Review – The Last of Us

Desde o momento de seu anúncio pela produtora Naughty Dog, o game The Last of Us gerou muita expectativa e, porque não, desconfiança na mídia e nos jogadores. Seria um Uncharted com zumbis? Seria mais um jogo com a temática survivor-horror, que já estamos cansados de ver?

Após seu lançamento, não demorou muito para surgirem boas avaliações pela crítica especializada. Muitos dizem que se tratar do jogo do ano, outros apostam mais alto ainda, e dizem ser o jogo dessa geração de consoles. Um fato é certo: as grandes expectativas foram correspondidas. Mas será que o jogo é tudo isso? Ou estamos numa carência de jogos de “zumbis” que realmente prestem? Talvez estejam supervalorizando esse jogo… será?  Confira o nosso review e tire essas e outras dúvidas.

História

Há cerca de 20 anos, uma pandemia se espalhou pela Terra: um certo tipo de fungo, quando inalado por uma pessoa, causa uma infecção mortal. Esse fungo se instala no sistema nervoso central do hospedeiro e se espalha gradativamente pelo corpo, transformando a pessoa num morto-vivo. Essa doença não tem cura, e se espalhou rapidamente, dizimando quase que totalmente a população do planeta.

Quando começamos a jogar, estamos na pele de Sarah, uma jovem de 12 anos, filha de pai solteiro. Na noite de aniversário do seu pai, Joel, a doença toma proporções catastróficas, espalhando medo e destruição no lugar que vivem. Joel e Sarah se juntam a Tommy, irmão mais novo de Joel, e tentam fugir para a cidade. Lá eles encontram infectados, e um exército despreparado, que atira em pessoas inocentes por suspeitarem que estas estivessem infectadas. Nessa confusão, Sarah é baleada e protagoniza uma das cenas mais emocionantes do jogo.

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Após esta breve introdução (os primeiros dez minutos mais tensos e emocionantes das introduções dos jogos), nós acordamos com um Joel mais velho, 20 anos depois do ocorrido, em um mundo destruído, onde as pessoas vivem em zonas de quarentena controladas pelo exército. Ao lado de outros personagens secundários, o protagonista conhece Ellie, uma jovem de 14 anos que nasceu após o colapso dessa doença. Joel é um “entregador” e recebe a missão de levar esta garota para um grupo de rebeldes denominados Vagalumes. Ellie é imune à essa doença, e torna-se a chave para a descoberta de uma cura que poderá salvar o planeta.

E o que começa como uma relação de transportador e carga entre Joel e Ellie, se transforma em uma complexa e envolvente relação de amizade e esperança. Daí em diante, graças à Naughty Dog, a história é conduzida de forma brilhante. A construção de todos os personagens, incluindo os secundários, são muito verossímeis. Todos possuem personalidades marcantes e propósitos bem definidos, que justificam suas condutas e atitudes ao longo do jogo. Todas essas características são extremamente bem trabalhadas no título, algo raro de se ver na indústria de jogos eletrônicos, fazendo do enredo de The Last of Us digno de cinema.

Gameplay

Do lado de fora da zona de quarentena, tudo é uma ameaça. A começar pelos infectados, que se comportam de diferentes formas dependendo do grau de infecção do fungo. O primeiro tipo de infectado é o corredor: recém-infectados, possuem visão aguçada, são agressivos e correm em sua direção para matá-lo. O segundo estágio da infecção é o estalador: estão infectados há mais tempo que os corredores, a ponto do fungo ter tomado completamente o seu cérebro (chegando a explodir o crânio), não enxergam mas possuem audição aguçada, e correm em sua direção ao ouvir o menor barulho. O último estágio da infeção é o chamado baiacu: o fungo tomou quase que completamente seus corpos, são resistentes e podem atirar esporos em sua direção.

Há também ameaças humanas na jornada de Joel e Ellie (muitas vezes mais perigosas que os infectados). Caçadores andam armados, possuem inteligência artificial aguçada, e vão matá-lo a qualquer custo. Joel possui uma mochila para guardar itens encontrados no cenário, com os quais é possível montar coquetéis molotov e outros objetos que o ajudarão a se livrar dos inimigos. Enquanto você monta um item, o jogo continua rodando em tempo real, tornando-o um alvo fácil, adicionando um elemento muito realista e sensação de insegurança o tempo todo. Existe uma boa variedade de armas de fogo, mas a munição é escassa, obrigando-o a usar o estilo stealth para apunhalar os inimigos pelas costas.

Se por um lado os sistemas de montagem de itens e upgrade de armas adicionam elementos inteligentes e divertidos no jogo, outros aspectos podem irritar alguns jogadores. A linearidade da história é um exemplo, ainda que você tenha bastante liberdade para vasculhar o cenário que se encontra. Outra coisa que irrita é que os inimigos (infectados ou não), só detectam a presença de Joel, mesmo que a Ellie cante, dance e sapateie na frente deles. Mas nada disso prejudica a imersão no jogo.

Áudio e Gráficos

Com autoria do músico e compositor argentino Gustavo Santaolalla, a trilha sonora de The Last of Us traz o clima perfeito para ambientar a aventura de Joel e Ellie. Aliás, onde o Santaolalla coloca as mãos é certeza de trabalho bem feito: o músico já recebeu 2 Oscars de melhor trilha-sonora original pelos filmes “Babel” (2006) e “O Segredo de Brokeback Mountain” (2005).

Na maior parte do jogo, o que predomina é o silêncio. O clima de tensão é grande, principalmente quando há estaladores por perto, que fazem ruídos arrepiantes (comparável às enfermeiras de Silent Hill). A dublagem original dos personagens é excelente, e também conta com nomes de peso da indústria do cinema internacional. Uma pena a dublagem em português brasileiro, apesar de bem realizada pelos atores, apresentar problemas graves de variação de volume, ficando inaudível em alguns trechos do jogo.

Outro trabalho admirável é o de direção de arte. Os cenários são incríveis e riquíssimos de detalhes. Cada veículo abandonado, cada vegetação crescendo pelas paredes… Parece que tudo foi milimetricamente pensado. Houve um cuidado até mesmo na modelagem de personagens secundários, como os caçadores, vagalumes e infectados. O fungo que sai da cabeça de um infectado é sensacional.

O trabalho de iluminação e sombras é muito realista. Ao caminhar em ambientes fechados e com pouca iluminação, dá uma sensação claustrofóbica que só aumenta o clima de tensão do jogo. As animações rodam em tempo real sem quedas de frame rate, e o jogo utiliza todo o potencial gráfico do PlayStation 3. Claro que existem texturas borradas e serrilhados evidentes em alguns momentos, mas nada que realmente chegue a comprometer a grandiosidade da obra.

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Multiplayer

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O multiplayer de The Last of Us consiste de partidas de até oito jogadores (são dois times de 4 x 4). Existem apenas duas modalidades de partidas: suprimentos, onde cada time tem 20 reforços, e o time que zerar os seus reforços é o perdedor; e sobreviventes, onde não há reforços, e o time que ganhar mais rodadas vence.

Ao iniciar a primeira partida do multiplayer, o jogador deve escolher um clã: caçadores ou vagalumes. O objetivo do multiplayer é coletar suprimentos e manter o seu clã vivo por 12 semanas (cada partida representa 1 dia para o seu clã). Para manter o seu clã vivo e crescendo, é necessário coletar suprimentos, que são encontrados nos corpos dos jogadores que você mata nas partidas. O excedente de suprimentos faz o seu clã crescer, e o déficit de suprimentos faz os membros do seu clã ficarem famintos, doentes e morrer.

Se você conseguir sobreviver as 12 semanas, o jogador ganha um prestígio e um troféu de multiplayer (existem 4 troféus no modo multiplayer), caso contrário você perde todo o progresso e volta para a primeira semana.

O gameplay é muito semelhante ao do singleplayer. Você deve coletar itens em caixas pelo mapa, montar bombas, facas e outros objetos, espalhar armadilhas pelo chão, ou simplesmente matar os inimigos no tiro. Diferentemente dos outros jogos de tiro, esse é mais lento e estratégico, e tão tenso quanto o modo campanha. Você pode andar abaixado e usar o modo escuta para ver a localização dos seus inimigos no mapa. É possível personalizar sua classe ou usar uma classe da armas pré-definida.

Em resumo, o multiplayer é inteligente e divertido. Pode ser um pouco complexo de entender no primeiro momento, o que o torna ainda mais interessante, pois a cada partida você descobre um segredo novo. As partidas ficam ainda mais divertidas quando você monta um time com seus amigos, permitindo que vocês conversem pelo headset e montem estratégias para eliminar os adversários. Um ponto fraco é a falta de variedade de mapas e modalidades de partidas.

Conclusão

Se você tiver a intensão de platinar o jogo, saiba que será necessário zerar a campanha, pelo menos, três vezes. Os troféus não lhe pedem para realizar coisas absurdas, pelo contrário, se você completar o jogo 100%, ou seja, coletar todos os colecionáveis, fizer upgrade máximo em todas as armas e habilidades, e terminar a história no modo replay da dificuldade Sobrevivente, você vai conseguir platinar o jogo.

O desfecho da história não é tão emocionante quanto a introdução, mas é um soco no estômago e nos leva à reflexão. O desfecho da história possui uma moralidade cinza e questiona atitudes que alguns podem julgar erradas, mas que no contexto do jogo é aceitável, além de deixar brechas para uma possível continuação.

The Last of Us é um jogo que beira a perfeição técnica e, apesar de alguns bugs e defeitos discutidos nesse review, superou as expectativas, tornando-o um grande concorrente ao jogo do ano, quiçá ao jogo da geração. É compra obrigatória para os donos de PlayStation 3.