Análise: Midnight Fight Express seria indispensável se não fosse sua narrativa

No buraco deixado por grandes lançamentos no segundo semestre esse ano, jogos independentes fizeram um ótimo trabalho de lembrar a gente que nem só de triple-A vive uma pessoa. Midnight Fight Express, publicado pela Humble Games e desenvolvido pelo time de uma pessoa só (!) de Jacob Dzwinel, ajudaram a compor o catálogo do mês de agosto (e do Game Pass).

MFE pode ser considerado um beat ‘em up com visão isométrica com muitas – *muitas* – referências a outros jogos, séries, filmes e cultura pop no geral. Eu diria que até demais. São tantas referências o tempo inteiro que chegou num ponto que atrapalhou mais do que ajudou a enriquecer o jogo.

Nunca pensei que iria dizer isso de algum videogame, mas queria que Midnight Fight Express se levasse um pouquinho mais a sério. São tantas piadinhas, diálogos cringe e momentos completamente nonsense que me distraiu mais do que me fez focar em o que estava acontecendo.

A minha sorte foi que o combate é tão bom e satisfatório que me eu não me importava mais com a vigésima referência a John Wick, Breaking Bad ou Hotline Miami. E quando eu digo que o combate é bom, estou falando no nível de um jogo de alto orçamento. Saber que esse jogo foi desenvolvido praticamente por uma pessoa deixa isso ainda muito mais impressionante.

O expresso da meia noite

Apesar do nome, o jogo não se passa em um vagão de trem onde você desce a porrada em todo mundo ao dar meia noite. O game conta a história do personagem principal chamado Babyface (top nomes que eu sou 100% contra) e seu legado como um assassino de elite imparável que se aposentou para uma vida remotamente mais pacata.

O jogo começa com o protagonista sendo interrogado pela polícia, obrigando Babyface a refazer seus passos que o levaram até ali. Os policias buscam entender a motivação dos atos sanguinários do personagem, embora sua memória esteja meio embaçada por tudo o que aconteceu.

Recontando seus passos, o protagonista recebe a ajuda de um parceiro desnecessariamente sem graça: um drone. Chamado “Droney”. Eu juro por Deus que não tenho a menor ideia de qual foi o processo criativo por trás desses nomes e acho que nem quero saber. Esse jogo conta também com quatrocentas mil trezentas e vinte e sete facções que querem disputar sua atenção (e também te matar) a todo momento dos jeitos mais bobos possíveis.

É desconcertante o tanto que os diálogos tentam ser engraçadinhos e o tanto que os trocadilhos tentam preencher um vazio narrativo deixado por uma ausência de autenticidade nos personagens ou em suas motivações.

Nas últimas fases eu estava tentado a pular todo e qualquer diálogo que me levasse logo para a ação e não para outra enxurrada de frases de efeito ditas por personagens que eu não me importo. Para um jogo com 40 fases que pode ser terminado em 5 ou 6 horas, os diálogos pareciam tragicamente intermináveis.

Por fim, tanto Droney quanto Babyface vão encontrando e matando vários chefes de gangues que estão profundamente conectados à uma rede de criminosos que querem “destruir” a cidade. A cada chefe morto, descobrem mais sobre a grande conspiração que envolve o protagonista e seu drone.

Há alguns plot twists ao longo da história mas, francamente, estaria mentindo que fiquei surpreso com as revelações e os momentos considerados “tristes” ou reflexivos.

Porrada franca

Como disse lá em cima, o que a narrativa desse jogo peca o gameplay compensa. Temos uma vasta árvore de habilidade com diversas skills úteis (e necessárias) que dão um temperinho nas várias lutas que temos durante o jogo. Contra ataques, esquiva, desarmar inimigos e mais uma penca de outros movimentos tem uma ótima fluidez entre si e dão aquela sensação “badass” que o protagonista tanto exala.

Os níveis são curtos e estruturados de uma forma que quase te obriga a usar todas as habilidades disponíveis. A diversidade de inimigos também ajudam a não deixar o momento a momento do jogo monótono e te obriga a tomar decisões cautelosas sobre como abordar cada situação. E saiba que você vai morrer. Muito.

Também existe a possibilidade de usar armas de fogo, e apesar de úteis, senti forçaram a mão um pouco além do que realmente precisava. Esse é um jogo focado em combate corporal, com uma penca de habilidades e movimentações diferentes, pra quê tanta arma de fogo nos estágios finais? Talvez essa seja minha maior reclamação sobre o gameplay.

É bem legal realizar execuções à lá John Wick, mas acho que poderiam ter avaliado melhor a decisão de obrigar o jogador a usar armas quase de forma consistente. Pode ser que isso seja picuinha minha, mas acho que vale o aviso caso você espere 100% uma experiência como Sifu, por exemplo.

Além do gameplay, devo ressaltar aqui outro ponto fortíssimo: a trilha sonora. Se você é órfão do synthwave de Hotline Miami, devo dizer aqui que a OST é incrível. As batidas e o peso desses hits eletrônicos evocam uma perfeita sintonia com a jogabilidade agressiva. Caso curta esse tipo de música, deixe o volume no 100 e boa matança.

Concluindo

Midnight Fight Express é um projeto impressionante e com um nível de qualidade bem surpreendente, embora os diálogos e a história como um todo deixem muito a desejar. Não é um jogo longo apesar do número de fases e possui um bom nível de rejogabilidade, com vários desbloqueáveis, roupas pro personagem (que também são diversas referências à outras mídias da cultura pop) e outras adições.

Se você busca um jogo curto, com jogabilidade legal e quer apoiar um desenvolvedor independente, Midnight Fight Express é uma ótima adição ao Game Pass que deve ser olhado com carinho.


O jogo foi analisado com base na versão de PC cedida gentilmente pela publisher.

Análise: Midnight Fight Express seria indispensável se não fosse sua narrativa
Vale a pena
Midnight Fight Express tem um sistema de combate super fluído e inventivo que conta uma história esquecível e desinteressante
POSITIVOS
Porrada frenética
Músicas de qualidade
Várias opções de customização
NEGATIVOS
Diálogo e escritas bem ruins
Excesso de referências e piadas em momentos inoportunos
Personagens completamente esquecíveis
7
ADJETIVO