E3 causou hesitação ou negatividade por parte de todos, e não me excluo dessa afirmação. Como uma empresa first-party se sustentaria mostrando apenas um jogo de sua plataforma (que está em seus últimos momentos)?
Com a escassez de títulos, não lhes restava muitas opções. Especulo que a Big N planejara revelar o famigerado NX durante a E3, mas devido aos rumores de adiamento da produção do console, tiveram que tirar o maior proveito possível da pior situação. Por sorte, tinham uma carta na manga.
Eles sabiam que possuíam um jogo especial em mãos. Estavam confiantes de que mostrar (praticamente) só esse título seria o suficiente — e foi. Fazia muito tempo que eu não via a Nintendo sendo tão bem falada na internet como tenho visto recentemente.
Bem, cá estamos. A conferência aconteceu, e nem mesmo seu formato longe do ideal tirou o brilho de The Legend of Zelda: Breath of the Wild.
Mas esse trailer não passou de um aquecimento; um hype builder. O que estava por vir eram horas a fio de gameplay, e eu devo admitir: naquele momento, minhas expectativas foram subvertidas. Da melhor maneira possível.
Destruir para construir
Breath of the Wild descartou muitos dos fundamentos criados em Ocarina of Time e desenvolvidos nos jogos subsequentes. Todavia, o título mostrou fortes inspirações nos elementos de RPGs ocidentais e segue tendências do design de mundo aberto de sua própria forma. Isso não seria tão surpreendente se eu não estivesse me referindo a um jogo da Nintendo, que frequentemente é tão conservadora com suas criações.
Alguns podem argumentar que isso descaracteriza a franquia, mas após uma análise mais aprofundada, percebemos que isso não é verdade. A criação de Eiji Aonuma pode ter se reinventado de muitas maneiras, entretanto, o que tornou o primeiro The Legend of Zelda (aquele lá de 1986) tão memorável se faz presente aqui mais do que nunca. O design do game de estreia da série gira em torno do seguinte conceito: encontre tudo por conta própria neste mundo imenso e prepare-se para se perder. E é exatamente essa a sensação que Aonuma quer reviver com Breath of the Wild — sensação esta que é ainda mais enfatizada com a ideia da sobrevivência na natureza. Este jogo pode parecer “não-Zelda”, mas em seu núcleo é um dos títulos mais coerentes com a temática que definiu a série.
Splatoon já era um sinal de tempos de mudança, mas a renovação de uma franquia de décadas representa uma revolução para a Nintendo. Ainda que seja importante definir novos padrões, os produtores devem permitir que suas visões sejam influenciadas pelo melhor das convenções atuais do game design, especialmente se tratando de uma empresa capaz de produzir tantos títulos únicos e de qualidade. Isso é animador para o que está por vir e aumenta as possibilidades do que podemos esperar de uma Nintendo pós-Wii U.
“Os novos desenvolvedores não tinham ideia de como os Zeldas anteriores foram criados. Eles nos perguntavam ‘Bem, eu sei que as coisas eram feitas dessa forma, tradicionalmente, em outros jogos da série Zelda. Mas por que precisam ser desse jeito?’ e dentre essas e outras perguntas, tinham algumas que eu simplesmente não sabia a resposta. Isso só aconteceu porque eu levei essas coisas como uma tradição e nunca me perguntei por que a tradição existia”
Sinto que essa declaração de Aonuma não é aplicável apenas ao Zelda, mas sim à Nintendo como um todo. Em Breath of the Wild, a equipe de desenvolvimento da velha guarda deu lugar a novos desenvolvedores, o que resultou em uma quebra de paradigmas. Essa mudança de ideais, de filosofia, é justamente o que a Nintendo precisa, e, ao que tudo indica, é uma meta perfeitamente alinhada com a direção que o misterioso NX aponta.
São tempos como estes que me lembram o motivo pelo qual eu gosto tanto de videogames. O Zelda, sozinho, não só soprou novas esperanças sobre o futuro da Big N, como também criou expectativas em cima de um console que sequer foi revelado, conquistando a atenção (e a carteira) de muitos — inclusive a deste que vos escreve. É disso que a Nintendo é capaz quando se permite criar algo realmente novo.