Há muito tempo, jogar online era um luxo. A conexão com outros jogadores era complicada, não havia estrutura suficiente para aguentar muitos no mesmo jogo e a disponibilidade de outros jogadores era baixa. Muitos até diziam que “essa moda não iria pegar”.
Hoje, no entanto, a realidade é outra. Nem que seja apenas para usar recursos básicos como um placar de líderes, o online é um recurso que chegou para ficar nos games. Vemos jogos feitos apenas para serem jogados com outras pessoas, como Left 4 Dead e Army of Two. Vemos franquias consagradas que, em busca de novos públicos, deixaram de lado alguns de seus princípios em prol de um foco em modos cooperativos, como o desastroso Alone in the Dark: Illumination e o já esquecido Dead Space 3. Também vemos jogos que tentam resistir a esta tendência tendo suas vendas negativamente afetadas por isso, como Tomb Raider e Hitman: Absolution.
Mas, afinal, o online é herói ou vilão?
Com amigos é ainda melhor
A frase deste subtítulo é o argumento principal de diversos jogos hoje em dia. Títulos que possuem opções offline, mas foram produzidos como se não as possuíssem. Para mim, Payday 2 é a máxima disso. Um jogo que depende da cooperação de todos. Entre os quatro jogadores, cada um tem funções muito específicas que nem sempre são seguidas pela inteligência artificial, sempre incapaz de reproduzir a imprevisibilidade humana. Com amigos, a história é outra. O jogo se torna dinâmico e divertido, e por isso fez e ainda faz tamanho sucesso.
Porém, para criar uma experiência online tão gratificante, Payday 2 e outros títulos se apoiam em um recurso que nos parece obrigatório, mas nem sempre existiu em massa: o chat. A possibilidade de dar e receber comandos através de uma linha de comunicação torna os jogos online tão interessantes. As possibilidades são muitas. A mais básica delas seria o chat escrito, que te obriga a parar sua ação ingame para falar o que precisa. Existem também outras formas como frases já prontas que dão comandos essenciais e simples (“Afirmativo”, “Sigam-me”, “Inimigo encontrado”). E é claro, o que deveria ser o mais eficiente de todos, o chat por voz, que muitas vezes serve como meio para discussões desnecessárias e ofensas gratuitas.
A fusão entre a possibilidade de jogar com qualquer pessoa do mundo e a disponibilidade de comunicação entre jogadores com um mesmo objetivo permite que sejamos líderes, professores ou simplesmente pessoas amigáveis seguindo comandos de alguém que possui uma patente maior naquele jogo, o classificando como mais apto a comandar.
E sozinho, é tão ruim assim?
Geralmente, jogos online nos trazem uma mistura entre diversão e frustração – muitas vezes estamos fazendo tudo corretamente, e um membro do time joga tudo pelo ralo, isso nos deixa com raiva, mas certamente já fomos ou seremos esse cara outras vezes. No caso de jogos cooperativos a raiva pode até ser menor, mas ainda existe. No entanto, a sensação de diversão é a que prevalece na maioria dos casos.
Essa boa impressão que temos dos jogos online está criando uma geração de pessoas sem paciência para progredir sem a ajuda de um amigo ou sem um time de outra cor que sirva como oponente. Pode se tornar agoniante passar horas e mais horas controlando um personagem longe da euforia e do caos de uma partida com dezenas de outros jogadores que incentivam, brigam, provocam; muitas vezes apenas a impossibilidade de pertencer a um clã ou grupo já pode causar um frio na barriga. Essa geração pode sair de um jogo singleplayer em poucos minutos logo que vê como sente falta de um amigo fazendo as tarefas em conjunto se comunicando pelo headset.
A indústria percebe essa tendência, e precisa estar sempre se reinventando – ou até mesmo se reciclando – para acompanhar consumidores famintos por experiências online cada vez mais imersivas. É por isso que vemos tantos estúdios contratando cada vez menos roteiristas e cada vez mais servidores dedicados que aguentem uma partida de dez minutos entre um bocado de jogadores. Por isso que é cada vez mais raro o lançamento de consoles que já incluam dois controles. Os gamers cada vez mais pensam “se eu posso jogar online, por que comprar outro controle?”. Após esse questionamento, investem o dinheiro que poderia comprar um controle adicional em uma assinatura de algum serviço online como a Xbox Live ou PSN.
De fato, a inclusão do online nos jogos é um feito incrível que tem meu total apoio para continuar crescendo. Adoro a possibilidade pertencer a um grupo, de poder me comunicar com meu time e de avançar pela campanha de um jogo ao lado de um amigo que tem um objetivo igual ao meu. Até dou risada da raiva que eu passo jogando FIFA Ultimate Team quando perco uma partida.
Todavia, por um tempo esqueci dos títulos singleplayer e me arrependo disso. Há roteiros incríveis, personagens profundos e experiências inéditas dentro de muitos jogos ignorados por quem só consegue valorizar o multiplayer.
Às vezes, é bom depender só do seu resultado.