Se você acompanha a mídia dos games nos últimos anos, talvez tenha notado uma nova tendência na indústria de jogos digitais. Foi um processo que aos poucos se desenvolveu e hoje é um tanto quanto agravante. Estou falando da crise das desenvolvedoras japonesas de games. Por lá, a frequência de lançamentos de peso diminuiu e a quantidade de sistemas “caça-níquel” introduzidos a estes aumentou. E tudo isso tem uma explicação meio triste.
Sobrevivendo do “arroz com feijão”
Não dá pra negar: a quantidade de franquias icônicas que definiam cada desenvolvedora diminuiu drasticamente. Square Enix, como já mencionei em outro artigo, lucra em cima de seus dias de glória do passado. Eu poderia contar nos dedos (de uma mão) os últimos grandes lançamentos desenvolvidos pela própria SEGA. Você ouviu o nome Konami em algo que não fosse relacionado a Pro Evolution Soccer, Metal Gear Solid ou Silent Hills? (abraços, Castlevania). Futuros lançamentos AAA japoneses estão a caminho para provar que nem tudo está perdido e ainda há inovação. Mas por quanto tempo? Entenda o motivo desse fenômeno nos parágrafos a seguir.
Free-to-play, pay-to-play, microtransações e afins
Todas essas tendências no subtítulo acima têm o mesmo propósito: sugar o nosso dinheiro. A Capcom tornou-se uma verdadeira mestra na arte: Deep Down e Dragon’s Dogma Online serão “gratuitos”, mas como todos nós sabemos a previsibilidade de tal empresa, é bem possível que tais títulos sejam recheados de conteúdos que esperam ansiosamente pelo seu dinheiro para que possam ser acessados.
Como se não fosse o suficiente, empresas como a Bandai Namco estão adotando modelos de pay-to-play, como visto em Tekken Revolution e Ace Combat Infinity. Estes são games onde você joga um número x de partidas, e precisa aguardar algum tempo para poder jogar mais uma vez — ou alternativamente, pagar para mais jogatina.
Mas por que tudo isso?
O motivo é bem simples, na verdade. Todo esse comportamento é o reflexo de um público nipônico que migra cada vez mais para os smartphones. Puzzle & Dragons: Super Mario Bros. Edition e Pokémon Shuffle, por exemplo, são títulos de Nintendo 3DS com apelo ao público consumidor do mercado mobile. De uma forma ou de outra, muitas desenvolvedoras da terra do sol nascente estão investindo nisso, porque é provavelmente a área de jogos de maior crescimento no Japão — juntamente às máquinas de arcade.
As matérias abaixo não me permitem mentir. Confira:
- Puzzle & Dragons: Super Mario Bros. Edition chega ao Nintendo 3DS
- O free-to-play, Pokémon Shuffle, já está disponível no e-Shop
- Resident Evil: Revelations 2 terá microtransações; entenda o funcionamento
Se moldando às preferências atuais
Enquanto alguns se rendem à introdução de artifícios encontrados em jogos mobile em suas produções mais elaboradas, há quem siga outra estratégia. Com a redução do público-alvo em sua terra natal, a solução é expandir os horizontes. Literalmente. Diversos jogos japoneses implementaram mecânicas de jogo provenientes de títulos ocidentais. Basta ver a vida “regenerável” de Metal Gear Solid V, ou os tiroteios desenfreados (principalmente da campanha de Chris) em Resident Evil 6. Com certeza você já ouviu alguém dizer que aquela era a “campanha Call of Duty”.
Isso é feito na esperança de chamar a atenção do público mainstream do ocidente, acostumado a jogar apenas blockbusters em seus consoles ou PCs. A adição dos elementos supracitados faz com que tal tipo de jogador se sinta à vontade com mecânicas e sistemas de praxe. E por bem ou por mal, dá certo na maioria dos casos.
Enfim, consoles já não vendem tanto quanto antes no Japão, e por isso, algumas empresas precisam recorrer a outros métodos de visar o departamento de jogos. A indústria japonesa caminha aos poucos a uma direção não muito otimista, com a finalidade de reconquistar um público uma vez perdido por uma geração de jogos mobile. Algumas de maneira justa, outras nem tanto.