Como vocês provavelmente já sabem, a Ubisoft Brasil tem um programa semanal chamado Ubi Responde, criado para aproximar a empresa de seus consumidores. No quadro, são respondidas perguntas frequentes do público por um porta-voz. Semana passada, o apresentador mandou muito mal durante uma resposta a consumidores indignados com os DLCs da distribuidora e provocou uma grande revolta daqueles que se sentiram ofendidos, eis aqui (parcialmente) o que foi dito:
Não sejam reclamões, procurem entender o negócio antes de tudo (…) O jogo sempre chega completo para vocês, isso a gente garante. Todas as expansões que a gente lança, têm uma coisa a mais, que a gente dedicou um tempo do time para fazer aquilo (…) Perde a mania de reclamar, é sério.
Convido todos a assistirem o vídeo em questão e a resposta completa do apresentador logo abaixo. Assistiram? Beleza.
Qualquer um que viu o vídeo muito provavelmente viu como a coisa fugiu do controle. Eu, sinceramente, não sei como isso foi pro ar. O apresentador (cujo nome não será citado porque não quero nenhum ódio do pessoal daqui contra o cara, afinal o erro não foi só dele) saiu da sua posição de porta-voz e expressou sua opinião de forma exageradamente agressiva. Não é possível que ninguém da empresa pensou “isso vai dar errado”.
De qualquer forma, vamos discutir primeiramente a abordagem do porta-voz sobre o tema. Você, que financia o negócio da Ubisoft, pode reclamar do que quiser. Se você está em um restaurante e sua comida está muito fria, é dever do restaurante esquentá-la. Se o restaurante vai mudar a forma de preparar os pratos a partir da sua reclamação, é dever dele decidir.
Então, acho que todos concordamos que a atitude do apresentador foi no mínimo contestável. Nós, consumidores, não estamos fazendo um favor ao comprar os jogos da Ubisoft. Compramos porque esperamos determinada experiência, e quando essa experiência não é satisfatória, é nosso dever apontar os problemas. É claro, grande parte das pessoas, eu diria até mesmo a maioria, reclama de forma totalmente desrespeitosa, o que causou um “efeito mola”; os consumidores reclamaram com tanta agressividade e por tanto tempo, que quando o apresentador foi responder, falou mais do que deveria, o que claro, não o dá razão, afinal ele é pago para não cometer erros desse tipo.
Agora, a parte (ainda mais) polêmica. Nas entrelinhas do que o apresentador falou, ele diz basicamente que há dois tipos de DLCs: o primeiro é bastante superficial, como armas ou roupas diferentes, feitos para deixar o jogo com a sua cara. O segundo, é uma expansão que é desenvolvida para satisfazer quem gostou muito do jogo e ainda tem aquele sentimento de “quero mais”.
Sobre o primeiro tipo, na verdade não tenho muito a dizer. Eu mesmo já cheguei a comprar itens cosméticos em jogos que eu realmente gostei muito e em geral eles não são tão caros e só chamam a atenção de quem se aprofunda muito no jogo.
Sobre as expansões, temos um problema. Expansões, teoricamente, são uma maravilha. Você, que gostou do jogo, pode aproveitar horas extras se divertindo. Na prática, as empresas já se acostumaram tanto a cobrar por horinhas a mais de jogatina, que muitas vezes elas nem valem a pena e são feitas nas coxas. Difícil acreditar no apresentador dizendo que “eles usam o tempo extra para expansões”, sendo que muitas vezes, como aconteceu em AC: Unity e The Crew, o jogo no lançamento vem cheio de problemas técnicos. Por que não antes pensar no jogo e depois nas expansões? Há exemplos disso: GTA IV e Ballad of Gay Tony, Far Cry 3 e Blood Dragon, Red Dead Redemption e Undead Nightmare, etc.
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Isso traz outro problema enorme para a indústria: o famoso Season Pass, pacotes de DLCs com preços que muitas vezes alcançam os R$60,00. O problema é que muitos compram o tal Season Pass, impulsionados por descontos de pré-venda e claro, não sabem nem se o jogo tem qualidade, imagine as expansões. Pré-venda de jogos já é algo que eu vou contra mas sei que já não é possível combater, mas pré-venda de expansões já é demais.
Vejam, eu não vou contra a ideia de DLC em si, mas sim como as empresas mais odiadas entre os consumidores estão tratando o assunto. Empresas com maior nível de contentamento de seus consumidores, como a Rockstar e CD Projekt Red, estão dando aula de como fazer um DLC decente, que valha a pena e que acima de tudo, deixe todo mundo satisfeito. Ninguém reclama à toa.
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Quais as lições do dia? Primeiramente, trate seus consumidores como eles merecem. Em segundo lugar, DLCs são muito bem-vindos, quando feitos depois do lançamento do jogo, com um controle de qualidade maior e um preço justo.