Uma tarde tediosa rolando a página de feed do meu Facebook. Encontro posts de grupos ou páginas compartilhando uma publicação de um site muito famoso que noticiou detalhes sobre o desempenho de Quantum Break no Xbox One. Pessoas difamam, tiram sarro e até declaram a morte do console. Os detalhes aos quais me refiro? O fato do jogo rodar a 720p no console da Microsoft. A indústria e a mídia ainda se apoiam muito nos gráficos, porque é isso que as pessoas querem na maior parte das vezes. E as pessoas são influenciadas por essa mesma indústria e mídia, se tornando cada vez mais “exigentes” quanto a isso. É um ciclo contínuo.
É por isso que o crescimento indie – uma lufada de ar fresco no mercado – é muitas vezes visto sob lentes de menosprezo pelo público. “Jogos de PlayStation Plus/Live Gold/Humble Bundle”, eles dizem. Exceto raros fenômenos como Rocket League, normalmente só grandes produções ganham destaque na mídia. Isso se tiverem uma boa nota e serem bem falados, obviamente, pois caso contrário o título é unanimemente considerado ruim, tendo você jogado ele ou não. Tudo que vemos hoje são pessoas metralhando notas e citações sobre aspectos técnicos de um jogo. Jogar e analisar o que o título propõe é luxo, certo?
“Não quero saber o que você achou do jogo Y. Toma essas notas que a crítica deu e esses vídeos de bug do jogo, eles ditam a verdade”
— “Opinião” típica do jogador que sequer experimentou o jogo Y
Outro fator que não colabora é que muitos dos jogadores brasileiros têm como referência sites de jogos grandes, que podem até ter uma quantia expressiva de notícias por dia, mas apresentam uma deficiência completa de conteúdo exclusivo. Onde estão os artigos informativos, colunas opinativas e afins? A Kotaku e Polygon são exemplos de sites que, embora refutados pelos gringos (e até aqui), sempre produziram conteúdo, no mínimo, interessante. Graças a esses sites soubemos o que deu de tão errado com Destiny, ou descobrimos que o mercado mobile não é tão ruim quanto pensamos que é. A ausência de textos como estes – somado ao desinteresse de leitura inato da grande maioria dos brasileiros – é um dos motivos que colabora para…
Afinal, quem é você? Só mais um que prega incessantemente o “fracasso” do Xbox One? Aquele que diz Remasterstation? Ou quem comemora quando a versão de PC de um jogo foi adiada ou deixou a desejar? Ora, quem se auto proclama “gamer” e ainda por cima acha que é o guru dos gráficos e frames por segundo também deveria ser muito crítico quando se trata de assuntos como o game design, não é mesmo? Exemplo: entenda como Doom funciona ou a forma como a primeira fase de Super Mario Bros foi desenvolvida e perceba que as coisas vão muito além de fazer um jogo de mundo aberto com gráficos bonitos. Apesar de ser um departamento diferente e extremamente vasto, o game design é tão crucial para um título quanto seus visuais. De qualquer forma, talvez ainda seja mais interessante para alguns afirmar inúmeras vezes que o Wii U é um fracasso e tem hardware atrasado, em vez de dar atenção ao potencial que jogos como ZombiU e Splatoon têm pelas ideias que propõem.
Me espelhando nos grandes sites lá de fora, tento trazer análises sobre assuntos diversificados da indústria, desmistificando-os e explicando que o que parece ser a “evolução” também pode ser um problema, ou que talvez você devesse dar mais atenção a games que não tenham muita notoriedade. Entender um pouco sobre produção de jogos, motivações por trás das práticas da indústria ou tendências de mercado abrem a mente e nos concedem uma visão externa, ensinando a nós analisar antes de arremessar pedras na primeira notícia ruim que vier. Espalhar esse tipo de ideal é a minha ambição com o Jogazera. Entendam que não estou dizendo que somos os floquinhos de neve do jornalismo de games – outros veículos online nacionais também fazem isso de forma eficiente, mas nenhum dos que conheço pode se equiparar aos grandes nomes, infelizmente.
Mas é isso. Encerro esse desabafo pedindo para que vocês não sejam o tipo de pessoa que descrevi pelo texto inteiro. Torne-se mais ciente e crítico ao tipo de informação que é exposta a você. É algo que merece ser criticado? A sua crítica envolve alguma lógica ou é só um julgamento sem fundamento e profundidade? Você é livre para opinar. Mas ao fazê-lo, perspectiva, compreensão e conhecimento são importantes.