Eu já não lembro quanto tempo faz, mas minha ideia do que era um jogo de vídeo game se expandiu no momento em que eu encarnava Lucas Kane, um cara aparentemente normal que acabou de assassinar um desconhecido no banheiro de um restaurante, sem nem mesmo saber o porque. Esse é o início de Fahrenheit (ou Indigo Prophecy, que foi como eu o conheci), o responsável por provar pra mim que um jogo não necessariamente precisa de uma jogabilidade fluida para ser memorável.
Deixando a nostalgia de lado, anos depois tive a oportunidade de jogar Detroit: Become Human, o mais novo jogo da Quantic Dream e do diretor David Cage, que estava disponível na Brasil Game Show 2017. Além de poder testá-lo, também tive o privilégio de assistir uma outra demonstração e ver um pouco mais sobre o jogo.
O Caçador de Androides
A demo jogável era a mesma mostrada na E3 de 2016 (pois é), no controle do androide policial Connor era preciso parar um outro androide que havia desviado de suas funções programadas e estava fazendo uma garotinha de refém, além de já ter entrado em confronto com a polícia que invadiu o apartamento tentando salvar a criança.
Como é de costume da Quantic Dream, o visual está lindo, a captura de movimentos assustadora e a ambientação rapidamente me colocou dentro do jogo. A tensão crescente me fez revirar o apartamento em busca de pistas para entender porque meu amigo mecânico estava se comportando daquela maneira, tudo o mais rápido possível, uma vez que não há um marcador que indique quanto tempo ainda resta para salvar a criança. Revirando maletas e lendo anotações, descobri o nome do androide que estava causando aquela confusão e imediatamente uma barra mostrando a minha porcentagem de sucesso em salvar a garota começou a ser preenchida.
Com um sistema que me lembrou os últimos jogos da série Batman Arkham, ao descobrir cartuchos de balas no chão uma simulação é criada para tentar recriar exatamente o que aconteceu (e descobrir outros itens de interesse) permitindo que o jogador avance e volte no tempo para montar o quebra-cabeça do que aconteceu ali.
E interessante notar que no mundo de Detroit os androides são vistos como objetos sem valor. Mesmo Connor estando lá para tentar salvar uma vida, os policiais presentes no apartamento o discriminam e o tratam sem nenhuma compaixão.
Corri para o terraço e lá estava o androide e sua refém. Usando as informações que coletei antes, comecei a tentar convencê-lo a libertar a garota e, sem spoilers aqui, obtive sucesso. Como já é marca registrada dos jogos da desenvolvedora, existem diversas maneiras de resolver a situação, sejam elas pacíficas ou agressivas, e cabe ao jogador escolher sua maneira de jogar e salvar (ou não) a pequena garotinha.
A rebelião das máquinas
A demostração que assisti posteriormente era a mostrada na E3 de 2017, onde Markus (o terceiro e último personagem jogável) tentava invadir uma loja para poder libertar os androides que estavam sendo comercializados ali. Depois de desativar os alarmes e destruir um drone de patrulha, a rebelião das máquinas começou.
Nenhuma novidade quanto ao gameplay foi mostrada, mas após libertar os outros androides o jogador tem a opção de causar uma revolta e começar a destruir o local ou então hackear os painéis de propaganda para espalhar mensagens para os humanos, pregando liberdade e individualidade para as máquinas. Algum tempo depois alguns policiais chegam no local e são rendidos pelos androides e é o jogador que tem que determinar o destino deles.
Felizmente ou infelizmente, Detroit não foge em nada da “fórmula Quantic Dream” e as pequenas novidades em relação a jogabilidade já foram vistas em outros jogos. É o tipo de jogo baseado inteiramente na sua relação com a história e os personagens.
Devo confessar que fiquei um pouco preocupado com essa relação androide x humano. Em nenhum momento das demos é possível sentir empatia com os humanos, tudo parece levar o jogador a ficar do lado dos androides, o que é compreensivo uma vez que todos os três protagonistas são máquinas, mas em nenhum momento é citado qualquer tipo de movimento humano e/ou personagens dispostos a ajudar os androides a serem libertados de suas vidas de servidão.
Obviamente que pouco vimos do jogo e esse lado mais tênue entre o que separa os humanos das máquinas e, como o próprio nome sugere, esse “tornar-se humano” pode aparecer mais pra frente. É torcer pro lado mais Ghost in the Shell, que vimos lá na época do Project Kara, se manter na versão final de Detroit: Become Human que é exclusivo para PlayStation 4 e ainda não tem data de lançamento definida.