Análise: Elden Ring por um marinheiro de primeira viagem

O momento finalmente chegou. Elden Ring está entre nós. E, sendo um fã ou um hater da From Software e de todo o legado criado pela desenvolvedora ao longo dos últimos anos, certamente o burburinho causado pelo lançamento desse novo título deve ter chegado de alguma forma até você. 

Se ainda assim você conseguiu escapar de todo o hype criado pelo irmão mais novo de Dark Souls, Bloodborne e Sekiro, basta saber que Elden Ring foi anunciado numa longínqua E3 2019, com a premissa de trazer a identidade e o gameplay característicos dos demais títulos da From Software para um game de mundo aberto com uma ambientação de fantasia épica e medieval. 

Elden Ring também foi apresentado como um projeto colaborativo entre o diretor Hidetaka Miyazaki e o escritor George R.R. Martin, criador da série de livros As Crônicas de Gelo e Fogo, adaptadas para a televisão no seriado Game of Thrones (HBO). Martin foi o responsável por escrever a história mais ampla do universo de Elden Ring, posteriormente traduzida por Miyazaki na forma de elementos de jogabilidade e de game design. 

Após meses e mais meses de espera e um breve período de testes, Elden Ring finalmente foi entregue ao público no dia 25 de fevereiro deste ano, sendo disponibilizado em todas as principais plataformas do mercado, com exceção do Nintendo Switch. Em resposta ao lançamento, Elden Ring recebeu aclamação universal da crítica e, no presente momento, ostenta uma nota 97 no Metacritic (versão de PS5), sendo um dos jogos mais bem avaliados nesse primeiro trimestre de 2022. 

Mas será que todo o hype e elogios da mídia especializada fazem jus ao jogo em si? Elden Ring entrega tudo o que foi prometido? O título de fato apresenta um avanço da fórmula, ou é apenas “mais do mesmo”? Finalmente veremos um “easy mode” num jogo “soulsborne”? Seria essa a experiência definitiva da From Software?  

Essas e outras perguntas povoaram as redes sociais e os veículos especializados nos últimos dias, e nós do Jogazera não podíamos ficar de fora desse debate. Porém, decidimos trazer a nossa colaboração de forma diferente. Ao invés de apresentar apenas uma única análise definitiva, optamos por divulgar mais de um texto, com pontos de vista distintos e abordando diferentes aspectos de Elden Ring, seja a partir da experiência de um jogador assíduo da série Souls e variantes, ou a de um marinheiro de primeira viagem como eu, que não teve quase nenhum contato com os jogos de Miyazaki e companhia anteriormente. 

Noob sim, mas com orgulho

Gostar de videogames e ser bom em videogames são duas coisas bastante diferentes e que nem sempre se alinham. Eu sou um bom exemplo disso. A mesma falta de coordenação motora e noção espacial que me acompanharam ao longo de toda a minha vida de aversão a esportes me seguiram também no maravilhoso mundo dos jogos digitais. 

A diferença fundamental é que de videogames eu gostava, então continuei insistindo e fui me encontrando em nichos menos punitivos, mais focados em estratégia, simulação, aventura e role-playing. Sabe o jogador casual com orgulho, que sai apertando todos os botões na esperança de que algo incrível aconteça? Ou aquele cara que pega o meio de transporte oferecido pelo jogo e sai explorando o mapa sem rumo, apenas pelo prazer de estar ali e ver o que aquele universo em específico tem a oferecer? Muito prazer, eu sou um deles. 

A fama dos jogos da From Software sempre chegava até mim por amigos e conhecidos e eu sequer me arriscava, porque odiava me sentir frustrado jogando videogames e abandonava todos os jogos em que eu sentia que estava me aborrecendo mais do que me divertindo. Morrer mil vezes para um mesmo inimigo até finalmente conseguir derrotá-lo definitivamente não parecia algo atraente para mim. Até que surgiu um jogo chamado Bloodborne.

Eu me lembro muito bem de como achei todo o material de divulgação incrível, a estética, a ambientação, parecia que tudo ali tinha sido feito sob medida para me fisgar e fazer eu me jogar de cabeça naquele mundo sombrio e misterioso. Eu já tinha um PS4 na época do lançamento, então assim que consegui botar a mão numa cópia do jogo, decidi me arriscar e ver o que havia de tão impressionante nas obras daquela desenvolvedora que cultivava uma legião fervorosa de fãs. 

Nunca esqueço daquele fatídico dia. Comecei bastante empolgado, fui me aventurando aos pouquinhos, tentando entender os controles, até que cheguei num ponto, bem no começo do jogo, algo como uma praça, com um número considerável de inimigos vagando a esmo. E o que já era esperado aconteceu: eu travei ali. Não consegui ultrapassar aquela área ou me livrar dos inimigos de jeito nenhum. Tentei zilhões de vezes, mas o conceito da jogabilidade, o timing específico, o level design punitivo, nada entrava na minha cabeça. Eu literalmente dei de cara com a famosa “barreira de entrada”, o tal filtro que separa os jogadores casuais dos hardcore. E naquele mesmo dia eu desisti de Bloodborne e nunca mais encostei nele, frustrado e arrependido.

Desde então, me acomodei em torno do conceito de que eu era mesmo um noob, que aqueles jogos simplesmente não eram para mim, e segui em frente, acompanhando todos os lançamentos da From Software de longe e com desconfiança. Vez ou outra eu me deparava nas minhas redes com algum streamer famoso sofrendo com Sekiro (até hoje me divirto com o vídeo do AfroSenju enfrentando um chefe macaco, aliás) e aquilo só reforçava em mim a certeza de que era mesmo melhor eu ficar bem longe e preservar minha sanidade jogando jogos em que eu conseguia alterar a dificuldade caso ficasse travado em alguma parte. Até que surgiu Elden Ring e toda a história se repetiu mais uma vez. 

Provando do fruto proibido

Fazendo parte da equipe do Jogazera, era inevitável não estar sempre em contato com cada novidade anunciada sobre o título e acompanhar de perto a empolgação do nosso queridíssimo colega de time Marcus, fã de carteirinha da From, que inclusive fez esse infográfico lindão celebrando o lançamento do jogo

Eu observava tudo de longe, desconfiado, mas ia sentindo aquela coceirinha de novo, afinal, o esperado jogo marcava todas as caixinhas de elementos que fazem meus olhos brilharem — mundo aberto: confere; fantasia medieval: confere; magia: confere; e a lista só continuava aumentando. Eu já havia me conformado em não jogar Elden Ring, acreditem. Eu já tinha até mesmo comprado Horizon Forbidden West, lançado dias antes. Aquilo só podia ser uma cilada. 

Mas daí saíram as primeiras críticas e os vídeos de primeiras impressões. Veio também o feriado de carnaval e alguns dias de folga do trabalho. E a tentação foi dura demais para resistir. Deixei Aloy quietinha, me esperando para explorar o Forbidden West numa outra oportunidade no futuro, e decidi comprar o tal jogo do anel, torcendo para que, dessa vez, a minha história com a From Software tivesse um final diferente. 

Calibrando as expectativas e mergulhando de cabeça

Antes de dar um passo definitivo, me certifiquei de que havia mesmo a possibilidade de jogar como mago e ficar atirando feitiços nos inimigos de longe. Até brinquei com os colegas do site que, na pior das hipóteses, eu poderia apenas ficar passeando com meu cavalo e conferindo o tal mundo gigantesco anunciado aos quatro ventos. Não teve um jogador de World of Warcraft que conseguiu atingir nível máximo sem matar um único NPC? Quem sabe eu não pudesse fazer o mesmo em Elden Ring?

Dei uma pesquisada bem rápida sobre as classes, escolhi o tal astrólogo que todos diziam ser bom para iniciantes e decidi fazer o possível para, pelo menos, conseguir ganhar o cavalo mágico, que facilitaria minha exploração por aquele mundo hostil. Os primeiros minutos foram engraçados, no mínimo. As inúmeras mensagens de jogadores, já no primeiro mapa, me pegaram de surpresa e testaram minha credulidade. Eu fiquei alguns bons minutos tentando entender o que significavam todas aquelas recomendações para “contemplar” ou “venerar” isso ou aquilo. Outras eram mais assertivas e me pediam para atacar paredes ou pular de penhascos e encontrar segredos adiante. Como um bom noob, eu pulei, obviamente, e aprendi a minha lição de não mais confiar em conselhos de jogadores desconhecidos (pelo menos me diverti com os inúmeros e onipresentes “try finger, but hole?”).

O primeiro chefe, que parecia uma aranha saída das profundezas do inferno, me matou em questão de segundos, mas eu sabia que aquilo tinha mesmo que acontecer. Em seguida veio a primeira cutscene de fato e com ela a consciência de que eu já estava completamente fisgado pelo jogo. Eu só continuava repetindo a mim mesmo: “por favor, não me decepcione, por favor, não me decepcione”. Eu realmente queria muito que tudo aquilo desse certo e o investimento não tivesse sido mais uma vez em vão.

Fui aos poucos me acostumando com a movimentação mais “dura” do personagem, mas fiquei com receio de me jogar de um segundo penhasco, mesmo com a recomendação explícita de um espírito do jogo, e acabei pulando o tutorial sem querer. Quando me dei conta do que tinha feito, achei melhor resetar e começar novamente, dessa vez reservando um pouco do meu tempo para melhor me habituar com os controles. 

O tutorial foi menos exigente do que eu estava esperando e isso até me deu uma certa esperança. Eu consegui inclusive derrubar um inimigo escondido numa plataforma mais alta. Aquilo deveria ser algo bom, certo? Passei pelo desafio final do tutorial, um soldado um pouco mais forte que os inimigos anteriores, e finalmente contemplei o que me esperava atrás da grande porta. 

Nesse ponto, não estou exagerando quando digo que fiquei bastante impressionado com o que vi. Não tinha como não dar o braço a torcer, a direção de arte e a construção do mundo em Elden Ring são mesmo belíssimas. Aquelas gigantescas árvores douradas sem dúvidas ainda vão ficar na minha memória por um bom tempo. 

A partir daquele momento, me joguei de cabeça e fui deixando o jogo me guiar, respeitando meus limites e me afastando sempre que encontrava algum obstáculo que eu julgava ainda não estar pronto para lidar (olá, lindo sentinela dourado montado a cavalo bem no meio do meu caminho, estou falando de você). Logo estava em posse da minha incrível montaria mágica e, aos poucos, ia acumulando itens e runas que me deixavam mais bem equipado e pronto para dar o passo seguinte. 

Game design inteligente, mas até certo ponto

Meu primeiro contato com Elden Ring foi de estranhamento. Muitas das estratégias recorrentemente utilizadas em outros videogames para guiar um jogador iniciante praticamente não existem aqui. Talvez seja mais fácil para quem jogou outras obras da From Software antes, mas, falando exclusivamente do ponto de vista de um completo novato, muitas coisas são apenas sutilmente apontadas enquanto outras sequer são explicadas (até agora eu estou tentando entender como buffs e debuffs funcionam de fato, por exemplo). 

Sim, eu entendo que essa tão referenciada “dificuldade” é uma característica prevista pelo game design da From Software e até mesmo uma marca autoral do diretor. Não fiquei confuso no que diz respeito a perceber que só iria encontrar as respostas para os desafios em meu caminho explorando o mapa com dedicação e buscando por alternativas. Porém, é notável o quanto esses referenciais do que fazer são muitas vezes escassos, vagos ou ambíguos. Uma das máximas da criação de narrativas ficcionais é a de que uma obra não deveria depender de fontes externas para ser fruída de maneira satisfatória, ela deveria ser capaz de se sustentar por conta própria. Mas, com Elden Ring, por alguns momentos eu honestamente duvidei se esse era mesmo o caso. 

Dentre os diferentes perfis de jogador, eu me considero um explorador ao extremo. Gosto de verificar cada cantinho de um cenário antes de seguir para o próximo. Gosto de conversar com NPCs até esgotar todas as opções de fala. Gosto de ler e ouvir todos os documentos textuais e sonoros espalhados pelo mundo. Mas, em Elden Ring, fazer isso não me pareceu o suficiente. Sim, eu consegui itens e equipamentos diversos, mas nem sempre eu sabia para que serviam ou como utilizá-los. Sim, o jogo claramente me apontava para uma direção específica com chamativas luzes douradas, mas bastava eu correr rumo a elas que eu logo percebia que talvez não fosse uma boa ideia ir assim com tanta sede ao pote, já que eu, contraditoriamente, ainda não era forte o bastante para lidar com as ameaças que ali estavam.

Nesses momentos, eu coçava a cabeça, saía do jogo e ia pesquisar o que fazer. Falava com os amigos que também estavam jogando. Via tutoriais no Youtube voltados a iniciantes. Lia inúmeras enciclopédias feitas por fãs que já estavam mais avançados do que eu. Descobria onde estavam escondidos itens poderosos que facilitariam minha jornada. Felizmente, no momento em que vivemos, a informação está acessível a cliques e segundos de distância, mas me pergunto se todos os jogadores terão a mesma paciência e disposição para fazer isso, assim como eu tive. Todo esse processo externo de alfabetização no design do jogo foi fundamental para que eu pudesse aproveitá-lo de uma maneira mais palatável. Seria essa a transposição da tal barreira que me impediu de apreciar Bloodborne anteriormente? 

Será que o jogo deixa mesmo óbvio que você deve explorar o mundo até ficar forte o bastante para ultrapassar grandes desafios, como os dois primeiros chefes principais da história, Margit e Godrick, rumo aos quais ele claramente te conduz? Ou essa consciência é apenas uma consequência causada por toda a comoção coletiva dos fãs e a defesa fervorosa das obras feita por eles em fóruns e redes sociais? Quem nunca ouviu um famigerado “git gud” quando se queixou de algum jogo mais difícil? 

Estaria Elden Ring apenas atirando o jogador em frente a uma barreira extremamente desafiadora e esperando que ele se vire por conta própria? Ou ele dá todos os recursos suficientes para que de fato saibamos como proceder? Foi mesmo o jogo que me ensinou a jogá-lo, ou essa tarefa foi terceirizada? Essas são perguntas para as quais eu ainda não tenho uma resposta clara o bastante enquanto escrevo este texto, portanto deixo aqui um espaço para reflexão. 

E o tal do easy mode? Faz falta?

Essa é uma das discussões que já foi saturada e que pessoalmente me faz revirar os olhos sempre que entra em evidência outra vez. Antes de seguir adiante, preciso reforçar que sou completamente a favor de opções de acessibilidade em games voltadas para pessoas com diferentes níveis de deficiência e acredito que é possível implementar esses recursos sem necessariamente alterar a “essência” do jogo ou os fatores que o fazem ser reconhecido pelo público (não, ser acessível não vai estragar o seu joguinho favorito, acredite). Jogos e demais produtos midiáticos deveriam ser sim acessíveis a todos, sem exceção, e não é nenhum absurdo pedir por isso. Tudo que eu penso a respeito desse assunto já foi muito bem sintetizado nesse texto aqui, então não vou me dar ao trabalho de repetir os argumentos do autor, porque essa é uma outra discussão bastante ampla que optei por não trazer de maneira simplista e apressada nesta análise. 

Mas, falando especificamente de um “easy mode”, de o próprio jogo oferecer ao jogador a capacidade de alterar a dificuldade original para que assim se torne mais fácil derrotar inimigos e seguir adiante, não, Elden Ring não oferece nada próximo a isso. Não se engane por qualquer comentário descontextualizado que você vir por aí dizendo que Elden Ring é um “soulsborne” fácil. Esse continua sendo um jogo bastante difícil para novatos no gênero se comparado com a média do que é encontrado na maioria dos triple A que vemos serem lançados todos os anos. E sinceramente não acho que esse seja um jogo que irá agradar universalmente e ser extremamente popular num mesmo nível que Skyrim e The Witcher 3, por exemplo, que possuem uma ambientação semelhante, mas são bem menos exigentes. 

Provavelmente, neste ponto, você já deve estar se perguntando depois de todo aquele relato traumático sobre Bloodborne no começo do texto: mas e você, Fabrício? Gostou? Deu conta de jogar? A resposta, por mais incrível que pareça, é SIM

Sim, eu gostei muito, muito mesmo. O jogo conseguiu acender aquela fagulha em mim que eu já não sentia com videogames há algum tempo, possivelmente desde que joguei Breath of the Wild pela primeira vez. Mesmo quando eu não estava jogando, eu continuava pensando no jogo, e isso, pelo menos para mim, é um bom sinal. E acredito que o principal responsável por me fazer me engajar profundamente com a obra foi o mundo aberto e convidativo de Elden Ring. Em momento nenhum eu me senti preso e sem conseguir progredir. Sempre que algo dava errado ou eu me frustrava com algum inimigo mais poderoso, bastava pegar minhas runas caídas onde eu tinha morrido pela última vez e sair correndo para longe dali com o meu cavalo. Sempre havia muita coisa para fazer e descobrir. Outros lugares para explorar. Novos inimigos para enfrentar. 

Eu levei um tempo considerável para pegar o jeito do combate, admito, e acredito que ainda estou bem longe de ser considerado um jogador pelo menos mediano. Ainda me atrapalho muito ao trocar e usar todos os itens necessários durante uma batalha. Ainda apanho sempre que preciso lutar em cima do meu cavalo. Ainda sofro quando inimigos mais ágeis não me deixam espaço para usar os ataques a distância do meu astrólogo. Mas o desafio proposto é, de certa forma, viciante. Tendo explorado principalmente as duas regiões iniciais, várias masmorras e a primeira Legacy Dungeon, Stormveil Castle, ainda não me cansei. Derrotei alguns chefes secundários e o primeiro dragão. E sempre fica aquela expectativa sobre a próxima habilidade que vou aprender, o próximo item que vou encontrar, o próximo segredo que vou descobrir. E a sensação é muito boa. 

E veja só a consequência disso: eu explorei por horas a fio, sem me preocupar muito com a missão principal. Quando cheguei por volta do nível 24, achei que já podia tentar lidar com Margit, o primeiro chefe, sobre o qual eu via muitas pessoas reclamando nas redes. E, para minha surpresa, eu consegui derrotá-lo na segunda tentativa, e o mesmo aconteceu quando precisei enfrentar Godrick. Sim, eu usei os espíritos que o próprio jogo me ofereceu para distrair o chefe enquanto eu lançava meus feitiços de longe, tomava minhas poções e trocava de itens. Sim, eu aprendi feitiços e peguei um cajado que estavam escondidos em uma área que eu talvez tenha visitado um pouco antes da hora. E sim, eu poderia ter convocado um NPC ou outro jogador para ter me ajudado na luta caso eu quisesse. Talvez esse seja o “easy mode” secreto de Elden Ring. Um modo fácil menos explícito, mas, ainda assim, possível de ser acessado por quem se dedicar a explorar um pouquinho mais e não tiver vergonha de usar todas as ajudas “apelonas” que o próprio jogo disponibiliza. 

A experiência definitiva da nova geração?

Essa é a pergunta que muitos se fazem após a chuva de avaliações favoráveis da crítica e do coro fervoroso dos fãs gritando “Game of The Year” em meados de fevereiro e março de um ano que ainda contará com outros grandes lançamentos. Falando da minha própria experiência, jogando a versão de PS5 no modo performance, preciso ser sincero e dizer que o jogo às vezes deixa sim um pouquinho a desejar quando você pensa no conceito de título “next-gen”. 

Não, não estou aqui para ser chato e criticar a física das plantas do jogo, nem nada do tipo. Estou falando de aspectos técnicos mais essenciais, como a taxa de quadros instável; da resolução que nem sempre é das melhores e que não mostra o mundo da maneira vibrante que eu gostaria de ver, mesmo jogando numa tela 4K de qualidade; das experiências com elementos de cenário, NPCs e vegetação surgindo e desaparecendo do nada conforme eu exploro o mapa e outros erros menores que parecem pequenos isoladamente, mas que acabam afetando a experiência geral do jogo quando considerados em conjunto. E a experiência dos jogadores de PC aparentemente tem sido ainda mais problemática do que a minha, no console.

Sim, eu entendo e até concordo com a porção mais crítica do público que aponta que Elden Ring parece um jogo da geração passada. Mas, ao mesmo tempo, não acho que isso seja um demérito. A experiência não deixa de ser positiva mesmo que os gráficos não sejam lá os melhores e que existam bugs aqui e ali. Mas, para alguém que havia jogado Horizon Forbidden West por alguns dias exatamente antes de começar Elden Ring, é impossível não fazer uma comparação desses aspectos técnicos e perceber o salto de distância que existe entre os dois títulos, pelos menos visualmente (Horizon também tem lá seus defeitos de performance, sejamos justos). Dois jogos de grande orçamento, lançados numa plataforma em comum, com apenas dias de diferença. 

Esse é o tipo de coisa que provavelmente não vai me impedir de apreciar Elden Ring ou de me divertir com o jogo, e que certamente vai incomodar mais alguns jogadores do que outros. Mas não acredito que seja nenhum absurdo pedir por um jogo minimamente otimizado e que faça de maneira adequada aquilo a que ele se propõe, então não tiro a razão daqueles que reclamam, principalmente considerando o histórico da From Software neste quesito. Por outro lado, não duvido que o escopo de Elden Ring e a atenção massiva que ele está recebendo seja um incentivo para que a desenvolvedora atue mais ativamente e de maneira mais ágil para corrigir esses problemas com futuras atualizações. Só o tempo dirá, porém. 

Conclusão

Considerando a minha experiência com a porção inicial do jogo, acredito que Elden Ring mereça toda a atenção positiva e aclamação crítica que vem recebendo. Há uma incrível construção de mundo, um gameplay desafiador, porém engajante, e a possibilidade de atender aos mais diferentes perfis de jogadores, desde um fã hardcore da série Souls até um completo iniciante, como eu. 

Ainda assim, existem falhas e aspectos técnicos que poderiam ter sido melhor polidos; e a desculpa de ser “misterioso” e “convidar o jogador a desvendar os segredos do jogo por conta própria” não foi suficiente para me convencer de que a história foi mesmo apropriadamente desenvolvida e o gameplay satisfatoriamente introduzido ao jogador, pelo menos não nas primeiras horas. Para os fãs de lore e narrativa, procurar por esses elementos de história escondidos muitas vezes se assemelha à tarefa de buscar por água no deserto, então não esperem uma experiência cinematográfica, com cutscenes abundantes ou coisas do tipo, porque essa definitivamente não é a direção adotada aqui (e sugiro ter sempre um dispositivo com internet em mãos para poder consultar qualquer elemento que porventura não tenha sido explicado o suficiente, caso você também seja um iniciante). 

Talvez minha opinião mude conforme eu me aprofunde mais no jogo e alcance as regiões supostamente mais difíceis, mas, por enquanto, posso afirmar com convicção que, mesmo com alguns eventuais tropeços, Elden Ring conseguiu, de certa forma, reparar aquele “trauma” causado por Bloodborne, e me fez perceber que talvez o que me faltasse na época não fosse apenas habilidade, mas a chance de abordar o desafio por uma outra perspectiva e com uma maior liberdade de decidir o que eu quero fazer e quando eu quero fazer. 

Provavelmente, para os fãs mais radicais, isso seja trapaça ou usar o famigerado “easy mode”, mas, para mim, foi a porta de entrada que faltava para me fazer transpor aquela barreira invisível e também ter a chance de aproveitar uma obra tão rica e cativante. 

Análise: Elden Ring por um marinheiro de primeira viagem
CONCLUSÃO
Um dos pontos altos da trajetória da From Software, Elden Ring abraça um público mais amplo e abre as portas para quem quiser se aventurar pelo seu mundo misterioso, rico e cativante.
POSITIVOS
Mundo aberto bem desenvolvido
Recursos de jogabilidade amigáveis para iniciantes no gênero "soulsborne"
Profundidade de conteúdo e level design
NEGATIVOS
Performance e gráficos ainda precisam de ajustes
Informações escassas sobre mecânicas, que precisam ser supridas por fontes externas
10
ESSENCIAL