Quantas vezes você já viu alguém jogando algum jogo que, pela classificação etária, não deveria jogar? Pode ser pessoalmente, alguém que você conheça que tenha o jogo, ou ainda na internet, jogando on-line e encontrando alguma criança.
Comigo isso já aconteceu muito. Aliás, acontece direto. Já vi crianças jogando Left 4 Dead, Halo, Mortal Kombat, entre outros. Em alguns casos, as crianças estavam completamente fora da indicação etária do jogo. Não era uma diferença de poucos anos, mas mais de cinco.
A classificação etária existe com o objetivo de não expor as crianças a elementos que elas não consigam entender devido à falta de maturidade, o que poderia ter um impacto em seus comportamentos. A categorização é apenas indicativa, ou seja, os pais que têm a palavra final. O que nos leva à pergunta: dado o número de crianças que jogam esses jogos, será que os pais acham que a classificação etária é bobagem, ou será que não se preocupam com isso? Os pais sabem o que os filhos estão jogando? Muitos jogos têm uma boxart relativamente suave em comparação com o conteúdo do game.
Essa falta de preocupação ou descaso pode ser muito nociva às crianças. Elas estão sendo introduzidas a conteúdos que podem não processar adequadamente. Não que isso signifique que ela vá tentar praticar um fatality no colega de classe, mas pode torná-lo mais acostumado e propenso a recorrer à violência para resolver conflitos.
Note o uso do [highlight ]”pode”[/highlight] na frase acima. Não podemos dizer exatamente o efeito que um conteúdo inadequado causará na criança ou adolescente, se é que vai causar. Mas a classificação etária foi criada com um motivo, possuindo inclusive estudos e opiniões de psicólogos por trás de sua formulação. Descartá-la com um argumento rápido e superficial — ou com um exemplo único — significa ignorar todo o conhecimento e estudo sobre o tema.
Temos diversos jogos no mercado que são adequados para todas as faixas etárias. Quantas pessoas adultas não jogam jogos de classificação livre? Pokémon, Mario e toda sua série, Viva Piñata, jogos de dança e muitos outros são jogados por adultos e crianças. E são muito divertidos. Talvez a criança prefira os jogos adultos justamente para tentar parecer maior, algo bem comum na infância. Mas da mesma maneira que devemos explicar às crianças que algumas coisas só podem ser feitas quando se é mais velho, como dirigir, consumir álcool ou mexer com ferramentas cortantes sem supervisão, deveríamos explicar que aqueles jogos também são para pessoas mais velhas.
Quem perde com a falta de controle no conteúdo apresentado às crianças são, principalmente, elas mesmas. E quem ganha? Ninguém. Bom, talvez a empresa, que vende mais jogos. Mas se vermos que ela poderia ter vendido outro jogo mais adequado no lugar, fica tudo na mesma.
Por mais que o tema seja controverso, no momento ele está sendo ignorado. Discutir se o videogame torna as pessoas violentas é diferente de discutir sobre a classificação etária e se as crianças estão sendo expostas a conteúdo inadequado. Apesar de serem discussões relacionadas, a primeira é sobre o que as crianças deveriam ver ou jogar, a segunda é sobre o que elas estão vendo ou jogando agora.
Por fim, independentemente das possíveis consequências e das opiniões pessoais, será que é tão difícil os pais se inteirarem sobre o que seus filhos estão jogando, sendo que muitas vezes eles mesmos compram os jogos? E será que não caberia um pouco de bom senso nessa hora e um mínimo de consideração com a opinião de especialistas, nem que seja para não deixar um garoto de oito anos jogar Mortal Kombat ou GTA?
Atualmente, estamos em um extremo em termos de classificação etária e jogos, com crianças jogando todos os tipos de jogos. Não falo em puxarmos para o outro extremo, por exemplo tirando dos pais a palavra final, pois isso só criaria outro problema. Mas um pouco de meio termo poderia fazer bem a todos.
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