Jogo brasileiro “Pregnancy” aborda a questão da gravidez por violência sexual

Sendo homem, eu provavelmente nunca cogitei ser vítima de violência sexual ou algo do tipo. E, muito provável também, nunca serei. Então, é realmente uma questão muito difícil de se imaginar na posição cultural, social e política que eu, homem e muitos outros estão, sendo criados na sociedade patriarcal onde ensinam meninas a não usarem saias curtas ao invés de ensinarem a nós respeitarmos e sabermos os limites.

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“Ela sempre evita a palavra ‘estuprador”

Pregnancy(do inglês ‘Gravidez’) aborda esse tipo de tema. Cautelosamente, o jogo conta a história da hungariana Lilla Sandor, de 14 anos. Lilla foi vítima de violência sexual, acarretando em uma gravidez indesejada e em escolhas extremamente difíceis de lidar; é difícil sequer pensar sobre as mesmas. Lilla vive com sua tia Panka e prima Gabriella, numa casa simples, vivendo uma vida que era para ser simples. Frequentando psicólogo e tendo o acompanhamento e apoio de seus familiares, Lilla enfrenta a questão que vai assombrar suas noites: ter o bebê ou interromper a gravidez?

O jogo funciona de uma maneira extremamente simples que, na verdade, você não joga realmente. As falas da protagonista são narradas por slides, demonstrando seus pensamentos, suas falas e as conversas com outras personagens. Você, jogador, assume um papel diferente: sendo a “voz da consciência” de Lilla. Certo ponto do jogo, é pedido para colocar seu nome (ou qualquer outro nome) para a misteriosa voz que pode ser um tormento ou companheiro da protagonista. Haverão momentos que ela irá te perguntar o que deve fazer (na maioria das vezes), sua opinião, dentre outras perguntas que mais servem para preencher o espaço vazio de não ter com quem mais compartilhar seu momento de solidão. A música de fundo, arte sutil e bonita e roteiro simples ajudam a construir o que deixa de ser um jogo e passa ser uma experiência contada aos olhos de quem sofreu.

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Melinda, amiga de infância de Lilla.

Por esse motivo e vários outros, ‘Pregnancy’ não é um jogo pra todos. É uma temática que, antes de TUDO, deve ser levada com seriedade e maturidade. Não tem como tirar a mensagem do que o jogo quer te passar se você ao menos sabe lidar com esse tipo de assunto. O jogo conta com um gameplay onde você simplesmente lê e passa “slide”, faz algumas escolhas e acompanha o resto da trama pelos relatos da personagem. Se você gostar e estiver ciente de que esse não é um jogo convencional, posso recomendar sem sombras de dúvidas. Me enche de orgulho por haver desenvolvedores brasileiros de jogos que se preocupam com essa questão tão alarmante e procuram passar uma mensagem sobre esse tema, nos fazendo um convite a termos empatia, não fazer julgamentos e saber reconhecer que essas pessoas (e pior, crianças) são vítimas de algo tão hediondo que marcará suas vidas para sempre.

Fico feliz também por saber que esses desenvolvedores lutam contra essa comunidade conservadora e por muitas vezes cultivadora do ódio que é o mundo “gamer”. Falar sobre aborto e violência sexual é ainda tratado como tabu por muitos desses, não sabendo reconhecer e ter noção do peso que é um ato desse tipo, havendo piadas e banalizações onde deveria ser espaço para respeito. Por isso, digo aos desenvolvedores: continuem produzindo esse tipo de games e conteúdo. Combatam esse conservadorismo encrostado na comunidade dos jogos. Iremos dar o maior apoio e incentivar cada vez mais o desenvolvimento de um ambiente mais saudável e justo para todos no que tange a cultura dos jogos e derivados.

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O jogo trabalha com sistema de escolhas, relembrando os clássicos da Telltale Games como The Walking Dead e The Wolf Among Us.

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As escolhas feitas pelo jogador aparecem ao final, mostrando uma comparação com todos que jogaram.

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Pregnancy está disponível no Steam por R$ 4,29 e transmite, verdadeiramente, sentimentos.

[infobox]Três chaves para a testagem do jogo foram cedidas gentilmente por Rodrigo Silvestre, desenvolvedor do game.

Agradecemos a escolha do Jogazera e aproveito em reiterar que nossos redatores estão totalmente de braços abertos para os desenvolvedores indies a mandar material em função de fazermos análise, abrir debates e falarmos sobre.

Para mais informações sobre o jogo e do estúdio que Rodrigo trabalha, acesse: http://www.locomotivah.com/[/infobox]


OBS: Infelizmente, o game traz um problema para aqueles que tem dificuldades com língua inglesa ou não dominam: o jogo está todo em inglês. Contatei o criador, e o mesmo disse que inicialmente o enredo do jogo havia sido escrito em português, mas logo o traduziu e manteve as revisões nessa língua. O mesmo trabalha sozinho e atualmente seria muito custoso para traduzir todo o projeto para PT-BR.

Mesmo sendo um dev brasileiro, as intenções se mantiveram apenas para o público de fora. Então, para se ter o total aproveitamento do game, o inglês se torna necessário nessa ocasião.