Desde que os jogos começaram a se tornar parte de nós, o fato de personagens refletirem coisas de nossas vidas, sentimentos, e até nos emocionar em alguns momentos, despertou a correlação entre o mundo que jogamos e o mundo em que vivemos.
Isso mostra o quanto é dado atenção ao que o jogador pode aprender em um gameplay e o quanto pode influencia-lo em decisões reais e em fatores importantes e pessoais – que atire a primeira pedra quem nunca sentiu-se frustrado ou atingido emocionalmente por um jogo. Muitos conceitos surgiram com o passar dos tempos, e jogar um videogame deixou de ser apenas apertar botões, controlar um personagem e ter de se concentrar; agora, passamos nós mesmos a sermos os personagens e a compartilhar diferentes experiências em um mesmo lugar, trazendo muito mais profundidade para tal vivência.
Mas o que isso tem haver com adaptações? É então que lhe respondo: tudo. Os filmes trabalham da mesma forma, por assim dizer, desde sempre; e, com a vinda dos jogos para este tipo de mídia, abriram-se as portas para que tenhamos este conteúdo produzido também para o cinema.
Essas adaptações nem sempre são assim tão bem-vindas para o público-alvo do videogame (nós). É muito comum se ver a noticia de uma nova franquia sendo adaptada para as telonas e isso gerar um sentimento ruim, um receio de qualidade e quando percebemos, já estamos em transe, num mundo paralelo, imaginando o quanto aquilo pode dar errado, o quanto vai ser ruim, o quanto podem acabar com algo que foi tão bem construído e que enfim, amamos.
Prince of Persia: The Sands of Time, primeiro título da franquia produzido pela Ubisoft, possui uma adaptação para o cinema, lançado em 2003(Sim, faz bastante tempo). Essa foi de longe uma das que mais trabalhou os pontos positivos da mídia original, apesar de também cometer seus deslizes (não que isso tenha prejudicado a qualidade final do produto, muito pelo contrário). O longa de Prince of Persia mostra como uma adaptação pode atingir o auge da qualidade que esperamos.
Para quem não assistiu, recomendo desde já. E para quem já assistiu e está se perguntando porque este filme como exemplo, já explico.
O primeiro ponto positivo é que o Prince of Persia recebeu pela primeira vez um nome, Dastan, o que não havia acontecido em nenhum jogo até então, sendo conhecido popularmente apenas por Prince. Tal fato serviu para criar uma identidade mais definida para aquele personagem (re)apresentado nas telas.
A mais notável coerência, no entanto, fica por conta do cenário persa: a cidade de Alamut e o deserto são locações marcantes e, para uma adaptação, esse é um dos primeiros pontos que queremos, esse tipo de referência, de identificação com a trama que já conhecemos. Para completar, como a cereja do bolo, temos o cuidado com a recriação dos personagens: a vestimenta de Dastan é idêntica à do Prince of Persia Warrior Within, segundo título da franquia e, ainda que no filme tenha sido usada para representar o primeiro jogo, o resultado foi uma junção muito boa. Quanto à aparência do ator Jake Gyllenhaal, dispenso comentários, está praticamente igual, se não fosse o bronzeado do original, diria idênticos.
Isto mostra que, ao adaptar, são necessárias mudanças bem construídas e elaboradas, que se encaixem no roteiro original e que agreguem boas impressões, o que infelizmente não acontece na maioria das vezes, quando não acontece o inverso, com mudanças bruscas de aparência nos personagens, cenário e até história, diga-se de passagem o exemplo de Resident Evil, no qual podemos dizer que quase só os zumbis são fieis ao seu conteúdo original.
Esses são os primeiros pontos que, quando saem errados, nos dão um embrulho no estômago, afinal, a coerência com aspectos essenciais da obra original deveria ser a preocupação número 1 por parte dos produtores das adaptações, bem como os cenários, roupas e aparência dos atores.
Podemos citar diversos filmes adaptados dos jogos para falar que não foram como esperamos, mas não há de se esquecer que também tivemos ótimas adaptações.
Os produtores de cinema deixam de reconhecer a força e expressividade da base de fãs sobre os videogames, mostrando apenas visar o lucro e desenvolvendo obras que não fazem jus às originais; e que este tipo de ação ao invés de reverter numa boa popularidade acaba causando o efeito contrário, gerando estigmatização e preconceito toda vez que vemos ser lançado uma nova obra baseada em um jogo; já vamos para o cinema com aquela expectativa de que não vai ser legal e que vão estragar algo que tanto curtimos.
É necessário que possamos sim aceitar mudanças nas adaptações, afinal, não há a possibilidade de um game ser recriado nas telas de maneira exatamente igual ao original. No entanto, espera-se que ao menos o básico seja feito com igualdade e coerência com a obra de origem e que os produtores ouçam nossos gritos que clamam por ver mais jogos nas telonas, porém com seus elementos mais marcantes preservados. Já vimos que isso é possível em Prince of Persia; resta torcer que mais boas adaptações surjam com mais frequência, ao contrário do que hoje acontece.