Trepang2 é um dos raros casos de um jogo que começou simples, com o desenvolvimento de uma só pessoa, expandiu muito além do escopo inicial e se transformou num colosso. Desde 2016 até o lançamento final em junho desse ano, esse jogo é algo para ser admirado – não só pelas suas excelentes mecânicas de tiro, mas por simplesmente ter sido lançado e competir no espaço com outros jogos com orçamento infinitamente maior.
Entretanto, é preciso ser transparente: onde o gunplay de Trepang2 brilha, todo o resto sofre com falta de atenção e orçamento. Até a música, orquestrada por trilhas de metal que permeiam toda a matança, parece que perde o brilho após os momentos iniciais com o jogo. Dito isso, o quanto os problemas e o orçamento limitado afeta a experiência num geral? Nesse caso em específico, ouso dizer que nem tanto.
Sucessor espiritual de F.E.A.R?
A inspiração mais óbvia para Trepang2 são os jogos de tiro do começo pro meio dos anos 2000. Games lineares com um certo enfoque narrativo, mas que se destacam por suas mecânicas de tiro estilosas e satisfatórias. F.E.A.R, Max Payne e todo outro shooter que te conceda a habilidade de slow motion enquanto cabeças são explodidas no cenário.
F.E.A.R, especificamente, parece ter sido o menino modelo aqui. Trepang2 também conta uma história singelamente similar: megacorporações envolvidas em estudos sobrenaturais e antiéticos, com uma pitada de terror em cima.
O jogador encarna um super soldado conhecido apenas como “Subject 106”. Resgatado de uma prisão especial por uma organização chamada Sindicato, 106 tem uma única missão que lhe é imposta pela Força Tarefa 27 do Sindicato: destruir a corporação Horizon e matar seu CEO. Toda a motivação é gradualmente revelada ao longo das missões, mostrando as atrocidades que a Horizon fazia: mutantes, criaturas bizarras e mais alguns que vou resguardar para não estragar a surpresa.
106 é um protagonista mudo, um guerrilheiro que é saudado constantemente como o ser humano mais brutal que já existiu. Com reflexos inumanos e a habilidade de se camuflar, 106 poderia ter facilmente saído de Crysis. O personagem segue a linha de ser uma “página em branco” para o jogador se imergir no jogo, mesmo que isso pese na narrativa de forma geral.
Da mesma forma que o jogo começa, ele acaba. Sem muitas explicações aprofundadas sobre os temas e o que estava acontecendo de forma geral – tudo se desenrola de forma muito rápida e convoluta, me fazendo ponderar se era esse o objetivo.
Coletáveis de texto espalhados pelas fases também pouco fazem para explanar alguma coisa. Esses logs funcionam mais como pequenos detalhes de construção de mundo do que de fato uma explicação para o desenrolar da narrativa. A premissa é bem interessante, uma pena que é pouco explorada.
Se sustenta só pelo tiroteio?
E aqui vem a grande questão. Como já mencionei, Trepang2 tem um incrível sistema de gunplay: as armas tem peso, são satisfatórias de usar e o slow motion te faz entrar num frenesi maluco de matança que poucos jogos conseguem alcançar. O protagonista também consegue usar duas armas simultaneamente para causar ainda mais estrago (imagine o que duas escopetas semi automáticas fazem aqui).
Apesar de contar também com alguma ênfase em furtividade, esgueirar pelas sombras pouco faz pela diversão nesse jogo. Me questionei várias vezes o motivo pela inclusão do sistema de camuflagem e armas silenciadas sendo que isso vai diretamente contra o propósito do game e do gameplay.
Além disso, o game conta com outros dois recursos bem satisfatórios: chutar e agarrar inimigos como reféns. O chute é auto explicativo, ótimo para atordoar inimigos e criar distância. Pegar inimigos de reféns também traz algumas opções: arremessar, matar ou ativar sua granada e jogá-lo contra os outros. Combinar esse movimento com os chutes e o slow motion é bem legal.
Os problemas também ficam mais evidenciados quando há pouco para se manter: o game é super curto, por volta de 5 missões principais e algumas secundárias. Felizmente, isso pra mim vem como um ponto positivo visto que meu tempo ultimamente tem sido limitado, mas R$109 por 4-5 horas de campanha me parece forçar um pouco a barra.
No fim das contas, sinto que meu tempo valeu a pena pelo o que o jogo proporcionou e me diverti atirando igual um maluco em qualquer coisa se mexesse. Não esperava uma história envolvente ou centenas de horas de conteúdo, então fui bem atendido pelo o que é oferecido – apenas mantenha as expectativas em check.
Trepang2 atualmente só está disponível para PC. As versões de console devem chegar no fim do ano.
O jogo foi analisado com um código de review gentilmente cedido pela publisher.