Em um ano tão complicado como 2020, os videogames cumpriram um papel valoroso de escape, imergindo jogadores em realidades distantes, cidades e mundos fantásticos e, desta vez, com a árdua missão de não apenas puxar o jogador para fora do mundo real, mas ser convincente o suficiente para que a experiência fosse satisfatória.
Ao longo do ano, peregrinei por diversas locações no mundo dos games e neste artigo listei aquelas que mais me impressionaram – me descolando da realidade ou não.
Isezaki Ijincho – Yakuza Like a Dragon
Pela primeira vez, a série Yakuza se distanciou da tradicional Kamurocho. Em Isezaki Ijincho entramos na pele de Ichiban Kasuga – o protagonista que assume a frente em Like A Dragon.
Isezaki Ijincho é um distrito em Yokohama, cidade japonesa situada na região metropolitana de Tóquio e famosa mundialmente pelo estádio de futebol homônimo, que por anos fora palco das finais do Mundial de Clubes.
No game, a cidade traz o mesmo clima de Kamurocho. Becos repletos de letreiros e o cinza tradicional das ruelas de Tóquio, que trazem ao jogador veterano da série uma sensação de pertencimento.
Isezaki Ijincho é super detalhada, com mini-games, lugares marcantes, personagens caricatos, veículos cansados e uma atmosfera extremamente particular, que mescla o ar histórico a modernidade. O cenário é tudo o que um fã de Yakuza – e do Japão – gostaria de visitar.
Hawk Peak – A Short Hike
A Short Hike é uma doce aventura sobre uma passarinha que fica isolada em uma cidade em uma montanha chamada Hawk Peak. A aventura gira em torno da cidade, que é toda elaborada em uma pixelart lindíssima, que muito se assemelha aos mais detalhados cenários vistos em games do Game Boy Advance.
Hawk Peak é povoada por outros animais e esconde segredos e pontos memoráveis, que engradecem a jornada. Além dos lugares incríveis e repleto de histórias particulares, ecoadas pelos diálogos tocantes dos personagens, Hawk Peak possui a montanha – que é o objetivo final a ser alcançado pelo jogador. A vista é fantástica – e o desfecho da história só traz mais valor a cidade em si.
Se jogar no Nintendo Switch, prepare o botão de print screen. Não serão poucos os momentos.
Midgar – Final Fantasy VII Remake
Não é fácil reconstruir memórias – ou mesmo transformar os seus ecos em novas lembranças, tão memoráveis quanto as que guardávamos com carinho.
Em Final Fantasy VII Remake revivemos o primeiro arco de uma das mais fantásticas histórias dos games. Na pele de Cloud, fazemos um mergulho a Midgar, a capital cercada por muros de concreto, construções futuristas, um subúrbio amargo e repleto de poluição causada pela Shinra – a corporação que domina a cidade.
A Square-Enix acertou a mão no Remake mas certamente foi além das modelagens de seus incríveis personagens. Midgar é exatamente como sonhávamos que seria, em uma versão imaginária de um Final Fantasy Remake, desde 1997.
Um passeio pela reimaginada cidade é um alento aos corações nostálgicos e um grande presente aos marinheiros de primeira viagem. E o game, além de tudo, é imperdível.
Shogum Studios – Paper Mario: The Origami King
Paper Mario é famoso pela direção de arte bastante particular, mas, em The Origami King, a franquia mesclou elementos reais ao mundo da fantasia, criando locações totalmente únicas, com cidades e a natureza formadas por cartolina, papel crepom e semelhantes.
Apesar da Autumn Mountain ser um deleite visual, meu destaque fica para Shogum Studios – a cidade turística do universo do game.
Emulando sensações do Japão Feudal no período do shogunato, desbravamos uma pequena cidade com templos e dojôs bastante carismáticos. A cidade é uma versão de papel de Kyoto e a todo o momento temos a sensação de estarmos em uma maquete ou um diorama perfeitamente elaborado.
O jogo de luz e sombra torna a cidade mais viva, colorida e capaz de dar brilho aos olhos de qualquer um.
Raccoon City – Resident Evil 3
Esquecido na festa de fim de ano da maioria dos jogadores, o remake de Resident Evil 3 não teve nem metade do sucesso de seu antecessor. Para muitos, o game foi tratado como uma grande decepção, mesmo trazendo belíssimos gráficos, uma Jill Valentine extremamente imponente e o Nemesis – que possui uma arcada dentária super alinhada.
Mas o ponto alto do game fica por conta da recriação de Raccoon City.
De volta a cidade onde tudo começou, vivemos uma noite de pesadelo na pele da ex-integrante dos S.T.A.R.S. E a recriação da cidade mais famosa da franquia Resident Evil ficou extremamente fiel. Os becos sinistros, as lojas, o laboratório e até mesmo no retorno a delegacia, palco do segundo título da franquia, o remake de RE3 acertou em cheio na ambientação – e disto, nem o fã mais purista pode se queixar.
Tal como Final Fantasy VII Remake, este Remake foi um tiro certeiro na nostalgia, ao menos no visual de sua cidade. Vale a pena explorar e enfiar pelos cantos escuros – se você tiver coragem.
Menção Honrosa:
Night City – Cyberpunk 2077
A primeira menção honrosa fica por conta do controverso título da CD Projekt Red. Cercado de polêmicas e extremamente questionado tecnicamente, Cyberpunk 2077 fechou o ano de 2020 deixando um gosto amargo na boca dos fãs, que viviam um turbilhão de ansiedade para colocar as mãos no tão aguardado título.
Independentemente dos problemas, Cyberpunk acerta em cheio na criação de sua impressionante cidade. Night City é, esteticamente, um deleite para os fãs do futuro distópico imaginado por William Gibson e desenvolvido através de obras literárias e cinematográficas.
Com um complexo – e super bem elaborado – sistema de estradas, túneis e organização urbana, Night City parece de fato uma cidade de verdade. Letreiros luminosos, feiras de artigos usados, bares e lojas de roupa. Tudo parece ter sido pensado perfeitamente para mergulhar o jogador em um universo deveras particular.
Infelizmente, para mim, a imersão ficou apenas por conta do visual. Com questões técnicas que afastam o jogador da sensação de se estar em um lugar realmente vivo, Night City poderia ser muito mais – e Cyberpunk 2077, como um todo, também.