Lembro de ter jogado bastante de Diablo 3. Quando ganhei o jogo de presente, lá no natal de 2012, eu já sabia exatamente o que esperar, principalmente por ter colecionado algumas centenas de horas em Diablo 2 e na expansão Lord of Destruction. Problemas de day one a parte (e o famigerado Erro 37 nas primeiras horas iniciais), me diverti bastante no lançamento. Depois de ter terminado a história não havia muito o que fazer e só pude esperar até a expansão Reaper of Souls lançar, além do Modo Aventura, que acrescentou mais umas dezenas de horas na minha jogatina. Fazer fendas, buildar personagens e participar de novas temporadas era uma atividade recorrente.
Felizmente, um jogo apareceu para preencher (em partes) essa lacuna que Diablo 3 deixou quando outros jogos apareceram. Remnant: From the Ashes parte desse mesmo conceito, reformulando completamente o gameplay e alguns aspectos chaves da jogabilidade. O jogo é um third person shooter com forte ênfase no aspecto RPG e de build de personagem, compartilhando fortes semelhanças também com a série Souls. Apesar de parecer como um monstro de Frankenstein por possuir diversas similaridades com jogos diferentes, Remnant possui todos seus aspectos bem delineados e construídos, tendo uma jogabilidade agradável que vai te prender horas a fio.
No mundo do jogo, uma doença parasita conhecida como Root se espalhou e causou a destruição total da Terra, deixando seres infectados e monstruosidades ao longo do caminho. Você, o personagem-genérico-escolhido para dar um fim nesse parasita, deve encontrar uma pessoa conhecida como The Founder, que te guiará à Torre que concentra o coração do Root para que finalmente você possa destruí-lo e conter o apocalipse causado na Terra. O começo do jogo, lento e sem muito o que apresentar, se torna uma aventura interdimensional quando o protagonista chega à Torre, dando acesso a vários outros mundos com ambientações e biomas diferentes.
A lore de Remnant, a um primeiro olhar, pode parecer genérica ou apenas uma desculpa para o jogo existir, mas fiquei bem surpreso que não é esse o caso. Ao explorar os mapas, o jogador pode ter acesso a vários documentos que narram um mundo bem expandido, com uma linha do tempo determinada e uma história convincente. Os personagens importantes para história possuem dubladores que fazem um trabalho decente para a imersão geral do jogo, deixando tudo mais crível. Quem apreciar esse aspecto e se aprofundar nos vários logs de texto, que contam mais um pouquinho sobre o mundo, vai curtir bastante ao descobrir mais sobre todos os acontecimentos no game.
Cada mundo possui dungeons que podem ser completadas em função de ganhar mais loot, como novas armas e armaduras. Apesar do jogo ser bem restritivo com o tanto de equipamento que você ganha ao longo de cada dungeon, existe um balanceamento interessante na progressão, principalmente ao matar os vários chefes espalhados pelos mundos. Ao conseguir o diagrama de novos equipamentos, o jogador deve voltar ao hub principal de Ward 13 e craftá-lo em um dos NPCs de lá, além de manejar bem o uso de materiais necessários para cada craft – basicamente como todo RPG. Há equips que podem ser adquiridos de quebra-cabeças ou escondidos pelos mundos, embora não seja tão abrangente assim.
A exploração também é ponto-chave da experiência, já que muitos dos materiais para fazer novos itens vêm de lugares escondidos ou pouco acessíveis imediatamente. Os mapas são bem lineares, com alguns pontos de divergência para tornar a exploração mais significativa, mas não se engane ao pensar que serão áreas gigantescas. São várias seções bem dividas, geralmente separadas por pontos de loading e checkpoints, que relembram as bonfires de Dark Souls, e que exercem o mesmo papel: recuperam sua vida e resetam todos os inimigos daquela área.
Por ter várias semelhanças com a franquia Soulsborne, um dos pontos esperados é, sem dúvida, a dificuldade. Em sua maior parte, Remnant não compartilha diretamente o espírito masoquista da franquia da From Software, mas possui alguns pontos que, de fato, relembram o sentimento. No começo, quando seu personagem mal tem itens para se manter de pé em meio a inúmeros inimigos, a coisa pode ficar feia e gerar certa frustração. A medida que o personagem progride, a diferença é amplamente sentida. O gameplay é bem construído o bastante para te afirmar que cada morte é causada por falta de habilidade do que problemas decorrentes do jogo.
Assim como outros jogos do gênero, o fator cooperativo também é um ponto importante a ser considerado. Ao jogar co-op, a experiência fica bem mais interessante e o jogo mais desafiador, com a dificuldade sendo ajustada com base no número de players jogando com você. Sendo possível jogar com até três amigos (ao contrário da imagem a baixo que mostra quatro jogadores), esse é o melhor jeito de usufruir de tudo o que o jogo tem a oferecer em questão de dificuldade e desafio.
Remnant: From the Ashes é um título que chegou despercebido, mas que certamente merece sua atenção. Mesmo não possuindo um orçamento milionário e visuais muito refinados, é um jogo sólido e com uma premissa coerente, além de possuir uma variação interessante em seus diversos cenários e ambientações. Há diversos espaços para diferentes tipos de fãs: os de RPG, os de shooter e os de Soulsborne, no qual cada um pode ser agradado por um ponto diferente. Parece ousadia demais com uma alta chance de dar errado, mas felizmente, não foi esse o caso.
Agora, depende unicamente do estúdio continuar o suporte do game a longo prazo e fornecer novas atualizações, com conteúdos interessantes e duradouros, assim como o Modo Aventura aos moldes de Diablo. Mesmo que não alcance o nível de amparo que um live service possui (como Destiny ou The Division), existe uma ótima oportunidade desse jogo ser um grande título por muito tempo. Se você curtiu tudo o que eu falei, não deixe de dar uma chance e visibilidade a produtoras pouco conhecidas. Novas franquias são sempre bem vindas.
[alert type=white]O jogo foi analisado com base na versão de PC cedida gentilmente pela publicadora.[/alert]