Análise: Thymesia é um bom soulslike que não se estende demais

Minhas primeiras horas com esse jogo foram um pouco desconcertantes. As óbvias inspirações em basicamente todos os jogos da From Software não foram o bastante para impedir que um feeling esquisito me acompanhasse ao longo da jogatina e constantemente eu me perguntava o que havia de errado.

Talvez fosse a movimentação do personagem, a velocidade meio desajustada da câmera ou o tempo dos meus contra ataques fracassados. Apesar desses problemas, o combate prometia. As animações eram legais e bem feitas (mesmo que várias vezes o protagonista entrasse na parede enquanto executava um inimigo).

A coisa tomou uma proporção intragável ao chegar no primeiro chefe obrigatório. Dando um pouco de contexto: a arena era uma espécie de palco de circo (que tem a ver com a ambientação da primeira fase) e o meliante era um asqueroso desengonçado de cartola simplesmente invencível. Eu juro que pensei em desistir depois de várias tentativas e algumas horas batendo a cabeça contra a parede.

Até que a última coisa que eu esperava aconteceu.

Um patch de poucos GB trouxe um milagre que esse jogo tanto precisava. Além do forte balanceamento dessa desgraça de chefe, diversas correções foram feitas na interface e no feeling do jogo como um todo. Não sei se o que eu relato aqui condiz com o que realmente aconteceu nesse patch, mas a diferença foi monumental.

A partir desse momento o jogo clicou pra mim. Embora esteja bem longe de ser perfeito, pude terminá-lo e trazer aqui as minhas impressões desse filho de outra mãe da From Software.

[Insira aqui mais uma comparação com Bloodborne]

O jogo se passa em uma ambientação meio gótica, meio medieval, em um reino fictício chamado Hermes. Depois de uma praga mortal ter desolado o reino e transformado as pessoas em criaturas bizarras, a salvação do reino está nas mãos de um alquimista que consegue extrair a essência de uma árvore anciã para fazer uma fórmula e salvar o reino.

O nome desse alquimista é Corvus e ele é o protagonista da história. Trajando roupas pretas e uma máscara de doutor da praga da época medieval, o personagem é o sonho de todo roleplayer que quer ser descolado numa mesa de RPG.

Corvus perdeu a memória e não consegue se lembrar como fazer e quais os ingredientes da fórmula. Sendo assim, o personagem parte em busca de reviver as memórias necessárias para encontrar a solução.

Se a descrição do que acontece no jogo parece ser vaga, é porque realmente é. O jogo segue quase a mesma fórmula que os jogos da From em seu jeito de contar histórias, através de curtas cutscenes e descrição de itens (no caso de Thymesia, pequenas notinhas espalhadas por aí).

Me manter engajado com os personagens e a história foi uma tarefa um pouco complicada. A ambientação do jogo é um dos seus pontos mais fortes, mas descobrir a lore por trás dos locais que você visita é pouquíssimo encorajado. Não ajuda o fato do jogo quase não ter dublagem em diversas cenas – todos os chefes são “mudos” e o que eles falam é traduzido em forma de legenda na parte de baixo da tela.

Não senti ou tive conexão com quase nenhum dos chefes ou personagens. Foram poucos os encontros ou sequências que levei a sobrancelha num gesto de surpresa ao entrar em uma arena em que eu sei que um chefão estaria ali. O design repetitivo dos mesmos inimigos também foi um dos responsáveis de tirar a magia de entrar em uma área nova.

É sempre importante lembrar do custo que esse tipo de projeto tem e o quanto os desenvolvedores conseguem entregar com o disponível. Nesse caso, é visível que alguns aspectos precisaram ser mais priorizados do que outros e tenho a sensação que, se o mesmo time tivesse mais orçamento, o resultado poderia ter sido melhor trabalhado.

Gameplay e derivados

Uma das várias maneiras que Thymesia tenta se diferenciar de suas inspirações é como o jogo combina diversos elementos dos soulsborne, virando um grande Frankenstein que de alguma forma deu certo.

O combate é rápido e com grande enfoque em defletir e esquivar de ataques. Corvus possui uma variedade de habilidades que auxiliam em diversos aspectos do personagem, além de contar com um sistema chamado de Plague Weapons.

Esse sistema (e um dos grandes chamativos do jogo) permite que o personagem copie e use diversas armas dos inimigos, como se fossem habilidades únicas. Por exemplo: ao matar inimigos que usam machados, estes podem dropar um pequeno cristal que desbloqueia a plague weapon do machado. Ao equipá-lo, Corvus realiza o mesmo ataque que seus inimigos fazem.

São várias plague weapons de diversos tipos de inimigos e ataques. É definitivamente um dos melhores sistemas do jogo e encoraja o jogador a experimentar. Esse sistema é importante pois Corvus usa apenas um sabre como arma principal (assim como em Sekiro que o protagonista usa apenas uma katana).

Thymesia é um jogo relativamente curto. Caso ignore os objetivos secundários, o jogo pode ser terminado antes das cinco horas. Esse tempo ainda é puramente baseado na sua habilidade, morrer demais ou empacar nos chefes com certeza pode aumentar esse tempo. O jogo quase te obriga a terminar todos os outros objetivos, tanto por uma questão de conteúdo e de enredo. Há muito mais chefes, lore e itens a serem descobertos dessa forma.

Mesmo sendo um tempo de jogo curto, acho que foi uma decisão bem acertada dos desenvolvedores. O game não se estende mais do que devia justamente por conta dos problemas que já mencionei e acho que mais jogos poderiam adotar essa filosofia.

Seria apenas mais um?

Esse jogo é um ótimo exemplo do quão é importante ouvir feedback. Se eu tivesse que ter jogado ele na primeira versão, certamente estaria terminando essa análise com um gigantesco aviso para pular essa bomba.

Felizmente, o balanceamento foi feito e Thymesia é um bom e curto soulslike com combate legal, uma história bem esquecível e personagens apagados. Tenha em mente que você está aqui pelo gameplay, o resto é brinde.


Essa análise foi feita com base na versão de PC cedida gentilmente pela publisher.

Análise: Thymesia é um bom soulslike que não se estende demais
CONCLUSÃO
Thymesia é um bom e curto soulslike com combate legal, uma história bem esquecível e personagens apagados.
POSITIVOS
Combate
Ambientação
Tempo de jogo
NEGATIVOS
História e personagens
Inimigos repetitivos
Polimento no geral
7
BOM