Distópico e alucinógeno, We Happy Few é survival promissor

Já assistiram Equilibrium? Aquele filme protagonizado pelo Christian Bale, ambientado num futuro-não-tão-distante no qual a sociedade é controlada por um regime totalitário que os obriga a tomar uma droga chamada Prozium e a galera simplesmente não sente mais nenhuma emoção?

Agora imagina que em vez de uma droga desprover você de emoções, ela te deixe feliz. Não dopado, apenas feliz. Você não vê problemas no seu trabalho, as dificuldades da sociedade desaparecem e todo mundo tem o maior sorrisão na cara ao ficar na fila pra comprar pão. Só que… feliz demais.

Diferente da ambientação futurista de Equilibrium, We Happy Few opta por um setting londrino dos anos 60. Numa sociedade doente que se sustenta com Joy — a droga que o enredo gira em volta —, você estaria apenas em mais um dia de trabalho, censurando e controlando as informações no jornal, mas acaba por decidir em não tomar sua pílula.

we happy few

London bridge is falling down

Por mais estranho que pareça, We Happy Few pertence ao gênero survival. Sistema de craft, sono, fome e sede estão implementados no jogo — e isso não me caiu muito bem. Não é exatamente uma crítica, mas estava milhas distante o que eu estava esperando de um jogo que aborda tal temática. Aqui, em vez do enredo, o gameplay e os sistemas do jogo foram claramente priorizados, de maneira até literal.

Mesmo se tratando de um título single player, o jogo está em Early Access no Steam (ou no Xbox Preview) e seu desenvolvimento está por volta de 50% concluído, com os elementos-chave inclusos e a principal característica do jogo implantada: geração procedural. Algo parecido com o que vimos em No Man’s Sky — mas em menor escala. O mundo de cada jogador será diferente; gerado de maneira aleatória. Cada update será significativo para a melhoria desse sistema, adição de novos recursos, desenvolvimento do enredo e (principalmente) correção de bugs.

we happy few 2

Me pergunto como um jogo com potencial narrativo tão forte foi lançado sem história. Os conceitos e a ideia estão lá, mas ao mesmo tempo é vazio. O formato está pronto, mas por enquanto é só uma forma sem nada. Me apaixonei instantaneamente pelo apelo distópico e a problemática psicológica por trás desse conceito, mas não há muita coisa no que se aprofundar. Você pode ou não tomar sua droga, e isso afeta a maneira como o jogador vê o mundo. Mas quais são as consequências? O que aquelas pessoas irão fazer com você?

We Happy Few tem um longo caminho pela frente.

Vai dar certo?

À parte de alguns problemas latentes, a desenvolvedora Compulsion Games tem de tudo para ouvir o feedback dos fãs e trazer uma experiência sem igual com We Happy Few. A direção de arte é extremamente competente ao mesclar visuais vintage/retro em contraste com a ideia conceitual do jogo, fazendo um serviço de primeira mão. Dá pra fazer bem feito? Muito mais que isso.

Mesmo com um sistema survival estranho à ambientação, várias partes fundamentais podem ser retrabalhadas — principalmente em relação às quests e navegação. É necessário abrir o mapa incontáveis vezes para se localizar e se orientar em relação às suas missões — que, a propósito, pegam uma pitada de RPG e jogam por cima da fórmula, mesmo que estas não sejam muito explicativas e não informem muito bem o jogador sobre seus objetivos.

Os diálogos muitas vezes não têm nexo e isso se deve ao nosso personagem. Arthur Hastings é um protagonista curioso, cujo processo de criação claramente sofreu problemas: ele possui alguma fobia social? Como um protagonista tão franzino consegue, ao mesmo tempo, virar o mestre da sobrevivência? É muito cedo para dizer.

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Sendo quase uma obra experimental, We Happy Few bebe de várias fontes para trazer algo inovador. Possui uma ambientação encantadora, porém carece de escopo — que, com sorte, será preenchido conforme a evolução de seu desenvolvimento.

A versão completa chegará em uma janela de 6 meses a um ano, e até lá, eu sugiro você guardar os 55 reais que o jogo está sendo cobrado no momento para num futuro próximo sua compra ser substancial. As drogas e a distopia podem esperar mais um pouco.

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Este artigo foi baseado na versão de PC cedida gentilmente ao Jogazera pela desenvolvedora. We Happy Few está disponível no Steam e no Xbox One.

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