A época é uma parte significativa da experiência de jogar um game; dele pertencer a um certo tempo. Parece meio óbvio, eu sei, mas é bom lembrar que River Raid daria sono na maioria dos jovens de hoje — mas há mil anos, na década de 80, ele era o game mais próximo de conseguir transmitir a sensação de voar. Era simplesmente mágico em toda sua simplicidade e honestidade.
É exatamente esse sentimento, esse cheiro de magia, que transforma Horizon Chase em um jogo obrigatório para todos aqueles que passaram incontáveis horas na frente de Top Gear, Lotus, OutRun e outros grandes jogos de corrida da era 16 bits.
A nostalgia é um dos pilares do game desenvolvido pela gaúcha Acquiris, disponível para Android e iOS, com uma versão para PS4 que chegará em breve. A referência aos anos 80 e 90 também sustenta, já que muitos concordam com a ideia de que HC seria uma carta de amor ao gênero. Eu iria um pouquinho mais longe e diria que não é somente uma carta de amor, mas algo em um envelope especial, escrito à mão com palavras apaixonadas. Como homenagem, não poderia ser melhor.
Na época dos 16 bits, a velocidade de jogos como F-Zero era um dos grandes atrativos para games de corrida. Décadas após, Horizon Chase segue as mesmas características de suas inspirações e, além de manter a velocidade e a pegada arcade, o jogo tem uma roupagem moderna. Provas disso são as vezes em que dá vontade de pisar no freio para apreciar o visual: um low-poly 3D muito, muito bonito. Detalhes do cenário, como árvores, prédios e tipos de estrada dão essa sensação retrô, mas com uma arte linda que permite momentos nostálgicos, como começar uma corrida à tarde e terminá-la noite adentro. Talvez não seja tão complexo de criar esse efeito temporal hoje em dia, mas quando Top Gear foi lançado no SNES, esse efeito não só estava presente, como também era impressionante para a época. O sentimento de ver, lembrar e referenciar esses detalhes vale muito para quem assoprava fitas.
Tão impressionante quanto o visual é a jogabilidade de Horizon Chase, que consegue encontrar um bom equilíbrio para os controles mobiles. Com precisão, você acelera, realiza curvas e ativa o nitro. Apesar de parecer simples, o nível de detalhes na jogabilidade passa pela preocupação do desempenho em cada curva, como descreve o game designer Felipe Dal Molin em artigo no Gamasutra. A ideia é passar de uma curva para a outra privilegiando a maior velocidade. Como parte da estratégia, você precisa calcular quando e onde usar os seus nitros e se atentar ao combustível durante o trajeto — sim, tem que pegar os galões na pista, senão eles ficam pelo caminho.
Mas de todas as partes, a trilha sonora tem um toque muito, mas muito especial. Sua OST foi criada por Barry Leitch, ninguém menos que o compositor original de Top Gear e Lotus. Está tudo lá, inclusive a mesma batida veloz típica da época, apenas com a substituição de guitarras pelos sons MIDI, mas que ditam o mesmo ritmo alucinante que combina perfeitamente. Não sei qual é a feitiçaria ao compor as trilhas, mas o tema repaginado de Top Gear gruda na cabeça e, após algumas horas de jogo, você ainda vai ouvir e cantarolar o tema. Ainda sobre Leitch, vale lembrar o sensacional easter egg de pedido de casamento que o compositor fez para sua então namorada.
O ano de 2017 promete bastante para Horizon Chase e sua produtora, já que a versão para PS4 está programada e em andamento. A ideia da Aquiris é focar no multiplayer local, na boa e velha tela dividida, mas todo mundo ficaria bem feliz com um multiplayer online. É possível bater o tempo dos amigos conectando pelo Facebook, mas seria muito mais divertido derrotá-los na pista. HC tem controles eficientes e o timing certo para um jogo de celular. Para os mais novos, é um dos melhores jogos de corrida para celular que você poderá encontrar, e um dos melhores games nacionais. Para os gamers mais velhos amantes da corrida na era 16 bits, essa é a melhor homenagem que o gênero poderia ganhar. Mas o mais importante de tudo é que, em todos os seus detalhes, Horizon Chase é um excelente jogo.