Análise – Hearthstone: Projeto Cabum (2018)
No início do mês de agosto, tivemos o lançamento de uma nova expansão para Hearthstone, intitulada Projeto Cabum. Ambientada na misteriosa Área 52, em Eternévoa, e trazendo como tema principal a ciência, Projeto Cabum introduziu no jogo um conjunto com 247 cartas, entre elas feitiços lendários, novos mecanóides e a inédita mecânica de lacaios magnéticos. Além de tudo isso, na semana passada tivemos ainda o lançamento de um novo modo single-player, o Laboratório de Enigmas, com inúmeros quebra-cabeças que desafiaram o raciocínio dos jogadores. Confira a seguir nossas impressões sobre o conjunto, o segundo dos três previstos para o Ano do Corvo em Hearthstone.
É tudo pela ciência!
Como já é tradição em Hearthstone, cada expansão tem um tema próprio, geralmente extraído da lore de World of Warcraft e transmitido por meio de novas cartas para cada uma das nove classes existentes no card game. Conforme revelado pelos desenvolvedores, havia a ideia inicial de trabalhar com a Ciência como temática principal, então buscou-se um personagem que pudesse simbolizar e dar o tom para o novo set. Logo chegou-se à figura de Dr. Cabum, personagem clássico de World of Warcraft e que também já havia aparecido como uma das cartas mais icônicas (e poderosas) de Hearthstone. Dr. Cabum resumia o arquétipo de gênio louco e tinha o carisma necessário para encabeçar um novo conjunto de cartas.
Assim surgiu o Projeto Cabum. Nessa nova aventura, Dr. Cabum reuniu em seu laboratório oito cientistas, cada um especialista em uma disciplina diferente, para realizarem experimentos os mais diversos e estender o seu domínio sobre Azeroth (e espalhar muita confusão nesse percurso).
Em Projeto Cabum, cada classe de Hearthstone ganhou um cientista (na forma de um lacaio lendário) e um experimento (na forma de um feitiço lendário), além de uma área de pesquisa que se revela na temática das cartas de classe. Seguindo essa proposta, a classe Sacerdote ganhou um especialista em clonagem; a classe Druida ganhou um especialista em biologia; Ladino um especialista em química; Mago um especialista em astronomia; Xamã um especialista em meteorologia; Paladino um especialista no estudo dos cristais; Bruxo um especialista no estudo das almas; Caçador um especialista em explosivos; e, por fim, Guerreiro tendo o próprio Dr. Cabum personificado numa nova carta de herói para a classe, sendo especialista em robótica e com direito a um traje cheio de armas e recursos que fazem inveja a qualquer Megazord.
É tudo uma questão de lógica!
Como já é de costume, com uma nova expansão de cartas, Hearthstone também introduz um novo conteúdo single-player, que propõe algum desafio dentro da temática do conjunto e oferece algumas recompensas (dessa vez, foram 3 pacotes de cartas e um novo verso de card exclusivo).
A aventura single-player da vez se chama Laboratório de Enigmas, e vem organizado na forma de 4 laboratórios iniciais, cada um deles com dois dos cientistas de cada classe e seus respectivos ajudantes. Cada um desses quatro laboratórios oferece dezenas de enigmas construídos em torno de um objetivo comum: no Laboratório Letal, é preciso encontrar alguma maneira de derrotar o adversário em um único turno com os recursos disponíveis; no Laboratório Espelho, é preciso reproduzir em seu lado do campo uma cópia perfeita do campo adversário; no Laboratório Tabuleiro Limpo, é necessário remover todos os lacaios de campo com os recursos disponíveis; e, no Laboratório Sobrevivência, é preciso recuperar todos os seus pontos de vida e sobreviver ao superataque do oponente.
Após derrotar os quatro chefes de um dos laboratórios, você libera uma ala do Laboratório Secreto do Dr. Cabum, onde você enfrenta desafios finais seguindo a mesma temática do laboratório anterior, mas numa versão bem mais extrema e difícil – afinal, você estará enfrentando o Dr. Cabum em pessoa, logo, o confronto deve ser à altura! Para se ter uma ideia, em um dos desafios de letal contra Dr. Cabum, é preciso causar 999 pontos de dano em um único turno, então prepare-se para fritar os miolos antes de chegar à solução correta.
O Laboratório de Enigmas sem dúvidas é um dos pontos altos da expansão. Cada um dos desafios foi muito bem pensado e é capaz de engajar os jogadores em um novo tipo de interação com o jogo, diferente dos tradicionais duelos de cartas aos quais já estamos acostumados. A única parte ruim é quando acaba – afinal, esse tipo de conteúdo não tem um fator replay muito alto, já que uma vez decifrado o enigma, não há tanta diversão em fazê-lo novamente. Ainda assim, o conteúdo é digno de elogios e ficamos na expectativa por mais aventuras nesses moldes futuramente.
Uma adição magnífica!
Outro dos grandes destaques da expansão não vem na forma de uma nova aventura ou mecânica, mas sim em uma única carta. Sim, estamos falando de um dos novos lacaios lendários neutros introduzidos em Projeto Cabum: Rojão, o Magnífico. À primeira vista, o lacaio parece bem normal, com status simples e que não chamam atenção; mas não se deixe enganar: seu efeito é único e inédito em Hearthstone – ele permite que você jogue com 18 decks diferentes possuindo apenas uma única carta, ele mesmo.
Como assim? Bom, primeiro, é preciso se familiarizar com o conceito de receitas de deck. A cada nova expansão, a Blizzard atualiza Hearthstone com 18 receitas de decks, duas para cada classe do jogo, utilizando cartas e mecânicas novas – é uma maneira dos jogadores conhecerem e terem uma noção do tipo de estratégias e interações que os designers pensaram quando criaram o novo set. No entanto, cada deck de Hearthstone precisa de 30 cartas para ser fechado, e não é sempre que você tem uma coleção completa à sua disposição para montar cada um deles. Aí que entra o nosso querido Rojão: se você possuir essa carta em sua coleção, basta colocar apenas ela em um deck e ele se tornará um deck do Rojão. Com esse deck, a cada partida ele irá se transformar aleatoriamente em uma das 18 receitas criadas pelos desenvolvedores. Ou seja, uma única carta oferece a possibilidade de jogar com 18 decks diferentes sem precisar possuir mais nada além dela em sua coleção.
Quem já joga Hearthstone por mais tempo sabe que as receitas introduzidas pela Blizzard nem sempre traduzem os decks mais viáveis competitivamente, mas, se pensarmos em jogadores iniciantes, ou que não tem muitos recursos para gastar na criação de cartas, Rojão pode ser um investimento de ótimo custo-benefício, permitindo jogar com todas as classes disponíveis e se familiarizar com as mecânicas do jogo. Outro ponto positivo é que o card será atualizado quando novas receitas forem lançadas, mantendo-se em dia com novas mecânicas e cartas que forem surgindo futuramente, nos próximos dois anos em que a carta estará disponível no modo padrão. Sem dúvidas, uma ótima adição para o jogo, principalmente para quem só quer se divertir e ainda não está tão focado no cenário competitivo.
Mecânicas fortes na teoria, mas e na prática?
Uma das grandes preocupações com o lançamento de um novo set diz respeito ao impacto no meta game – afinal, espera-se que, com novas cartas e mecânicas, o jogo se renove e haja um ar de frescor no cenário competitivo. Após uma expansão anterior (“O Bosque das Bruxas”) considerada por muitos jogadores profissionais e streamers como “morna”, havia grandes expectativas em relação ao que Projeto Cabum poderia oferecer de novo ao card game.
Com cerca de três semanas após o lançamento das novas cartas, as primeiras análises do cenário competitivo [1, 2] mostraram que o impacto não foi tão grande como era esperado. De fato, com exceção do ressurgimento de um ou dois decks, a maioria esmagadora de arquétipos que se mantém no topo dos tiers competitivos permanece a mesma da expansão passada, com adição de poucas cartas do novo set a essas listas que já existiam previamente.
Dos nove feitiços lendários de classe lançados em Projeto Cabum, apenas três estão sendo mais utilizados nas partidas ranqueadas: o de Ladino, nos decks de Ladino Ímpar, o de Paladino, em decks de Paladino Ímpar e o de Bruxo, nos decks de Bruxo Zoo. Mas mesmo esses arquétipos possuem versões mais baratas que não usam os feitiços lendários e que também estão alcançando bons resultados. Ou seja, se você não abriu algum deles nos seus pacotes, pode jogar sem eles sem grandes problemas.
Quanto aos novos lacaios lendários, a situação é ainda pior. Temos uma versão atualizada do Mago de Segredos fazendo uso de Miráster Luna, algumas listas de Caçador de Segredos usando o lacaio lendário neutro Cobaia nº 9 e também vemos a inclusão do lendário neutro Zilliax em decks que possuem alguma sinergia com mecanóides de maneira geral. Quanto à estrela da expansão, Dr. Cabum, o Gênio Louco, a carta de herói tem aparecido mais na versão atualizada do Guerreiro Ímpar, mas, mesmo nesse arquétipo, em algumas partidas o poder heroico aprimorado da classe acaba sendo melhor do que aquele oferecido pela carta do Dr. Cabum e, em algumas situações, ele nem chega a ser jogado durante as partidas.
Se as novas cartas lendárias ainda não tiveram tanto impacto no meta, o mesmo não pode ser dito de uma das novas cartas raras, em específico: a Inventora Risonha. A carta já é considerada a mais forte do conjunto pelo seu potencial de travar as partidas e favorecer tanto decks agressivos quanto decks controle. Ela é a carta mais popular no momento e tem aparecido em 35,3% dos decks, com altas taxas de vitória. Graças a ela, os decks estão cada vez mais incluindo cards como Horror Musguento e Cavaleiro Sangrento, numa tentativa de responder ao impacto que ela gera em campo. Sem dúvidas, é uma das principais candidatas a um possível nerf em atualizações futuras, então, se você tem cópias extras da Inventora, é uma boa ideia deixa-las guardadas.
Quem planta ventos colhe tempestades?
Se Projeto Cabum trouxe cartas e mecânicas interessantes e bem-construídas dentro da temática científica, mas elas ainda não estão sendo tão utilizadas, onde está a falha? Na expansão em si? Nos jogadores que não experimentaram os novos recursos? Na verdade, acreditamos que o problema está longe disso.
Para o bem ou para o mal, o meta que vivemos hoje em Hearthstone ainda é consequência das expansões lançadas no ano passado, durante o Ano do Mamute. Aquele ano foi, sem dúvidas, um dos que introduziu algumas das cartas e mecânicas mais poderosas já vistas no jogo, e os resultados perduram até hoje.
Em Cavaleiros do Trono de Gelo, há exatamente um ano, vimos a introdução das Cartas de Herói, que entravam em jogo com um efeito devastador e davam um novo e poderoso poder heroico para cada classe. Logo em seguida, em Kobolds & Catacumbas, tivemos a inclusão da mecânica Recrutar e das Armas Lendárias, algumas delas também bastante poderosas e com efeitos únicos. A combinação desses elementos possibilitou o surgimento de combos avassaladores e núcleos de cartas que acabaram se tornando centrais no modo de jogar de cada classe. Atualmente, parte considerável da identidade de classes como Caçador e Bruxo, por exemplo, vem da enorme força de suas respectivas cartas de herói e/ou armas lendárias. Já Druida, por sua vez, está moldado por feitiços extremamente poderosos como Peste Incontrolável, Infestação Total e Bifurcação. Mesmo a primeira expansão do Ano do Mamute, Jornada a Un’Goro, ainda deixa suas marcas no modo padrão com cartas muito fortes como, por exemplo, Salvassol Tarim, Meteoro, Vulcão e Cavernas nas Profundezas – essa última é a polêmica Quest de Ladino, que já foi nerfada duas vezes e ainda está longe de desaparecer do meta.
Como cada expansão em Hearthstone permanece por dois anos antes de rotacionar para fora do modo padrão, muito do que é experimentado hoje no meta é consequência de algo que foi lançado bem antes, em expansões passadas. Com conjuntos tão fortes como os do Ano do Mamute, é seguro dizer que só veremos uma mudança mais drástica no cenário competitivo a partir do ano que vem, quando essas expansões de 2017 rotacionarem. Até lá, por mais interessantes que sejam, algumas cartas e mecânicas recém-lançadas em Projeto Cabum apenas não tem como competir com adversários tão poderosos.
A parte boa disso tudo é que, aparentemente, o time de desenvolvedores responsável pela criação dos novos sets possivelmente percebeu as consequências de criar cartas tão polarizadoras, como as lançadas no Ano do Mamute, e optaram por caminhos mais comedidos nas duas primeiras expansões lançadas até agora no Ano do Corvo. Acreditamos que há grande potencial ainda não explorado nesses conjuntos mais recentes, que virá à tona nos próximos dois anos em que eles permanecerão no modo padrão, principalmente depois da saída dos conjuntos do Ano do Mamute.
Mesmo assim, por mais que as listas mais utilizadas hoje no jogo não tenham se modificado radicalmente após a chegada de Projeto Cabum, o meta atual de Hearthstone é um dos mais equilibrados que já se teve notícias, com todas as classes possuindo pelo menos um arquétipo viável competitivamente e sem nenhum deck se destacando demasiadamente sobre os demais. Há opções para quem quer jogar de aggro, combo, midrange, controle – estratégias não faltam, basta se aventurar.
Apesar de ainda não ter impactado tanto o cenário competitivo, a expansão Projeto Cabum conseguiu trazer elementos novos e muito bem-construídos, e que certamente agregam a Hearthstone e estão sendo bem-recebidos pela comunidade de maneira geral, sendo os grandes destaques da vez o Laboratório de Enigmas e o card Rojão, o Magnífico. Agora fica a expectativa para o que nos aguarda na última expansão do Ano do Corvo, que chega em meados de dezembro, e quais combos e interações malucas serão descobertos e refinados pelos jogadores até lá. Tudo em nome da ciência.
Projeto Cabum é a expansão mais recente de Hearthstone. O jogo é free-to-play e está disponível no PC e em dispositivos mobile. Confira mais informações no site oficial.