Quando se fala de estúdios que desenvolvem títulos exclusivos para a PlayStation já vem em mente alguns nomes: Naughty Dog, Sony Santa Monica, Japan Studios, Polyphony Digital, Insomniac Games, Guerrilla Games, entre outros. Mas muitas vezes nos foge o estúdio responsável por lançar o primeiro grande exclusivo do PlayStation 4: Sucker Punch.
A Sucker Punch, que lançou InFamous: Second Son lá em março de 2014 e InFamous: First Light em agosto do mesmo ano, ficou longe dos holofotes por alguns anos até anunciar Ghost of Tsushima em 2017. A nova propriedade intelectual da desenvolvedora prometia ser um jogo que os fãs pediram por tanto tempo: um jogo de samurai de mundo aberto.
Ghost of Tsushima finalmente foi lançado dia 17 de julho e de fato trouxe a experiência de jogar como um samurai em um Japão feudal. Mas será que o jogo é só mais um jogo em meio ao oceano de jogos de mundo aberto dessa geração, ou ele consegue se destacar e se tornar um dos exclusivos mais atraentes lançados no PlayStation 4?
História
Ghost of Tsushima se passa em 1274 e conta a história de Jin Sakai durante a primeira invasão mongol no Japão. O jogo começa com uma sangrenta luta entre os poucos samurais de Tsushima contra o enorme exército mongol, liderado por Kothun Khan, neto do grande Genhis Khan.
Todos os samurais de Tsushima morreram nesse combate, com exceção de Jin, que foi salvo pela ladra Yuna, e Shimura, tio de Jin e um dos líderes do exército japonês, que foi levado como prisioneiro do Khan.
Jin acorda sem entender muito bem o que estava acontecendo, afinal, achou que havia morrido no campo de batalha, mas logo depois Yuna explica a situação para o samurai, que decide, sem pensar duas vezes, em ir ao resgate de seu tio, Shimura. Após ser derrotado novamente pelo Khan, dessa vez no castelo em que seu tio estava sendo feito de refém, Jin vê que precisará deixar a tradicional honra dos samurais de lado se ele realmente quer salvar não só seu tio, mas a ilha de Tsushima.
E o vento levou
Ghost of Tsushima é um jogo de mundo aberto, como todos sabem, mas o começo do game foge um pouco disso e adota uma abordagem mais linear, e isso pode acabar afastando algumas pessoas que decidirem explorarem o jogo no começo e não tiverem paciência de esperar essas quase duas horas de tutorial.
É após esse breve momento de linearidade quando você tem total controle sobre do que você faz no jogo é que Ghost of Tsushima brilha. O jogo, que apesar de ser de mundo aberto e trazer diversas das mesmas coisas que já estamos cansados de ver em jogos desse gênero, trouxe diversas novidades bem vindas, fazendo da exploração uma das coisas mais divertidas de se fazer no jogo.
O motivo de eu dizer isso? Primeiro de tudo é pela incrível ambientação de Ghost of Tsushima, em que sempre parece que você está indo sempre para um lugar mais bonito que o anterior. Além disso tem o vento. O vento é a forma magistral que a Sucker Punch criou para substituir aquele “waypoint” que fica marcado no mapa. Em vez de você ver aquele ponto amarelo com a distância sua até ele marcada embaixo, Ghost of Tsushima faz isso com uma brisa de vento, arrastando folhas e balançando as árvores na direção que você precisa ir para chegar ao seu destino.
E algo que eu vi ser pouco comentado é a neblina do mapa. A princípio ela pode incomodar, afinal, você quer saber onde estão os acampamentos e alguns outros pontos de interesse, mas essa névoa torna muito mais natural a forma que você vai descobrindo as atividades do jogo conforme sua exploração. Ou seja: sem vontade de desistir o jogo por ver diversos “?” no mapa!
Não são as habilidades de exploração que deram o título de “fantasma” a Jin Sakai, afinal, o samurai ganhou esse apelido após derrotar os mongóis de forma quase sobre-humana. O combate de Ghost of Tsushima também merece um grande destaque.
O sistema de combate parece algo simples quando visto de relance, mas quanto mais você passa tempo com ele, mais sua complexidade se mostra. Falo isso pois logo quando você começa a jogar Ghost of Tsushima o combate se resume apenas a aparar os ataques dos inimigos e atacar quando houver uma abertura, entretanto, conforme o jogo vai evoluindo, suas habilidades e abordagens para o combate também vão. Até o ponto em que o combate se assemelha a uma dança mortal de Jin com seus inimigos, alternando posturas e abordagens furtivas com abordagem mais direta de forma que você achar mais conveniente.
Mas não é só de matança que um samurai vive, pois em Ghost of Tsushima você também pode relaxar em fontes termais para aumentar sua vida máxima, ou escrever poemas chamados de Haiku ao mesmo tempo em que deslumbra o ambiente ao seu redor e se questiona sobre a vida, morte, guerra e outros dos tópicos presentes no jogo. Além dessas atividades você pode procurar santuários xintoístas para ganhar amuletos mais poderosos ou ir atrás das Tocas de Raposas para que os bichinhos o levem até santuários escondidos que aumentam o limite máximo de amuletos que você pode carregar e, futuramente, fortalece ainda mais os que você já tem.
Jin Sakai também ocupa eu tempo ajudando seus amigos e a comunidade de Tsushima nas missões que são chamadas de “Contos de Tsushima”. Algumas dessas missões são bem inspiradas e fazem você se importar com os personagens secundários principais do jogo, entretanto, a maioria das missões secundárias que não são ligadas a esses personagens acabam sendo bem repetitivas e se resumem apenas a matar inimigos ou investigar áreas e matar inimigos após a investigação. Por último temos os Contos Míticos. Essas missões são dadas por um músico chamado Yamato que Jin Sakai encontra pelo mundo de Ghost of Tsushima e recompensa o samurai com armaduras melhores e ataques especiais.
O problema do jogo é que nada dessas atividades secundárias são muito inspiradoras e existe uma chance bem alta de você se sentir cansado do jogo caso decida fazer completar todas as atividades secundárias antes da história principal, então é recomendado equilibrar a forma que você lida com isso para não acabar tendo burnout e fazer a mesma coisa sem parar.
Homenagem aos clássicos do cinema?
Um dos pontos que o marketing de Ghost of Tsushima mais tocou durante a promoção do game antes de seu lançamento era o quanto o jogo se baseava nas obras clássicas do cinema oriental, principalmente nos filmes dirigidos por Akira Kurosawa, um dos cineastas mais importantes do Japão, responsável pela criação de “Os Sete Samurais” e da adaptação cinematográfica do conto “Rashomon”.
Por conta disso o jogo conta com o “Modo Kurosawa”, que a princípio parece só um preto e branco simples, mas que na verdade foi estudado junto com uma entidade de curadoria das obras do lendário Kurosawa, tentando simular os tons de cinza usados nos filmes do diretor, assim como a qualidade sonora de suas obras.
Entretanto, a parte cinematográfica fica nisso. Os personagens de Ghost of Tsushima parecem ter passado por um trauma tão gigantesco que eles perderam todas as suas emoções. Pode ser que a batalha inicial contra os mongóis e o passado de Jin tenha feito isso com sua personalidade, mas muitos dos outros personagens sofrem com esse problema.
Ghost of Tsushima conta com dublagem em português e, como de costume em jogos exclusivos da Sony, está excelente. Eu também joguei alguns momentos do jogo com a dublagem japonesa, que, para mim, é a melhor escolha de experienciar a história do jogo. Falando sobre áudio, vale a pena comentar que as músicas do jogo são excelentes e trazem um clima perfeito para diversos momentos do jogo, sejam eles de ação ou cenas mais dramáticas.
Conclusão
Ghost of Tsushima é um jogo de mundo aberto que inova em alguns aspectos de exploração, mas que infelizmente repete alguns dos pecados que os jogos desse gênero vem repetindo nos últimos anos, havendo a chance de alguns jogadores ficarem cansados de algumas atividades do jogo antes que ele apresente todo seu potencial aos jogadores.
Entretanto, uma vez que o Ghost of Tsushima te fisga, é fácil perder horas explorando seu lindo mundo e testando novas estrategias de combate com toda a variedade de habilidades que você vai desbloqueando conforme progride no jogo.