E quem disse que Uncharted 4 precisa ser perfeito para justificar a sua excelência?
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Uncharted 4: A Thief’s End não precisava existir. Quando zerei Uncharted 3: Drake’s Deception, fiquei convencido de que aquela seria a “ultima aventura do caçador de tesouros”. Para justificar o quarto episódio da franquia, a Naughty Dog teve que inventar um personagem, Samuel Drake, irmão mais velho de Nathan Drake, que retorna após 15 anos desaparecido.
Apesar de ser um personagem novo, até então nunca citado na história da franquia, Sam possui uma história verossímil. Tão verossímil que convence o próprio Nathan a abandonar sua via pacata, colocando em risco o seu casamento com Elena Fisher, e a sua própria vida, por uma aventura em busca de uma última cidade perdida.
Se comparado com os episódios anteriores, Uncharted 4 é o episódio mais maduro da saga, com personagens complexos e bem desenvolvidos
O desenrolar da história, todavia, é bastante previsível, servindo apenas de background para explorar os estonteantes cenários do jogo. Mas, se comparado com os títulos anteriores, Uncharted 4 é o episódio mais maduro da saga, com personagens complexos e bem desenvolvidos. Os [highlight]diálogos opcionais[/highlight], herança de The Last of Us, estão presentes no jogo, e ajudam a estreitar o relacionamento entre os personagens, assim como o novo recurso de [highlight]diálogos com múltipla escolha[/highlight].
Sob a direção de Neil Druckmann, Uncharted 4 entrega o [highlight]desfecho digno para Nathan Drake[/highlight]. Não é uma conclusão que leva à reflexão ou foge dos padrões, como aconteceu em The Last of Us, mas é uma conclusão coerente com o histórico da franquia e com a maturidade (ou imaturidade) da sua base de fãs.
A estrutura de Uncharted 4 alterna entre combate (sempre contra um exército mais preparado que você), parkour, puzzles e diálogos. Apesar de seguir a mesma fórmula dos jogos anteriores, a adição de elementos inéditos tiram o jogo da zona de conforto e dão um ar de novidade – principalmente para os veteranos da série.
Entre as novidades, destaco a mecânica de stealth – outra herança de The Last of Us – que foi muito bem incorporada ao combate de Uncharted. Com ajuda dos cenários, que estão maiores, o jogador encontra várias formas de enfrentar os inimigos: seja no velho estilo “sair atirando em todo mundo”, ou esgueirando-se pelas moitas e brechas dos cenários para eliminar os inimigos na surdina.
Outra novidade bem-vinda é a corda de escalada que, além de sua utilidade principal – permitir o deslocamento entre penhascos com uso do gancho -, também pode ser utilizada para arrastar caixotes e outros objetos, bem como guinchar o veículo. A introdução desse elemento nas cenas de parkour exigem do jogador raciocínio rápido e timing preciso, ótimos temperos que tiram a monotonia do gameplay.
A introdução de novas mecânicas de gameplay, como o stealth e a corda de escalada, tiram o jogo da zona de conforto
Também não posso deixar de citar o uso de veículos terrestres e aquáticos, além das cenas de mergulho (sem mencionar o óbvio, o sistema de cover-shooter). Todos estes elementos possuem controles precisos e responsivos, tudo seguindo o padrão Naughty Dog de qualidade. A única ressalva fica por conta dos quebra-cabeças: além de ter poucos puzzles ao longo da campanha, eles são facilmente solucionados.
Mas onde Uncharted 4 realmente brilha é no aspecto artístico. O jogo é tão bonito que chega a “atrapalhar” o progresso no jogo. Eu explico: a cada mudança de cenário eu pausava o progresso para admirar e fazer capturas de telas. O botão share do DualShock 4, alinhado com o recurso photomode – mais um legado de The Last of Us -, nunca foi tão utilizado em um único jogo.
Se nas paisagens o jogo causa admiração, nos personagens o sentimento é de perplexidade. Da textura das vestimentas, passando pelas expressões faciais, até os cabelos, tudo parece incrivelmente real, evidenciando a [highlight]competência dos artistas da Naughty Dog[/highlight]. O metal parece metal, o couro parece couro, e assim por diante. Talvez o único defeito sejam as sombras, levemente pixeladas (mais por causa da limitação do hardware do PS4 do que pela incompetência da produtora).
O multiplayer de Uncharted 4 também é digno de nota, e promete render muitas horas de diversão e agradar os diversos paladares. No momento que escrevo esta análise, o multiplayer conta 8 mapas e 3 modalidades de jogo (além dos Testes, uma espécie de treinamento com recompensas): Team Deathmatch, o clássico mata-mata em equipe; Comando, no qual o time deve capturar territórios (semelhante ao modo Controle de Destiny); e Plunder, no qual os jogadores devem capturar um ídolo (espécie de item) e levá-lo para determinado ponto do mapa.
Ao vencer partidas e completar desafios diários (são 3 desafios por dia), o jogador ganha Relíquias, as moedas do jogo. Estas relíquias são utilizadas na aquisição de itens estéticos e boosters. Além disso, a medida que o jogador completa partidas, novas armas, equipamentos e habilidades são desbloqueados, permitindo ao jogador [highlight]personalizar o build do seu personagem[/highlight]. Nas partidas o jogador pode usar armas leves e longas, ataque físico, e adquirir vantagens com a pontuação acumulada: arma pesada, místico (especial), item (granada, mina, etc.), e um parceiro. A adição destes elementos compráveis adicionam um tempero estratégico bem interessante nas partidas. O multiplayer poderia ter, todavia, a indicação do nível do jogador, para servir como parâmetro de comparação com outros jogadores e indicar o seu progresso (como havia em The Last of Us).
A campanha leva cerca de 14 horas para ser concluída, embora exista um troféu que exija do jogador concluí-la em apenas 6 horas. O fator replay é baixo, pois os eventos do jogo o tornam muito previsível, mas rejogá-lo será preciso para alcançar a platina. Recomendo jogar na dificuldade mais alta para estimular o uso do stealth nos combates.
Uncharted 4 define um novo patamar que será difícil de superar, senão pela própria Naughty Dog com a provável sequência de The Last of Us
Uncharted 4: A Thief’s End define um novo patamar de qualidade para os jogos da atual geração – patamar que será difícil de superar, senão pela própria Naughty Dog com a provável sequência de The Last of Us; e cumpre com louvor a responsabilidade de entregar o final merecido para Nathan Drake, um dos personagens mais icônicos de PlayStation, fechando a franquia com chave de ouro.