Em 2005, nascia um fenômeno aparentemente imparável no mundo dos games: Guitar Hero. O jogo causou todo tipo de estardalhaço possível, inclusive sendo responsável por colocar seu criador entre as 100 pessoas mais influentes de 2008. Enquanto isso, a indústria da música comemorava, já que diversas músicas já esquecidas eram colocadas nos jogos, resultando em grandes vendas de obras gravadas há décadas.
Com o tempo, surge seu principal concorrente, Rock Band, juntamente com uma avalanche de spin-offs: Band Hero e DJ Hero, por exemplo. Sem contar o grande crescimento da comunidade competitiva, que agora disputava por milhares de dólares utilizando-se das guitarras obrigatórias, que a cada edição ficavam melhores e melhor acabadas. Mais tarde, baterias e microfones começavam a ser vendidos. Eu mesmo tive três guitarras e dois microfones, que usei em cerca de 10 jogos das franquias da Harmonix.
Em 2010, após diversas falhas comerciais, entre elas Rock Band 3 e DJ Hero 2, os jogos de música começaram a enfrentar um hiato. As músicas por download ficaram menos frequentes e nada de títulos novos.
Eis que a Harmonix anuncia Rock Band 4, e a Activision não perdeu tempo em anunciar seu novo Guitar Hero. Após tanto tempo, a série deve voltar com força, mas alguns erros não podem acontecer novamente.
Excesso de “novos” títulos
O primeiro motivo da decadência do gênero é bem óbvio: a porrada de títulos que começaram a ser lançados sem parar. Para exemplificar, entre 2008 e 2009, tivemos 11 (!!!) jogos da franquia (veja a lista completa), o que deixou os fãs de saco cheio de tanto conteúdo mais do mesmo que poderia muito bem ser adicionado via download. O diretor do estúdio responsável pela série, Brian Bright, entendeu bem o que aconteceu, mesmo que tarde demais:
Nós perdemos o brilho tentando agradar todo mundo. Estávamos em uma corrida contra nosso concorrente [Rock Band] e parece que perdemos nossa alma.
Faltaram novidades
De forma talvez paradoxal, a mecânica fundamental de Guitar Hero é sua maior qualidade assim como o seu maior defeito. O esquema de apertar a cor certa na hora certa é excelente e cativante, mas dá pouco espaço para inovações. Para mudar de verdade, era necessário trazer mudanças gráficas, sonoras, investir em novos modos ou aprimorar o online. Mas fora esses pontos, é difícil pensar em algo que mantenha a base da franquia mas ao mesmo tempo a mude de verdade.
Talvez esses anos de hiato possam ter trazido novas ideias para os produtores, porque suas tentativas de dar novos ares à franquia, em geral, fracassaram. Guitar Hero: Warriors of Rock trouxe uma narrativa aprimorada e Rock Band 3 deu a chance dos jogadores usarem um teclado além dos instrumentos convencionais. Todavia, tais mudanças pareceram “forçadas demais” e não foram de grande utilidade para as vendas.
Instrumentos obrigatórios e rapidamente desvalorizados
Guitar Hero: Aerosmith foi o último game da franquia que aceitava o uso de um controle convencional para jogá-lo. Depois disso, ter pelo menos uma guitarra passou a se tornar obrigatório. Sim, a experiência com a guitarra é melhor, mas precisa ser obrigatória? Por exemplo, muitas vezes tornava-se impossível jogar com um amigo, porque havia apenas uma guitarra.
Além disso, ter um instrumento não custava barato. Sinceramente, me falha a memória quanto tento lembrar de quanto paguei nos meus instrumentos, mas com uma rápida pesquisa, vi que as guitarras mais recentes custam cerca de R$250. O grande problema nem é o preço – que ao meu ver não é pouca coisa, mas é aceitável. O problema é a falta de padronização nas guitarras, que eram lançadas em poucos meses e desvalorizavam as suas anteriores.
Assim como não são necessários tantos jogos da série, também não são necessários tantos instrumentos. Deve-se ter o cuidado de criar um produto bom e durável que não se torne ultrapassado em poucos meses.
Dançar é a nova moda
A Harmonix acabou criando um competidor de peso para sua própria franquia de música. Estou falando dos jogos de dança que hoje são bastante frequentes no mercado com o avanço de periféricos como o Kinect.
Pode não parecer para nós, mas séries como Just Dance e Dance Central ainda são um grande sucesso de vendas, principalmente no Wii, WiiU, Xbox 360 e Xbox One.
Hora de voltar ao palco
Guitar Hero foi uma vítima de seu próprio sucesso.
É verdade, Guitar Hero e Rock Band não souberam lidar com o rápido sucesso. Jogos demais, instrumentos demais, desespero demais. Porém, acredito que não estou sozinho: o gênero fez falta, e essa é uma boa hora para continuar o show.