Análise – Watch Dogs

Desenvolvido e distribuído pela Ubisoft, Watch Dogs é um jogo de ação-aventura em terceira pessoa, lançado em 27 de Maio de 2014 para PlayStation 3, PlayStation 4, Xbox 360, Xbox One e PC.

Watch Dogs foi anunciado na conferência da Ubisoft na E3 de 2012, com a promessa de ser um jogo revolucionário. Além da temática hacker, os gráficos e a forma inovadora de interação online impressionaram e atiçaram a curiosidade dos jogadores.

O jogo seria lançado em Novembro de 2013, junto com os consoles da nova geração. A promessa, entretanto, não foi cumprida. Se não bastasse o adiamento, o jogo foi envolvido em diversas polêmicas, principalmente com relação a um possível downgrade em seus gráficos.

Adiamentos e polêmicas, somados às milionárias ações de marketing da Ubisoft, fizeram de Watch Dogs o jogo mais hypado dos últimos anos. E quando a expectativa é grande, a exigência também é.

Quando lançado, o jogo foi duramente (e injustamente) criticado pelo público. Apesar da onda de ódio, Watch Dogs conseguiu a honesta pontuação de 81/100 no Metacritic. Leia a análise abaixo e saiba porque você deve jogar Watch Dogs, mesmo sabendo que o jogo não entregou o que foi prometido.

História

Imagine uma cidade controlada por um Sistema Operacional Central capaz de monitorar semáforos, fornecimento de energia, câmeras de vigilância, caixas eletrônicos, transporte sobre trilhos, e até os nossos smartphones. Essa é a Chicago retratada em Watch Dogs, uma cidade inteligente controlada por um computador que monitora a vida dos cidadãos.

Quando o controle do Sistema Operacional Central – chamado de ctOS – cai nas mãos erradas, a questão da neutralidade da rede é colocada em cheque. O “sistema” sabe de todas as suas informações pessoais. Você deixa de ser um indivíduo e passa a ser tratado como uma informação em um banco de dados, que pode ser negociada e usada contra si próprio (assunto que atualmente rende inúmeras teorias de conspiração).

Neste contexto, você assume o controle de Aiden Pierce, um hacker que ganha a vida aplicando golpes virtuais. No início do jogo, Aiden e seu comparsa Damien Branks estão hackeando as contas milionárias dos clientes de um hotel de luxo, mas o golpe é interrompido por outro grupo hacker e suas identidades são descobertas.

Aiden e sua família – Nicole, Jackson e Lena Pearce – passam a ser perseguidos por mercenários, e num destes episódios Aiden se envolve em um acidente de carro, causando a morte de Lena, sua sobrinha. Em busca de vingança e obcecado pela culpa que carrega com a morte de sua sobrinha, Aiden vai à procura destes mercenários utilizando o hacking como sua arma principal.

Em sua jornada, Aiden contará com a ajuda de Clara Lille, uma informante grupo hacker do DedSec, que é contra a utilização do ctOS em Chicago; Jordi Chin, um fixer que faz o trabalho sujo para Aiden; e Raymond “T-Bone” Kenney, um ex-funcionário da Blume Corporation (empresa que desenvolveu o ctOS), fornecendo informações importantes para Aiden hackear a cidade.

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O que seria uma simples história de vingança, passa a ser um inescrupuloso jogo de interesses, corrupção e tráfico de pessoas. Por abordar tantos assuntos, diversas vezes Aiden realiza tarefas questionáveis, distantes do objetivo do jogo – que seria vingar a morte de sua sobrinha – deixando a narrativa um pouco sinuosa.

Watch Dogs deixa algumas pontas soltas, evidenciando a tentativa da Ubisoft em “preparar” uma sequência. Isso é bom, pois sua temática é muito rica e pode render muitos jogos; mas também é ruim, pois deixa-se de fazer um jogo com início, meio e fim sólidos. Apesar desses aspectos, Watch Dogs utiliza recursos cinematográficos que deixam os jogadores muito envolvidos, com muitas reviravoltas, fazendo da história um dos pontos fortes do jogo.

Gameplay

A Ubisoft parece ter buscado referências de vários jogos da empresa e trouxe uma mecânica bastante rica para Watch Dogs: é possível ver referências da série Assassin’s Creed, principalmente nos movimentos de andar e correr do protagonista; Far Cry, com relação ao mundo aberto e sistema de level up, no qual o personagem pode gastar pontos de experiência para desbloquear novas habilidades; e Splinter Cell, no quesito stealth e mecânica de tiro.

Além da inspiração em jogos da própria Ubisoft, é impossível não comparar Watch Dogs com a consagrada série Grand Theft Auto, afinal ambos são jogos em terceira pessoa de mundo aberto com foco na ação. Chicago é uma cidade massiva, um mundo aberto que, apesar de ser menor que o mapa de GTA V, possui muitas atividades para realizar. Toda a ação de Watch Dogs, entretanto, é focada no hackerismo.

O Perfilador (Profiler) é um “aplicativo” instalado do smartphone do Aiden, usado para hackear todos os dispositivos eletrônicos da cidade conectados ao ctOS. Com ele é possível invadir as câmeras de segurança da cidade, subir bloqueios nas ruas (muito útil durante perseguições), causar apagões, acessar informações pessoais dos pedestres, entre outras funcionalidades.

Aiden não é hacker. Aiden é usuário de um aplicativo de hackeamento. Watch Dogs seria praticamente um Assassin’s Creed sem a existência do Perfilador (e vice-versa).

Assim como Assassin’s Creed e Far Cry, Watch Dogs possui vários Outposts espalhados pela cidade, aqui chamados de Torres ctOS. Chicago possui 13 torres no total, e Aiden é obrigado a invadi-las para usar o Perfilador nas áreas correspondentes às torres. Invadir Torres ctOS parece interessante nas primeiras vezes, mas a tarefa torna-se repetitiva depois das primeiras tentativas.

Há praticamente duas formas para realizar as missões em Watch Dogs: a silenciosa e a barulhenta. A silenciosa deveria ser desafiadora, mas é simples e sem graça, bastando encontrar a câmera de vigilância correta para visualizar o seu objetivo e hackea-lo à distância. A barulhenta é mais divertida (e semelhante com as missões de GTA), obrigando Aiden a usar suas habilidades de parkour e trocar tiros com os inimigos.

Se por um lado exista uma variação considerável de mecânicas nas missões principais, as secundárias são bastante repetitivas, principalmente para aqueles que estiverem buscando o 100% de jogo. Para completar as missões, Aiden contará com um arsenal de armas bem variado e também alguns “brinquedinhos” que vão desde explosivos a alarmes falsos, até a capacidade de bloquear guardas e pedestres suspeitos por suas ações.

O dinheiro em jogos de mundo aberto é muito importante, mas somente nas primeiras horas de gameplay. Em Watch Dogs não é diferente. Na verdade, pouca coisa pode ser feita com dinheiro no jogo, por exemplo, comprar veículos, armas e minução. Perto do fim do jogo, você terá muito dinheiro e nada para fazer com ele.

Falando em veículos, não posso deixar de citar as físicas e mecânicas ruins de direção. Talvez este seja um dos pontos mais criticados pelos jogadores. Após certo tempo de gameplay, o jogador se acostuma com a direção dos veículos, mas à primeira vista ela é bem irreal. Outra crítica com relação aos veículos – entrando no quesito musical – são os seus barulhos genéricos, principalmente das motos.

Outra coisa que irrita são as falhas de inteligência artificial. Ao parar um veículo no meio da rua, forma-se uma fila quilométrica de veículos atrás do seu. Os NPCs não são capazes de dar ré, ou mudar o trajeto dos seus próprios automóveis. Apenas buzinar. E não se encontra nenhum NPC pilotando motos no jogo, há apenas algumas estacionadas. Ta aí um mistério que precisa ser desvendado: quem estacionou aquelas motos ali.

Áudio e Gráficos

A apresentação de Watch Dogs na E3 de 2012 deixou as expectativas dos jogadores no alto com relação aos gráficos do jogo, fato que frustou um pouco os jogadores que esperavam uma revolução. Os gráficos de Watch Dogs estão longe de serem ruins, pelo contrário, são bastante competentes. Talvez fosse necessário um pouco mais de trabalho da Ubisoft para deixar o visual mais polido. Mas há de se considerar que esta foi a primeira experiência do estúdio para a nova geração com um jogo de mundo aberto tão complexo, repleto de veículos, pedestres e coisas acontecendo ao mesmo tempo.

LeiaWatch Dogs vai rodar em 900p no PS4 e 792p no Xbox One, ambos a 30fps

O jogo roda em resolução 900p no PlayStation 4 e 792p no Xbox One, longe dos 1080p prometidos. Ambos à 30 frames por segundo. No PC, entretanto, alguns programadores descobriram um MOD capaz de habilitar os gráficos mostrados na E2 2012, deixando a qualidade gráfica do jogo absurdamente melhor.

Então fica a pergunta: porque a versão final sofreu um downgrade, sendo que os PCs são capazes de rodar aquilo que foi prometido? Será que as versões dos consoles não seriam capazes de rodar gráficos tão bons, portanto todas as versões do jogo foram niveladas para baixo?

As cutscenes pré-renderizadas são lindas, bem melhores que o jogo rodando em tempo real. Mas ainda assim o jogo é bonito, principalmente nas cenas à noite e com chuva.


Não posso deixar de citar os prédios com fachadas espelhadas que não refletem o cenário em que você está, mas sim um ambiente totalmente diferente – uma realidade alternativa. Isso ficou bem feio. E os faróis dos carros não projetam sombras dos pedrestres que passam na frente. Enfim, é uma sucessão de defeitos que estragam a experiência dos jogadores.

Leia: Vídeo compara gráficos de Watch Dogs entre PS3, PS4 e PC

O áudio, por outro lado, é bastante competente. A trilha original é muito boa, inserida meticulosamente em momentos de bastante ação, elevando a imersão e sensação de adrenalina. A seleção musical para a rádio também é boa e agrada todos os gostos, com destaque para “Day and Night” de Kid Cudi, “Dangerous Tonight” de Alice Cooper e “Acrobot” de Gods of Fashion.

A localização para o português ficou excelente. O dublagem de Aiden, aliás, ficou bem mais natural em português do que no idioma original.

Multiplayer

Assim como na campanha single-player, o multplayer de Watch Dogs está cheio de boas referências. Assim como em GTA Online, é possível juntar os amigos no mundo aberto de Chicago para fazer o que quiser na cidade, ou fazer missões de corrida. Mas essas são, de longe, as melhores partes. O mais legal do multiplayer é poder invadir outros jogadores (e gosto de citar aqui Dark Souls como referência).

Na sua própria visão você sempre é Aiden, mas para o outro jogador o seu avatar é um NPC genérico. Quando você invade outro jogador, é preciso localiza-lo (sem que ele perceba a sua presença) e instalar um “vírus” no celular dele. Quanto mais próximo você estiver de concluir a instalação, menor fica o raio de busca dele. Você precisa estar muito bem escondido/camuflado para evitar que seja localizado. Se você for localizado antes de concluir a tarefa, correr é a única alternativa.

Do outro lado, ou seja, quando você é invadido, a sensação é de total desespero. Com ajuda do Perfilador, você deve localizar o impostor entre os NPCs e mata-lo antes que ele instale o vírus em você. Para isso, é possível atirar para o alto e observar as reações das pessoas. Aquele que agir de forma menos natural é, muito provavelmente, o impostor. Mas e quando o invasor está escondido dentro de um carro, ou no andar superior de um estacionamento repleto de veículos? É pura adrenalina!

Ainda que as invasões online sejam divertidas, Watch Dogs carece de formas divertidas de jogar com os amigos, seja cooperativa ou competitivamente, algo que foi muito bem implementado em GTA Online.

Conclusão

Watch Dogs não é o jogo revolucionário que você estava esperando, e talvez este jogo revolucionário nunca aconteça. É preciso que os jogadores saibam controlar o hype, e que não se deixem impressionar pelas ações de marketing milionárias que visam, sobretudo, vender jogos a qualquer custo.

Watch Dogs é competente, possui muitas pequenas falhas, mas está longe de ser um jogo ruim. Pelo contrário, a Ubisoft conseguiu, dentro do possível, inserir mecânicas inovadoras, com ótimas referências, e com uma história que renderá muitos jogos futuramente. Este é apenas o primeiro episódio de uma franquia que acabou de estrear.

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  • Dezenas de horas de diversão em um mapa aberto repleto de atividades.
  • Invadir outros jogadores para hackea-los é muito divertido.
  • Temática interessante e mecânicas de hackeamento inovadoras.

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  • Narrativa sinuosa, com poucos pontos altos e muitos pontos baixos.
  • Os personagens secundários são mais carismáticos que o protagonista.
  • Watch Dogs parece muito focado em preparar a sua sequência.

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Nota: A cópia de Watch Dogs para PlayStation 4 utilizada para fazer este review foi gentilmente cedida pela Up2Games.