Mal tinha ideia do que me esperaria naquele rápido joguinho de cartas quando adentrei a taberna em White Orchid no comecinho de The Witcher 3. Tive amigos que amaram o conceito e outros que mal perderam tempo em saber do que se tratava. Como um fã de TCG (principalmente de Yu-Gi-Oh e Pokémon), fiquei bastante curioso de como os desenvolvedores tiveram carinho o bastante para formular um outro jogo dentro do gigantesco mundo de Witcher – e como aquele rápido mini-game se tornaria numa franquia a parte no mundo do bruxo Geralt.
Do lançamento de Witcher 3 até a oficialização de Gwent como um card game digital e online, a animação foi constante. A Projekt Red sabia exatamente onde estava liderando a franquia e como iria manejar o nome da marca após a conclusão da trilogia oficial. Era uma carta na manga enquanto mantinha seu público ocupado ao focar todos seus esforços em Cyberpunk 2077 – era o que eu esperava, pelo menos, até me deparar com o anúncio de uma campanha singleplayer de Gwent.
Thronebreaker: The Witcher Tales é uma experiência completa, grande e transmite um enorme carinho a quem realmente é apaixonado por essa franquia. Uma história nova, com personagens excelentes, arquitetados num jogo que reflete a qualidade dos jogos do estúdio que o produziu.
Entre mentiras e conspirações
A rainha Meve, líder dos reinos de Lyria e Rívia, é uma governanta nobre, honesta e incisiva em suas decisões. Sob seu comando, os reinos do norte tentam uma vida próspera em meio a crescente ameaça de Nilfgaard e seu exército de soldados em armaduras negras, famosos por sua crueldade e ímpeto ao marchar sobre terras inimigas. Thronebreaker conta a história pessoal de Meve, seus companheiros e seu povo em tempos de conflito, em uma guerra recém declarada aos seus reinos pelos uniformes negros. A rendição de Lyria e Rívia nunca foi uma opção aos olhos da rainha.
Os eventos do jogo se passam alguns anos antes da trilogia The Witcher, quando a segunda grande guerra contra Nilfgaard se instala. Meve é constantemente testada por decisões morais e políticas por todo lugar onde passa, pelo seus companheiros de governo e demais súditos. Como uma comandante, sacrifícios deverão ser feitos e escolhas difíceis serão tomadas – e tudo isso corrobora para uma narrativa intrigante que te surpreende a todo momento.
Todos os momentos do jogo são narrados por um contador de histórias, descrevendo os personagens e suas respectivas ações, como se fosse realmente um conto escrito por Sapkowski. Todo o elenco é multifacetado e diverso, desde Reynard, o eterno e leal comandante de Meve, até o líder dos Vira Latas chamado Gascon, ardiloso como uma hiena. Espere encontrar aqui toda as intrigas políticas que vivenciamos em The Witcher, além de complexas escolhas morais que impactaram o destino de Meve e seu exército. Para deixar a cereja em cima do bolo, o jogo inteiro está legendado e dublado em português, com ótimas atuações.
Apenas um jogo de cartas
Toda a fundamentação de Thronebreaker é baseada em Gwent, o jogo de cartas que originou o título. Com as regras adaptadas para caber em um modo história, o jogo fica mais dinâmico ao ter apenas duas fileiras (corpo a corpo e a distância) e com batalhas especiais e regras específicas que ditam o rumo da história e das lutas contra inimigos e criaturas. A genialidade aqui é conseguir adaptar um combate que, em sua essência seria de um action RPG, ao duelo de cartas.
Explico: Meve e seu exército são traduzidos a cartas numa partida de Gwent. Cada soldado se transforma numa unidade, com atributos especiais e pontos de batalha, e cabe ao jogador manusear e alterar seu baralho (no caso, os soldados de Meve) para ter vantagem nas batalhas. Existe uma variedade de partidas que adequam regras especiais, que é o caso das partidas quebra-cabeça. Talvez o ponto mais fraco do jogo, nessas partidas o jogador deve descobrir um jeito específico de vencer a luta, que muitas vezes são partidas de apenas um turno e envolvem muita frustração, dependendo da complexidade do puzzle.
Quando não se está em batalha, o jogador precisa gerir seus recurso e comandar seus soldados. Em um mapa de visão isométrica, Meve pode ser controlada para explorar cada canto do mundo. Recolher espólios para seu exército, encontrar baús escondidos e mapas do tesouro, e resolver conflitos está entre as várias atividades que o jogo propõe. É possível fazer upgrades nas barracas dos soldados e no campo de treinamento, expandindo o potencial de seus recrutas e do baralho, além de desbloquear novos personagens (cartas) para compor seu exército.
É divertido explorar e encontrar novos recursos e cartas para seu baralho, além de ter que tomar a frente nas escolhas morais que permeiam as histórias paralelas que Thronebreaker oferece. É de fato impressionante a transcrição desses sistemas para um jogo que seria apenas um card game sem muito compromisso.
Uma verdadeira aventura
Pra quem é amante desse gigantesco universo fantasioso e medieval, Thronebreaker se torna uma aventura indispensável, com uma narrativa excelente e personagens marcantes do início ao fim. Mesmo se você for uma daquelas pessoas que dispensou Gwent em Witcher 3 mas amou o jogo, vale a pena dar uma chance para algo que não vemos todos os dias.
Embora não seja aquele game tradicional de action RPG que consagrou Witcher, fiquei imensamente satisfeito com o pacote que só fomenta a qualidade da indústria com histórias enriquecedoras. Esse novo capítulo na série me deixou bastante animado com o que está por vir de uma das melhores empresas de jogos no momento.
[alert type=white]A análise foi realizada com base na versão de PC cedida gentilmente pela distribuidora.[/alert]