A longa jornada para enfrentar o ano mais difícil de nossa geração foi árdua – e segue sendo, agora em 2021. Trancafiados e isolados, os videogames tomaram de assalto uma posição que antes dividia com o cinema, com os barzinhos, shows, esportes e outras formas de distração.
Fechando a geração anterior de consoles, o final da década nos reservou gratas surpresas. Games super aguardados finalmente saíram (alguns não tão bons assim, convenhamos) e o que não faltou foram histórias, personagens e horas a finco de jogatina para nos ajudar a lidar com a solidão da pandemia.
Disto isto, esta é a minha lista com meus games favoritos de 2020, sem ordem de predileção.
Streets of Rage 4
Nem no meu delírio mais profundo eu acreditava em um novo Streets of Rage. Principalmente como um game repaginado, respeitando suas origens mas sendo ágil, funcional e totalmente adaptado aos tempos modernos.
E aconteceu.
Streets of Rage 4 é tudo o que o fã da clássica franquia do Mega Drive sempre quis – e não sabia. Passei horas na nova aventura de Adam, Axel e Blaze, além de conhecendo melhor os demais personagens. Com uma trilha sonora fantástica e um beat ‘em up afiadíssimo (com direito a um co-op perfeito), o quarto título da franquia não perde em nada para seus antecessores. E vai além: revisita o gênero, evolui suas dinâmicas com maestria e deixa ainda mais intenso o feeling de briga de rua.
Uma pena que sua mídia física seja cara e difícil de achar, pois merecia um lugar na estante.
A Short Hike
Lançado em 2019 para PCs, o charmoso game indie de Adam Robinson-Yu pousou no Nintendo Switch em 2020 com certa discrição. Mas com um brilho definitivamente particular.
Exclusivo de consoles para o Switch, A Short Hike é uma jornada de descobrimento super singela, onde vivemos uma história na pele de uma passarinha que precisa atender uma ligação importante – mas para conseguir receber a chamada ela precisa chegar ao topo da montanha da cidadezinha em que se encontra, pois é o único lugar que possui sinal de operadora.
O game fala sobre relacionamentos, descobertas e fecha com uma surpresa muito bonita (recomendo não ir atrás de gameplays, para evitar spoilers e até mesmo as sensações). Em tempos de pandemia e distanciamento social, a mensagem do game acabou batendo muito forte em mim.
A Short Hike pode ser jogado em algumas poucas horas, mesmo para os mais exploradores. O game é uma experiência bem única e se tornou um dos meus indies favoritos da vida.
Final Fantasy VII Remake
O remake mais aguardando de todos os tempos finalmente saiu. Final Fantasy VII Remake é a materizalização de um sonho que começou graças a um trailer despretensioso (ou nem tanto assim?) que tinha como função mostrar o poder do PS3.
No game, pudemos reviver o primeiro ato do clássico de Play 1, na jornada por Midgar, a cidade mecânica escravizada pelo imperialismo da Shinra. Com gráficos fantásticos e um Cloud mais expressivo (na medida do possível), o game é uma verdadeira viagem no tempo. A Square-Enix colocou carinho, que pode ser sentido nos diálogos, relacionamentos e, principalmente, no combate, que evoluiu a fórmula equivocada de Final Fantasy XV, mas corrige os problemas de câmera e joga fora as confusões dos controles que acompanhavam a jornada de Noctis.
Trilha sonora fantástica, nostalgia borbulhando e tudo o que um RPG precisa ter. FFVII Remake é o início de um projeto que pode ficar para a história e arrancou lágrimas e sorrisos deste fã apaixonado pelo clássico de PlayStation. Obrigado por isso, Square.
The Last of Us Part II
Impecável no que se propõe, The Last of Us Part II é um daqueles jogos que prendem sua atenção e que te puxam para dentro da história dos personagens, justamente por possuir uma narrativa extremamente bem realizada.
Não sou um apaixonado pelo primeiro título mas o segundo bateu bem forte em mim. Joguei ele todo acompanhado da minha namorada e nós dois ficamos imersos na trama, como se estivéssemos vendo uma série ou um filme muito envolvente. O jogo não inventa a roda e nem vai muito longe em se reinventar como franquia mas faz um trabalho fino e principalmente corajoso, ao colocar o jogador nos dois lados de uma trama dramática, em um mundo repleto de violência, terror, traumas e uma pandemia impiedosa.
Não contrasta bem com 2020 mas traz temas importantes da nossa era – apesar de, nos bastidores, ser mais um instrumento do crunch na indústria, com uma direção claramente retrógrada, conduzindo uma super criativa equipe em um regime cruel de trabalho excessivo.
Seja como for, é um jogo indispensável para quem curte games de ação e uma boa história. Marcou meu ano, certamente.
Super Mario Bros. 35
Como fazer com que um game super clássico, conhecido de ponta a ponta por absolutamente todo mundo, se renove, se transforme e volte a figurar nas listas de títulos mais jogados em uma geração que já viu tudo o que ele tem a mostrar?
É simples: Coloque um modo Battle Royale, competitivo, como… Tetris 99.
Seguindo a fórmula que funcionou muito bem no game de Alexey Pajitnov, esta versão do clássico do bigodudo é um Battle Royale com trinta e cinco jogadores, passeando pelo mundo sidescrolling de Super Mario Bros. – sim, o primeirão.
Com elementos que incrementam a gameplay, o jogo soma, a sua dinâmica, itens e instrumentos que podem ajudá o jogador a enfrentar (ou, no caso, dificultar) seus adversários. Para quem conhece bem o título original, os caminhos serão conhecidos mas as surpresas serão a todo instante, caso você não esteja ligado.
Foi um dos games que mais joguei no meu Nintendo Switch este ano. Uma pena que ele desaparecerá no fim de março, integrando a questionável estratégia com títulos de disponibilidade temporária, que a Nintendo vem praticando.
Tetris Effect Connected
Tetris Effect Connected é uma versão mais parruda do game que antes era exclusivo de PlayStation 4 – mas agora está disponível também no Xbox, integrando o incrível Game Pass.
A fórmula é a mesma do título original: Um Tetris extremamente psicodélico, com elementos rítmicos, que sugam o jogador para uma viagem colorida, musical e extremamente relaxante. Fazer pontos, gritar internamente “Tetris!” – quando elimina uma sequência incrível de colunas – e tudo isso somado a um multiplayer muito, mas muito divertido. Passei horas tendo Tetris Effect como o game que eu usava para alternar entre um título e outro ao longo do ano. Virou uma estratégia relaxante no meu Xbox Series S e me ajudou a relaxar e focar melhor nos games mais densos que joguei simultaneamente.
Vale frisar: a trilha sonora é um deleite a parte e o game é, sem exageros, belíssimo. No mais, é Tetris – e só isso já bastaria para ser digno de nota.
Animal Crossing: New Horizons
Meu jogo do ano e também o que eu, provavelmente, mais joguei ao longo de 2020. Animal Crossing é uma experiência única, um game impecável em suas mecânicas e que faz jus ao belíssimo trabalho que a Nintendo vem fazendo com seus exclusivos no Nintendo Switch.
Além do primor técnico, Animal Crossing vai fundo no quesito pessoal. Em um ano onde fugir da realidade nunca foi tão necessário, New Horizons representou um papel ímpar. Conectando pessoas e criando uma sensação confortável, como um abraço de um ente querido, que não tivemos muito por conta da pandemia, a ilha se tornou, literalmente, um porto seguro.
Para mim, de nada adiantaria tantos games poderosos sendo lançados se eu não tivesse Animal Crossing: New Horizons como meu escape, servindo quase como um item de balanceamento psicológico. Nos momentos em que faltou sanidade, ele esteve lá. Encontrei meus distantes amigos, construí minha ilha, me aproximei de pessoas queridas, imaginei um mundo melhor e pude viver tudo isso nos períodos em que achei que seria nocauteado pela ansiedade.
Quando olharmos para trás nos lembraremos de 2020 como o ano mais difícil de nossas vidas – ou um dos. E quem teve a oportunidade de jogar e pôde se sentir “salvo” se lembrará de Animal Crossing como o game que marcou esta época.
Menção Honrosa:
Euro Truck Simulator 2
Euro Truck Simulator 2 é um game antigo mas que estourou entre streamers e gamers no mundo todo bem depois de seu lançamento.
Apesar de não ser um título lançado em 2020, para mim, que tive contato com ele somente no ano passado, minha primeira viagem foi impressionante. É um jogo simples, com uma premissa nada complicada, que se resume a por os jogadores em um caminhão enquanto leva cargas de um ponto a outro da Europa. Existe algumas funcionalidades a mais, mas a grosso modo é basicamente isso mesmo.
A questão é que, em um ano em que a viagem mais longa que fiz foi do quarto para o banheiro, poder cair na estrada foi um alento – mesmo que em um simulador. Euro Truck foi marcante demais para mim em um determinado momento do ano, não poderia deixar de citá-lo nesta lista.
Inclusive por conta dele QUASE comprei um volante gamer – quem sabe não faço isso em 2021?
Pokémon GO
Não é de hoje que a Niantic vem dando uma aula de como trabalhar bem um game com o passar dos anos. Pokémon GO é um exemplo vivo disso.
Por ter uma mecânica básica que exige a locomoção, a desenvolvedora decidiu facilitar a vida dos jogadores entregando passes que possibilitavam que se pudesse fazer as divertidas raids sem a necessidade de caminhar até um ponto específico. Da sua casa você podia chamar os amigos, reunir uma equipe braba e batalhar contra aquele Pokémon lendário super raro.
Mas, além disso, o jogo ficou ainda mais completo, com missões interessantes, desafios diários e repleto de eventos. Quando tomei coragem e comecei a caminhar fora de casa, para tentar manter minha saúde em dia, Pokémon GO foi um companheiro fiel – e com os passes a distância conseguia chamar os amigos, que não moram perto e nem se encontrariam comigo por conta do isolamento social, e fazíamos os eventos e batalhas em equipe da forma que dava.
Pokémon GO é um jogo simples mas que se reinventa a cada dia. É um caminho bem diferente da franquia principal, que deveria se espelhar um pouco mais no título mobile “diferentão” para ter coragem de se transformar naquilo que os fãs sempre esperam.
Astro’s Playroom
Astro’s Playroom não é exatamente um game, mas sim uma espécie de tech demo que acompanha o PlayStation 5 e serve para apresentar o console ao consumidor. O game é leve e enquanto seu PS5 está sendo configurado ele pode ser instalado, para ser testado de cara como a primeira experiência no videogame.
No jogo, entramos na pelo de Astro (o mesmo do Astro Bot, que é o game que “apresenta” o VR da Sony) e fazemos uma viagem carismática e de descobrimento, dentro (literalmente) do Play 5.
Cheio de referências e sutileza, o game é um plataforma 3D muito bem feito, que se aproveita de ideias que já vimos em clássicos games do gênero, mas faz tudo com muito primor. Curiosamente ele bebe muito do DNA Nintendo, apesar de ser uma porta de entrada para um PlayStation, e a escolha deste direcionamento é um tanto irônica.
O game não vai muito longe, até pelo seu escopo, mas foi uma forma incrível de apresentar o poder de fogo do Dual Sense e o prórprio PS5 aos gamers – além de fazer uma coceirinha no coração, com muita nostalgia.
A Sony deveria olhar com mais carinho e, quem sabe, trabalhar em um título focado no personagem, mas com uma premissa diferente e um escopo maior. Seria interessante.