Análise – Tales of Arise
A série Tales of, que completou 25 anos em Setembro de 2020, é conhecida por trazer RPGs com batalhas mais ativas que os jogos tradicionais do gênero. Como fã de RPG, sempre me interesse pelos jogos e com Tales of Arise, não foi diferente.
Desde o anúncio, algo excepcional era esperado, visto que o estúdio migrou da sua engine proprietária para a Unreal Engine 4, permitindo que cenários mais incríveis e detalhados fossem criados. As primeiras imagens e vídeos divulgados foram impactantes e elevaram a barra do hype ainda mais. Até que, após alguns adiamentos, finalmente chegamos em setembro de 2021, com o lançamento de Tales of Arise.
Uma história mais pesada e depois de um tempo, mais confusa
A história de Tales of Arise é mais pesada e intensa, quando comparada aos jogos anteriores. A primeira parte da narrativa está focada na dominação de um povo que acredita ser superior ao povo dominado.
O povo do planeta Rehna invadiu e dominou Dahna e instalou um regime de opressão e escravidão ao povo que lá habitava. Alphen, o protagonista, é um dos escravos no reino de Cazália, mas sem memória de seu passado. Após alguns eventos (que não vou entrar em spoilers), ocorre uma aliança inusitada com Shionne, uma rehnana que porta um grande poder. Essa aliança caminha junto com uma promessa de liberar a terra de Dahna da dominação e derrotar os cinco lordes rehnanos.
Cada um dos 5 reinos que Alphen e Shionne visitam possui sua própria história. Cada povo possui uma luta diferente e a construção e variação entre eles é simplesmente fantástica. Além dos dois protagonistas, outros personagens se juntam à luta, como a maga Rinwell, o rebelde Law e outros dois personagens que estão diretamente ligados à história do terceiro reino.
O tom da narrativa geral de Tales of Arise é bem mais pesado e sério que os jogos anteriores. Toda a opressão é extremamente bem retratada nos diálogos com os NPCs nas cidades e até por algumas sidequests. A construção dos personagens também é mais séria que nos outros jogos e alguns dos estereótipos padrão dos RPGs não estão presentes aqui.
Em praticamente todo RPG é esperado uma certa escalada nos impactos da história e como ela se desenrola, mas em Tales of Arise, as coisas escalam em um nível muito maior na segunda metade do jogo. A história começa a causar reviravoltas e mais reviravoltas que podem até deixar o jogador um pouco confuso com a quantidade de informação. Essa segunda metade me lembrou um pouco Final Fantasy XV e em como muitas coisas acontecem em um curto espaço de tempo depois do capítulo VIII.
São mais ou menos 25 a 30h na primeira parte do jogo, que passa pelos 5 reinos e mais 15h ou 20h para a segunda metade.
Combate clássico, mas com novos elementos e fluidez
O clássico combate da série Tales of, que consiste em combinar ataques comuns com as habilidades, chamadas de Artes, para criar longos combos, foi refinado com a adição de alguns novos elementos. A principal adição está na participação dos outros personagens com movimentos de suporte: uma barra carrega ao longo do retrato dos personagens no canto inferior esquerdo da tela e, ao pressionar um dos direcionais, aquele personagem utiliza um golpe para complementar seu combo, restaurando alguns dos pontos de ação do personagem ativo para, então, poder continuar a sequência de dano no oponente.
Cada personagem possui ações específicas para alguns tipos de inimigos: um deles possui o poder de quebrar barreiras de defesa, deixando o monstro mais vulnerável a dano, uma outra personagem consegue parar investidas dos inimigos, deixando seu time protegido e, assim, ao longo de cada reino na primeira metade do jogo, novos elementos que complementam as batalhas são adicionados, até formar um dos combates mais fluidos e divertidos da série.
Uma outra adição interessante é uma espécie de movimento especial, que é usado depois de algum longo combo nos inimigos, principalmente se ele estiver com pouca vida. Uma barra azul é preenchida ao aumentar o número de golpes daquela sequência e, ao final, pressionando um dos direcionais (do mesmo comando do suporte), um golpe combinando dois personagens é desferido e acaba com aquele inimigo. Esses movimentos são um show de efeitos visuais e mostram o quão bonito Tales of Arise é.
Os inimigos possuem uma dificuldade razoavelmente tranquila, mas o grande salto está nos sub-chefes e chefões de cada dungeon ou área explorada. Esses bosses geralmente possuem uma grande quantidade de vida e suas lutas irão perdurar por muito mais tempo que os simples inimigos até então. Aqui, apenas apertar um único botão não será suficiente, existem momentos que é preciso desviar dos ataques, usar as habilidades de suporte no tempo certo para interromper e deixar o chefão vulnerável e sempre saber se valer dos itens disponíveis.
A frequência de chefes e inimigos com mais vida é bem balanceada até a última dungeon do jogo. Lá, as coisas perdem um pouco a noção, praticamente todos os inimigos são batalhas longas e cansativas e seu time precisará estar muito bem preparado, ou seja, estocado com itens de cura, poções de vida e itens para recuperar CP, para não correr o risco de enroscar em algum ponto e precisar voltar tudo só para poder se reestocar e recomeçar toda a dungeon. Inclusive, o último atalho dessa última dungeon é protegido por seis batalhas bastante desafiadoras, tudo isso depois de matar uma quantidade absurda de inimigos com mais vida do que você possa imaginar.
Um belíssimo mundo a ser explorado e um grupo memorável de personagens
A construção de mundo de Tales of Arise é um dos destaques do jogo. Cada reino de Dahna é único e com características do elemento da região. Por diversos momentos notei que estava apenas perambulando pelo mundo para ver as belíssimas paisagens e detalhes de cada cenário.
Apesar da estrutura um pouco linear, em que há sempre um objetivo a ser seguido indicado no mapa, o jogo incentiva a exploração, com uma diversidade de atividades adicionais, como encontrar as Corujas perdidas pelo mundo em troca de itens cosméticos, áreas escondidas e até alguns sub-chefes em cada área que aumentam o CP do time. As sidequests são o padrão de qualquer RPG: mate monstros, colete itens ou entregue alguma coisa para alguém, mas os conteúdos adicionais de história dos personagens secundários e das regiões fazem essas missões valerem a pena. Ainda existe um conteúdo a ser concluído após o final do jogo, com missões de nível bem alto e lutas bem desafiadoras.
Os personagens de Tales of Arise também merecem uma atenção especial. A construção de cada um deles é excelente, mas o ponto principal está nas interações entre o grupo. A estranheza dos personagens ao notarem a inusitada aliança de Shionne e Alphen, o desenvolvimento das relações interpessoais de cada um deles e as histórias e motivações de cada um são muito bem escritas.
Tudo isso é muito mais desenvolvido pelo novo formato das tradicionais skits, que são pequenas interações entre os personagens em alguma área nova ou após alguma ação. Os diálogos com a figura estática dos personagens foram substituídos por uma animação in-game que traz pequenos quadrados com animações, como em uma história em quadrinhos interativa.
Apesar da dublagem estar disponível apenas em inglês e japonês, as legendas em português também deixam o jogo mais acessível ao público brasileiro.
Resumo
Tales of Arise trouxe uma série com mais de 25 anos para um outro nível. A troca de engine fez muito bem para a capacidade gráfica, principalmente na nova geração, construindo cenários, batalha e efeitos nunca antes vistos. O combate está bastante fluido e as novas adições também são bem vindas. Já a história, que começa muito bem e toca em temas bastante pertinentes e mais pesados que nos jogos anteriores, acaba deslizando com o excesso de informação e proporções na segunda metade do jogo.
Se você é fã da série Tales of ou gosta de um bom RPG, com certeza Tales of Arise está entre os melhores do ano e provavelmente é o melhor da série até então.
Obs: Essa análise foi feita a partir de uma versão de Xbox Series S gentilmente cedida pela Bandai Namco.