Quarenta anos após o lançamento do primeiro jogo de terror, ainda nos arcades, o gênero continua forte no mercado dos games. Sucessos recentes como Outlast (2013) e o remake de Resident Evil 2 (2019) contribuíram para reavivar aquelas sensações que nos cativam em jogos deste estilo: exploram o misto de medo e euforia frente aos perigos do desconhecido.
Embora o gênero tenha se popularizado e estruturado com Alone in the Dark, em 1992, e Doom, em 1993, os jogos com temática de horror sempre estiveram presentes nos fliperamas, nos cartuchos e nos DVDs.
Acredita-se que o primeiro jogo que aborda a temática de terror seja Killer Shark, da Sega. Lançado em 1972, o jogo consistia em atirar com o controle-pistola contra o tubarão que aparecia nadando contra a tela – ou seja, como se estivesse perseguindo o jogador. Embora sua jogabilidade fosse simples, Killer Shark é lembrado com carinho até hoje, tanto pelos gráficos sofisticados para a época, quanto por ter aparecido brevemente no clássico filme Tubarão (1975).
Dez anos após o lançamento de Killer Shark, a Atari anunciou o popularíssimo Atari 2600, o primeiro console doméstico que verdadeiramente tornou-se um sucesso comercial, tanto o próprio aparelho quanto seus cartuchos. Seus gráficos eram limitados e, para driblar essa adversidade, as capas dos jogos eram muito bem-elaboradas; uma das mais bonitas, sem dúvidas, é Haunted House (1982).
Olhos arregalados e aterrorizados, morcegos pendurados de cabeça para baixo e uma aranha tecendo sua teia. É uma imagem simples, mas eficaz, identificando um assunto pouco explorado nos games até o momento – o jogo é considerado o primeiro título de survival horror do mundo.
Porém, o cartucho não foi um sucesso e encalhou nas prateleiras. Os jogadores, representados por um par de olhos, tinham que passear por uma casa no escuro coletando itens e fugindo dos morcegos e aranhas. É, realmente não era lá muito divertido, mas foi um importante começo para os jogos de horror.
Em 1983, apenas um ano depois de Haunted House, a Wizard Video Games lançou, também para Atari 2600, dois jogos baseados em filmes slasher: Halloween e The Texas Chainsaw Massacre. Estes, sim, tinham mais características de terror de sobrevivência: enquanto neste último você controla o Leatherface, perseguindo suas futuras vítimas, no outro a próxima vítima é você, devendo fugir de Michael Myers para não acabar perdendo a cabeça – literalmente.
Os arcades ainda estavam vivos em 1985, quando foi lançado Ghosts ‘n Goblins. Esta obra-prima side-scrolling continua sendo uma das mais viciantes e divertidas da era de ouro dos videogames, com seus inimigos zumbis, esqueletos e até o próprio Satã.
Já os jogadores domésticos tinham uma tarefa mais árdua: fugir do sinistro Jason Voorhees em Friday 13th: The Computer Game. Lançado para Commodore 64, seu objetivo era matar o maníaco da máscara de hockey antes que ele te mate. Mais tarde, o jogo foi adaptado o NES, com jogabilidade diferente e novas mecânicas. Com gráficos simples, o que mais assustava eram as imagens quando algum colega era morto:
O Commodore recebeu outro jogo bizarro: Mad Doctor. Em uma pequena vila inglesa, você controla um médico louco que precisa encontrar partes dos corpos de várias pessoas para criar seu próprio Frankenstein. Para atingir esse saudável objetivo, você precisa cavar túmulos ou, simplesmente, matar pedestres que foram tolos o suficiente para sair de casa à noite. Como nem tudo são flores, é preciso fugir dos habitantes locais, sedentos por encontrar o culpado pelos crimes.
Outro bom exemplo da época é Uninvited (foto de capa da matéria), um point-and-click lançado para o Apple Macintosh em 1986 e, cinco anos depois, também para o Nintendinho. Como uma espécie de The Cat Lady do século passado, devemos explorar uma casa abandonada em busca de nosso irmão perdido.
Ainda nos computadores, novamente uma empresa investiu em jogos baseados em histórias já conhecidas do público: Dracula e Jack the Ripper (Jack, o Estripador). Os jogos britânicos foram os primeiros videogames a contarem com uma classificação indicativa; o vampiresco é indicado para maiores de 15 anos, enquanto o serial killer ganhou tarja máxima: 18 anos, alavancando o marketing dos dois games.
1987 foi o ano em que o gênero vampiresco ganhou os holofotes do mercado dos games. Lançado pela já conceituada Konami, Castlevania trouxe diversão para os jogadores de NES com matança de monstros em side-scrolling. Hoje, a franquia consolidou-se com mais de 30 jogos e até uma série para a Netflix.
Parece que o Commodore é a plataforma preferida para jogos bizarros. No mesmo ano, a ainda pouco conhecida Lucasarts lançou Maniac Mansion; também um point-and-click, o jogo inovou na versatilidade ao apresentar finais diferentes a depender de qual personagem você escolheu. Misturando muitas cores, bastante humor e tentáculos vivos, o jogo foi um grande sucesso, resultando em um port para NES, uma série de televisão e uma sequência, “Day of the Tentacle”.
Até a Namco, conhecida por casuais como Pac-Man e Galaga, também entrou nos jogos de terror com o lançamento de Splatterhouse, em 1988, para arcades. Você controle um estudante universitário que, munido de seu facão e sua máscara de Jason, desbrava uma mansão em busca de sua namorada desaparecida. Por causa de toda a brutalidade das cenas, o jogo levantou controvérsias.
Falando em controvérsia, poucos jogos causaram tanta confusão quanto Night Trap, título lançado para o Sega CD. Famoso por seu conteúdo violento para a época, cenas gravadas com atores reais e sua marcante trilha sonora, a repercussão ajudou a estabelecer o sistema de classificação indicativa ESRB nos Estados Unidos. Uma espécie de Jack the Ripper americano, podemos dizer.
Porém, o gênero da forma que conhecemos hoje só iria tomar forma em 1992, com o lançamento de Alone in the Dark. Com gráficos tridimensionais, uma câmera que favorecia os jumpscares e uma trilha sonora angustiante, não é surpreendente que o jogo tenha sido um sucesso. Este título foi um dos primeiros a incluir puzzles no gênero de terror, elemento quase indispensável nos dias de hoje, figurando em Silent Hill e Resident Evil.
Entretanto, podemos dizer que o verdadeiro divisor de águas nos jogos (com elementos) de terror foi Doom: explodir os miolos de zumbis, demônios e fantasmas foi um sucesso global em 1993 e suas sequências são jogadas até hoje. Dois anos depois, eram lançados o point-and-click Clock Tower e o vídeo interativo Phantasmagoria – uma espécie de Night Trap, mas muito, muito mais brutal.
O subgênero JRPG adentrou no mundo do terror com Corpse Party, clássico do RPG Maker, e seus vários remakes até hoje ganham cada vez mais gameplays no YouTube. Neste mesmo ano, em 1996, era lançado o primeiro Resident Evil; daí pra frente, é história.