Ser um designer de games não é fácil. A profissão exige muito mais que simplesmente criar as coisas da sua cabeça e ir colocando: é necessário pensar em tudo, inclusive as medidas e fórmulas a serem usadas. Os controles, os inimigos, seu comportamento… Tudo isso é muito importante, e muitas vezes o trabalho para criar isso é subestimado.
Ainda assim, existem alguns casos onde temos algumas falhas que nos perguntamos: “Como isso aconteceu?”. Resolvi citar alguns casos nos quais o design falhou, e o resultado final foi prejudicado. No caso, busquei jogos que são bons ou teriam tudo para sê-lo, mas um item está falho, e isso acaba se destacando negativamente. Ah, antes que alguém diga que isso é porque não passei de determinado ponto do jogo, a maioria dos jogos abaixo eu terminei, e basta uma procura rápida na internet para ver que não sou o único com estas opiniões. Mas claro, como sempre, são apenas opiniões, passíveis de concordância ou não.
Dead or Alive 3 – Omega, o chefão final que parece de outro jogo
Peraí, que ângulo de câmera é esse? Como eu vou para frente? Hein, isso são bolas de fogo? Socorro!
Dead or Alive 3 é um jogo de luta, com visão lateral em relação ao personagem, onde não existem golpes à distância, apenas corpo a corpo. Todos os golpes também podem ser defendidos e contra-atacados, com exceção de agarrões. Isto é, até o chefe final. Nele, você observa o jogo por uma câmera mais diagonal, enquanto luta contra o inimigo, que possui golpes que não podem ser contra-atacados e ataques à distância. Ah, você começa a luta longe dele, então você vai ter que correr para alcançá-lo enquanto desvia de seus projéteis.
A ideia de variar a mecânica para o chefão final não é ruim em si, porém, neste caso, a foi algo inadequado para os controles e estilo de luta. Tarefas simples, como se movimentar para frente, ficam confusas. Desviar dos projéteis não é fácil, e muitas vezes faltam golpes adequados para lidar com o chefe. Quem quiser ver um pouco de gameplay, aqui tem um vídeo onde um jogador sofre até derrotar o chefe.
Ninja Gaiden II – Dificuldade extrema pelos motivos errados
Você vê 3 inimigos, mas na verdade são seis… ou sete… E eles vão te atacar pelas costas.
Ninja Gaiden II é um dos jogos mais difíceis já feitos. Infelizmente, por todos os motivos errados. De inimigos apelões a uma péssima mecânica de jogo, muitas vezes é questão de sorte passar de uma parte. Dependendo da combinação de movimentos dos inimigos, você simplesmente não tem o que fazer: você vai morrer e ponto, ou ao menos perder muita energia.
Daria para fazer um post só citando os motivos que tornam a dificuldade desse jogo totalmente apelona e sem sentido. Além da habilidade, também é necessário uma enorme dose de sorte para conseguir terminar o game nos níveis mais difíceis. Para citar algumas poucas, temos uma câmera que adora mostrar a parede, enquanto inimigos te atacam de fora da tela tirando mais da metade da sua energia. E chefões que não possuem um momento seguro para serem atacados: é uma questão de sorte se eles vão revidar o ataque de maneira indefensável e te massacrar, ou vão ficar atordoados e você vai escapar ileso.
Ninja Gaiden acaba sendo um belo exemplo de que um jogo pode ser tão difícil quanto os desenvolvedores quiserem, e isso não necessariamente é bom. A maioria dos vídeos de gameplay são de quando tudo dá certo, ou seja, a sorte favorece. Este vídeo, onde o jogador morre, dá uma ideia de como a dificuldade é simplesmente absurda.
The Thing – O jogo que não entrega nada que promete
Ué, o Larry se transformou? Mas eu acabei de fazer o teste nele não tem um minuto
The Thing é um jogo baseado no filme homônimo. Nele, criaturas que podem infectar humanos estão à solta, criando um cenário de terror. Sangue, humanos que se transformam, criaturas saindo do nada. Para aproveitar isso, o jogo anuncia três mecânicas interessantes: primeira, você pode encontrar testes para usar nos outros humanos. Se eles estiverem contaminados, é possível descobrir e acabar com eles antes que eles se tornem uma ameaça maior. Segunda, os outros soldados ficam com medo. Quanto mais tenso o ambiente, mais medo eles sentem, e maior a chance de sofrerem ataques de pânico. Terceiro, os soldados podem desconfiar de você. Fuja das lutas, não compartilhe armas com eles e logo eles poderão achar que você está infectado e te matar.
Bem, eis a realidade do jogo: os outros humanos SEMPRE passam no teste que verifica se eles estão infectados. Com exceção da parte do jogo que te ensina a usar o teste, mesmo que daqui a dois segundos eles vão se transformar e atacar você pelas costas, eles sempre estão limpos. Com exceção de uma única parte opcional, os humanos nunca têm crise de pânico. Ou então isso é tão difícil de acontecer que, por pior que você jogue, este risco é nulo. Além disso, os humanos sempre confiam em você. Basta dar um pouco de munição para eles que logo se tornam seus melhores amigos. A única exceção é se você atingi-los por acidente. Neste caso, eles te matam sumariamente, indo do nível confiança total para certeza que você é infectado na hora. Esqueça os níveis intermediários de desconfiança. Ou seja, duas mecânicas funcionam em UMA situação específica do jogo, e a terceira é totalmente “oito ou oitenta”.
No fim, o jogo acaba sendo apenas um título de horror e tiro em terceira pessoa. Todos os extras e mecânicas anunciadas não passam de escritos no manual de instruções ou na contracapa. Aliás, interessante ler resenhas do jogo e descobrir que muitas delas tinham sido feitas sem a pessoa nem sequer ter ideia do que estava escrevendo, confiando apenas no que o manual e capa diziam.
Mass Effect – O final da série (sem spoilers)
Shepard possuí vários poderes, mas nem eles evitaram a decepção de alguns fãs.
Mass Effect é um jogo que ficou extremamente famoso. A capacidade de tomar suas próprias decisões e influenciar o andamento da história atraiu muitas pessoas, e fez com que o jogo fosse um sucesso de crítica. Uma história densa, com vários elementos e personagens originais, em um mundo totalmente novo. E daí teve o final da trilogia.
Sem nenhum spoiler, o final decepcionou muitos fãs. A maneira como a questão de escolher a história e seu caminho evoluí para compor um final, tal como o conteúdo do final, ou possíveis finais, foi alvo de muitas críticas. Esta decepção dupla acabou baixando um pouco o furor da saga. Com um novo Mass Effect anunciado, existe a esperança que isso seja corrigido, e tanto a história como a maneira como as decisões funcionam sejam melhoradas.
Batman Eternamente – Excelente conceito com péssima execução
Os gráficos mostram golpes realistas… quando você consegue realizá-los.
Batman Eternamente, para Super Nintendo, era um jogo que tinha um enorme potencial para estourar em vendas e se tornar um clássico. Ele é um beat’em up que usava exatamente o mesmo sistema de golpes do Mortal Kombat, pois ambos os jogos eram da Acclaim. O jogo também usava os mesmos recursos gráficos, extremamente avançados para época, além de ter as bugigangas do Batman, que são sempre divertidas. E claro, é o Batman, personagem muito famoso. Bom, e o que deu errado?
Primeiramente, o nível de dificuldade do jogo é bem elevado, novamente da maneira errada. Os inimigos algumas vezes parecem ter clarividência dos seus movimentos. A quantidade de vezes que você ataca eles no alto, e eles abaixam para desviar e te atacam em baixo é extremamente alta. Você só pode levar dois bat-itens por vez, e o jogo parece não ler o comando de lançá-los. Além disso, o jogo possui um loading (no SNES!) demorado e frequente — cada mudança de tela são três ou quatro segundos de espera. Por fim, o jogo ficou repetitivo, mesmo para um beat’em up: de oito fases, duas delas possuem inimigos exclusivos. Nas outras seis, temos o revezamento de quatro inimigos diferentes apenas.
Assim, nem mesmo o Batman conseguiu salvar o jogo. Por mais que apresente uma excelente ideia, de trazer o sistema de um jogo de luta para um gênero diferente, o jogo falhou na execução, o que acabou por torná-lo mais um grande potencial que um grande jogo.
E você? Conhece algum bom jogo, mas que apresenta uma falha significativa de design na sua opinião? Comente conosco.