Análise: Firewatch
Firewatch é um walking simulator para PC, Xbox One e PS4. Ele foi lançado em 2016 e desenvolvido pela Campo Santo.
No jogo, você é Henry, um homem que passou recentemente por uma experiência traumática e tenta achar refúgio como vigia de fogo em Wyoming, nos Estados Unidos. Isolado no alto de uma montanha, seu trabalho é procurar por fumaça e manter a natureza segura.
Durante o jogo você tem contato com a sua supervisora, chamada Delilah, por meio de um pequeno rádio portátil – e esse é seu único contato com o mundo exterior. Com um verão quente e seco, é normal que alguns incendios apareçam. Mas, além dos incêndios, a floresta parece ter outros mistérios.
Personagens com histórias conturbadas marcam a trama do jogo
No início do jogo, você tem que lidar com questões relacionadas à esposa de Henry, que sofre de uma doença grave. Você escolhe como ele vai tomar as decisões sobre o futuro da esposa e o próprio. Essas escolhas não influenciam no gameplay, mas ajudam você a entender quem é Henry e a moldar seu próprio caráter.
Será que ele está deprimido? Será que tem raiva? Você quem escolhe o que quer para ele. Quando está na floresta, você começa a andar e tem contato com os comandos do jogo. O tutorial é fácil e as primeiras missões são tranquilas. Recomendo andar pelo parque para ver o tamanho do carinho com que os gráficos foram feitos.
As conversas com Delilah vão se tornando cada vez mais pessoais e você consegue ter uma conexão com essa personagem que é apenas uma voz no seu rádio. O trabalho de atuação dos dubladores é impecável e ajuda muito a dar profundidade aos personagens.
[toggler title=”Aviso de pequeno spoiler (clique para ver)” ]Delilah é uma mulher solitária, que já trabalha há alguns anos como vigia e, aparentemente, é alcoolatra. Por mais que o jogo tenha muito tempo de conversa entre Henry e Delilah, existem muitas teorias de fãs sobre a personagem não ser bem quem ela diz que é. Dependendo do seu comportamento no jogo, ela pode suspeitar que você começou o incêndio no parque (e você também pode suspeitar dela).[/toggler]
O gameplay
Uma das maiores reclamações entre os jogadores de Firewatch é o gameplay. Por mais que eu tenha o categorizado como walking simulator ali em cima, o jogo não se considera assim e isso frustrou muitos jogadores.
Os controles são fáceis e o jogo não é sobre ação, é um jogo feito para criar uma narrativa e contar uma história junto com o jogador. Um dos recursos mais legais é o mapa, que é literalmente um mapa de papel e você só tem ele e uma bússola para encontrar seu caminho.
Durante o jogo você vai conhecendo a floresta e pode encontrar itens interessantes, como uma câmera fotográfica, comida, cordas e outras coisas relacionadas à trama. Vale muito à pena tomar seu tempo e explorar cada canto do universo do jogo.
Aspectos positivos e negativos
Além dos gráficos, o trabalho de atuação dos dubladores e o roteiro, outro destaque positivo seria o cuidado usado na criação da introdução do jogo, quando você está lidando com o passado de Henry e passa por todo amor dele conhecendo Julia, a vida de casal e o fim conturbado por causa da doença terminal de sua esposa.
Apesar de serem frases na tela, o trabalho de som e a linguagem usada fazem o jogador se envolver e se emocionar nos primeiros minutos do jogo. É possível entender que Firewatch quer contar uma história e você vai querer saber cada detalhe dela.
Entretanto, nem tudo são flores. Logo que foi lançado, em fevereiro de 2016, Firewatch sofreu com bugs e jogadores reclamando sobre ficarem presos em pontos do mapa, a história ser devagar e os controles serem fáceis demais. Com o tempo, os bugs foram diminuindo e a base de fãs do jogo é fiel e conta com pessoas que apreciam um jogo com uma boa história em detrimento de ação no gameplay.
Não é um jogo para todos os gostos, mas conseguiu estabelecer um nicho que tem um público relevante, o que faz os aspectos negativos do jogo serem mais relacionados a gostos do que a questões técnicas no fim das contas.
Você decide
No melhor estilo “escolha seu destino”, o jogo conta com um número bem limitado de possibilidades, mas isso não as faz menos interessantes. Nos fóruns sobre o jogo você consegue encontrar finais alternativos caso você tenha uma conduta diferente no decorrer do jogo. As escolhas mais relevantes tem a ver com a sua relação com Delilah.
Quanto mais tempo você passa respondendo às chamadas dela no seu rádio, mais você aprende sobre Delilah e sobre o próprio Henry. Muito além de apenas vigiar a floresta contra incêndios, outras tramas vão se desenrolando e muito mistério aparece pela floresta e cabe ao jogador decidir como Henry vai lidar com questões sobre ética, confiança e relacionamento humano.
Conclusão
Apesar do título da minha análise parecer negativo, no geral, o jogo é bom. O que acontece é que se trata de um tipo de jogo nichado, que é mais relevante para pessoas que gostam de jogar como se estivessem lendo um livro. Para mim, Firewatch é muito mais uma obra de arte que um jogo e, por isso, como jogo, ele não é muito divertido.
Como obra de arte, Firewatch é envolvente e demonstra um cuidado grande na construção dos personagens, das narrativas e da orientação dos dubladores. Seria um audiobook interativo incrível e de muito fácil acesso para muita gente.
Dúbia, como os personagens do jogo, é a minha análise. Não se trata de fatos absolutos, mas da construção da minha experiência como jogadora e como apreciadora de arte. Eu recomendo muito o jogo, mas sempre tenho que deixar claro que ele é uma obra de arte.