Análise: Hitman retorna aos dias gloriosos de “Blood Money”

Além de Snake e Sam Fisher, o careca mais famoso dos jogos de stealth também teve seus dias de glória um tempo atrás. Após o clássico Hitman: Blood Money no PS2, a franquia do Agente 47 passou – para muitos – por maus bocados. Concordo em partes, já que me diverti boas horas em Hitman Absolution (2012) mesmo não sendo o suprassumo dos títulos do gênero furtivo da última década.

No anúncio do novo jogo, me perguntava o que havia sobrado para a IO Interactive (desenvolvedora) formular em cima da franquia, e eis que não ficando nem um pouco surpreso, um reboot era a escolha mais sensata a se fazer. Simplesmente intitulado “Hitman“, a aposta em formatos episódicos não foi vista com bons olhos – principalmente por mim. Entretanto, fiquei bem satisfeito com o resultado final ao terminar as missões desse primeiro episódio, que me lembraram do que Hitman se trata.

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Toda história tem um começo

Logo após iniciar o game, somos apresentados a um Agente 47 “recém formado” pela Agência, onde seu eterno oráculo, Diana, mexia os pauzinhos internamente na empresa. Seu plano era de tornar o assassino de aluguel a escolha preferida para matar alvos de alto escalão dentro da dominação megalomaníaca de indústrias formadas por bilionários. Funcionaria da seguinte forma: 47 ficaria às escondidas em alguma parte do mundo e quando seus serviços fossem solicitados, ele prontamente faria o que sabe fazer de melhor.

Nesse primeiro episódio – embora curtíssimo – somos apresentados a duas missões de prólogo e uma missão principal. Nas duas iniciais, 47 é testado em situações que, para qualquer outro mero assassino contratado, são tarefas quase impossíveis. No jogo de interesses, fica claro o desdém que os representantes da Agência têm para recrutar o agente, e aí que a brincadeira começa: [highlight]usando dos meios mais inusitados possíveis para executar seus alvos[/highlight], as duas missões de prólogo são o passaporte de entrada para introduzir 47 em um mundo de assassinatos.

Na missão principal, o agente é enviado para Paris com a função de executar duas pessoas que estão hosteando um desfile de moda para magnatas. É exatamente como você imagina: seguranças em todos os cantos, lugar lotado de pessoas e mil e um jeitos de infiltração para você explorar e disfarces para usar. E é nesse ponto que o jogo me ganhou (com algumas ressalvas).

O poder (ou não) do disfarce

A proposta furtiva de Hitman é uma que difere das usadas em Metal Gear Solid ou Splinter Cell, por exemplo. Ao contrário de evitar ser avistado a qualquer custo, 47 faz questão de ser visto. Visto como um cozinheiro, mecânico, segurança, artista, membro de uma festa, modelo ou qualquer outro tipo de pessoa que você não identificaria como uma ameaça – e é nessa proposta que o game design se baseia.

Partindo disso, o [highlight]jogo te oferece algumas “oportunidades” de assassinato e infiltração que estão diretamente ligadas ao seu alvo[/highlight]. Por exemplo, andando do lado de fora da mansão é possível ouvir a conversa entre dois garçons sobre uma bebida especial que um dos alvos gosta de tomar – um drink exótico que 47 tem a chance de colocar um veneno de rato, esperar uma indigestão e segui-lo até o banheiro, onde você tem a escolha de afogar o indivíduo no próprio vômito. Ou se preferir uma alternativa menos nojenta, enforcá-lo com garrote pode ser uma opção.

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Assassinatos que parecem acidentes, mortes silenciosas e a arquitetura de um crime são os pontos mais latentes e que constroem um gameplay divertido e fluído, mas (como sempre) existem divergências. Dentro do escopo desse game design há certas contradições entre o sistema de pontuação e a formulação do assassinato. Explico: uma de várias maneiras de assassinar um dos alvos é derrubar um sistema de iluminação inteiro sobre a passarela que a vítima está discursando. Um modo de execução que parece um acidente devia te recompensar com muitos pontos no final da missão, não é? Pois não foi o que aconteceu.

Com a queda dessa luminária gigante em cima da passarela, aproximadamente 10 civis também foram mortos, comprometendo minha classificação final em mais de 50 mil pontos, também cancelando o bônus de não ser visto, esconder todos os corpos e morte não notável. Ora, se minha execução foi perfeita e o assassinato semelhou um acidente, por que o próprio sistema (que deveria te recompensar) te pune? Meu único consolo foi um troféu de bronze com 9% de raridade. Uau.

Esse e outros detalhes podem comprometer sua vontade de ser ousado. Quantos pontos eu vou perder? Quantos bônus vou deixar de ganhar? Se você não for do tipo que se importe com números pipocando e uma recompensa de cinco estrelas no final, tal fato não deve ser tão desanimador. Mas a contradição existe, e os mais puristas em execução e pontuação devem ficar bem indignados.

Os detalhes não tão técnicos

Esse era um ponto que eu estava considerando se deveria ser ressaltado, mas após me frustrar com os menus lerdos e o tempo de carregamento inegavelmente longo de um jogo não-tão-bonito-assim deve ficar claro a chateação por conta dos problemas técnicos que o jogo carrega. Em primeira instância, a impressão da fluidez dos 60 FPS logo foi tomada por quedas de quadro, certos problemas de processamento e uma engine que já deveria estar otimizada o bastante para rodar de maneira 100% satisfatória.

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Joguei Hitman no PS4, e a impressão de que eu já vi algo mais bonito em 2012, em Absolution, era constante. Não que eu esteja sendo um chato reclamão: a ambientação é incrivelmente detalhada, principalmente nos interiores dos cômodos da mansão principal e o acabamento como um todo; mas como engolir tantas quedas de FPS num ambiente que não tem nada demais acontecendo? Era realmente pro game estar passando por tantos engasgos ou a falta de otimização virou selinho da Square Enix? [highlight]Não são problemas incorrigíveis, mas a dúvida sobre um polimento mais adequado toma mais espaço do que a raiva enaltecida do jogo “não rodar direito”.[/highlight]

Mesmo com probleminhas bobos, a proposta e execução das novas aventuras do Agente 47 são bem satisfatórias, e dependendo de como os próximos episódios vão sair, Hitman pode ser lembrado como um dos melhores jogos do nosso careca preferido dos últimos anos.

Até o lançamento do próximo episódio, vou descobrindo jeitos mais exóticos, engraçados e menos furtivos de planejar e executar meus alvos. O valor replay aqui é levado a sério.

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Análise baseada na versão do jogo para PlayStation 4 gentilmente cedida pela Square Enix.

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