Análise – Persona 5
Persona 5 é um dos JRPGs aguardados dos últimos anos, desde seu anúncio em 2013. Apenas com um pequeno teaser, o hype da comunidade começou a ser desenvolvido. Após diversos adiamentos, em 4 de abril de 2017, o jogo finalmente chegou no ocidente para o PS4 e PS3, provando ser um dos melhores RPGs já lançados e um dos melhores jogos de 2017 (e olha que ainda estamos em abril, hein?).
Este review está livre de spoilers. Fique tranquilo!
Aprimorando a fórmula dos jogos anteriores
Persona 5 utiliza de diversos elementos presentes em jogos anteriores, desde detalhes de sua história até os modos de jogo. Os protagonistas seguem a mesma linha de Persona 3 e Persona 4: a maioria deles são jovens com características marcantes e um profundo desenvolvimento ao longo da história. O característico sistema de batalhas da série está presente com algumas adições. As relações com outros personagens também é uma das características fortes de Persona 5 e o modo como você as desenvolve afetará muito o gameplay. A liberdade e dinâmica de gestão do tempo também marcam presença neste jogo: você poderá desenvolver as missões da maneira que preferir, respeitando a data limite — caso contrário, será levado à tela de game over. A Velvet Room e seu guardião Igor estão de volta também para ajudá-lo a gerenciar os seus Personas.
Deixe os Phantom Thieves roubarem seu coração
Você é um estudante — com um passado um tanto quanto interessante —, que foi transferido para a academia de Shujin em Tokyo. Logo no começo do jogo, você descobrirá que possui a habilidade de viajar para uma realidade paralela, chamada de Metaverso, que representa os desejos mais íntimos e as reais características das pessoas. Lá, o grupo dos Phantom Thieves é formado e irá agir durante a noite para roubar os corações distorcidos de algumas pessoas malvadas, fazendo-as mudarem radicalmente sua postura perante a sociedade. Os alvos do grupo são variados, mas todos eles estão diretamente ligados com algum personagem.
Take Your Time
Essa é a mensagem principal que está em praticamente todas as telas de loading de Persona 5 e ela literalmente é o melhor resumo que podemos fazer do jogo. Jogue da maneira que preferir, tudo no seu tempo, desenvolva suas características, arrume um emprego, se relacione com pessoas, conheça a cidade e aprenda a fazer café. Tudo isso pode ser feito no seu período após as aulas e nenhuma atividade é mais importante que a outra, todas elas trazem um benefício diferente, deixando você decidir como quer seguir ou o que quer fazer. Para cada missão da história, há um tempo limite que pode ser aproveitado do jeito que você preferir, mas saiba que o castelo (dungeon) deve ser finalizado antes do dia marcado em seu calendário.
Há mais do que tempo suficiente para você desbravar a dungeon completamente e desenvolver diversas atividades paralelas durante as missões, basta tomar cuidado e planejar bem o que fazer.
Relacionando-se com as mais diversas pessoas
O elemento social é um dos pontos mais fortes de Persona 5. Existem diversos personagens com quem você pode se relacionar e cada um deles trará um benefício diferente. Além dos elementos do grupo, você poderá estabelecer amizade com uma médica, que fornecerá medicamentos “diferentes”, um político que pode te ajudar nas negociações com os Personas, uma cartomante, que fornecerá alguns bônus nas batalhas e diversos outros personagens notáveis. Agora, cabe a você, jogador, escolher com quem e como vai desenvolver essas relações. Cada personagem é referido como “Confidant” e representa um tipo de Persona (ligado ao baralho de Tarot) que, ao aumentar o nível da relação, irá prover um bônus quando fundir e gerar novos personas, deixando-os com um nível mais alto que o resultado.
As respostas escolhidas em cada diálogo com os personagens influenciam diretamente na relação e na velocidade que ela pode evoluir (ou não).
Palácios, realidades e mentes distorcidas
As dungeons principais de Persona 5 são chamadas de Palácios e representam a maneira que os alvos dos Phantom Thieves veem a realidade ao seu redor. Seus desejos estão tão distorcidos e tão intensos que alteram toda a realidade à sua volta, criando gigantescas estruturas repletas de inimigos (chamados de Shadows) e armadilhas, tudo para proteger seu Tesouro, que representa seu coração transformado pelos seus desejos. Os palácios podem variar de acordo com o alvo e o seu layout é fixo (diferente dos dois últimos jogos). Por conta disso, há uma preocupação maior com a construção de cenários e ambientação, que são incríveis. Você invadirá os mais diversos tipos de prédios, como Castelos, Bancos e até mesmo uma Pirâmide ou um Cassino. Tudo isso precisará ser feito furtivamente, então faça jus ao nome de ladrão!
As mecânicas de stealth são interessantes e te ajudam a aproveitar de cada duto de ventilação, cada esquina ou cobertura para se esconder das sombras e atacá-las com vantagem, deixando o combate favorável ao seu lado. Por outro lado, se você for pego desprevenido, as coisas irão se complicar rapidamente. Há, também, um pequeno marcador, indicando o nível de alerta dos guardas do palácio, que sobe cada vez que você é avistado por algum inimigo. Com o incremento do nível de alerta, mais inimigos estarão em seu caminho e, se ele atingir 100%, você será automaticamente expulso do palácio, tendo que retornar no dia seguinte.
Há uma grande dungeon presente nos complexos do metrô de Tokyo, e ela representa os pequenos desejos e corações distorcidos de todas as pessoas, chamada de Mementos. Essa sim é uma dungeon com layout aleatório, com diversos níveis para serem explorados. Nela, você poderá lidar com “mini-bosses”, que são pessoas específicas de menor importância, mas com intenções que precisam ser alteradas. Esse é um dos principais pontos de “grinding” do jogo, onde você poderá visitar para enfrentar inimigos, coletar itens e evoluir seus personas, caso esteja com problemas em alguma parte específica dos palácios.
Lutar, conversar ou negociar?
As batalhas são feitas por turno e os inimigos estão espalhados pelo mapa, como nos outros jogos da série. Os personagens são responsáveis pelos ataques físicos e ataques com armas de fogo, enquanto que as habilidades ficam a cargo dos Personas, onde cada um possui suas forças e fraquezas bem distintas. A “novidade” fica por conta do retorno da mecânica de conversar e negociar com os inimigos. Essa característica marca presença nos primeiros dois Personas e também na série Shin Megami Tensei. Essas negociações criam praticamente um meta-jogo, no qual você terá que escolher a resposta certa para cada tipo de personalidade de inimigo e, assim, fazê-lo cooperar, tornando-se um de seus personas ou fornecendo dinheiro e itens. No entanto, se você escolher uma resposta que desagrade o inimigo, ele se revoltará e o atacará novamente.
O grande problema das batalhas é que se o personagem principal morrer, você será levado à tela de Game Over na hora. Por um simples descuido ou se todos os inimigos resolverem atacá-lo, você poderá perder algumas horas de gameplay explorando o palácio e retornar ao último save.
Sempre tome cuidado e mantenha a vida do personagem principal cheia, pois se sofrer ataques demais e ele morrer… Game Over
Temática profunda e reflexiva
A temática das missões de Persona 5 vai muito além de alterar os desejos distorcidos de pessoas notáveis. São tratados temas de grande complexidade e relevância nos dias atuais. Nos momentos iniciais do jogo, você verá como os rótulos impostos pela sociedade afetam seu personagem devido ao seu passado complicado. Temas como a pressão da sociedade e sua influência na vida dos jovens e adultos permeiam entre toda a história, passando por momentos mais intensos e momentos mais fantasiosos. O jogo pode não ser tão intenso quanto Life is Strange ou 13 Reasons Why, mas os temas são igualmente importantes. Além das missões principais, cada personagem que você se relaciona possui sua própria evolução, que pode ser acompanhada com o desenvolvimento das relações.
Brilhante, Colorido e Marcante
Persona 5 segue a mesma linha de Persona 4 em uma composição extremamente colorida, cheia de efeitos que se destacam, deixando a identidade visual do jogo muito marcante. Tudo é extremamente visual e bem trabalhado no jogo, os menus específicos dos NPCs mostram uma silhueta do personagem em questão e uma cor relacionada com sua personalidade. As telas de transição são diferentes de acordo com a localização que você está. O estilo de arte é único e do momento que introdução começa, você já percebe a qualidade visual do jogo.
A trilha sonora é composta pelo mestre Shoji Meguro, que faz músicas para os jogos da Atlus desde o final dos anos 90. Você verá uma grande similaridade com as excelentes trilhas de Persona 3 e Persona 4 (uma pena elas não estarem disponíveis no Spotify).
Conclusão
Apesar de ainda estarmos em abril, eu já tenho minhas apostas para jogo do ano. Persona 5 é um excelente jogo, que leva o gênero JRPG praticamente à perfeição. A história é intensa e aborda temas que vão muito além do jogo. As batalhas trazem de volta diversos elementos interessantes dos primeiros jogos, combinados com o estilo dos últimos dois Personas. A identidade visual é única e extremamente moderna, bem como a trilha sonora. Com mais de 100 horas de conteúdo, Persona 5 é uma compra certa para todo fã de um bom RPG.
Essa análise foi feita com uma cópia gentilmente fornecida pela assessoria de imprensa da Atlus. O jogo foi jogado em um PS4 padrão.