Detroit: Become Human é mais do que vivenciar a história dos personagens, é conversar com diferentes pessoas sobre o jogo; discutir sobre escolhas específicas e ver como elas moldaram a jornada de Connor, Kara e Markus levou a experiência do jogo muito além das 12 horas da primeira rodada de gameplay. Ele é um dos destaques do diretor David Cage e equipara-se à Heavy Rain por conta de sua trama interessante, apesar da temática um tanto quanto saturada dos androides e inteligência artificial.
Três Histórias e Um Dilema
Detroit é a cidade do futuro, a inteligência artificial chegou à um nível tão avançado que os robôs vão muito além de executar tarefas simples, tornando-se verdadeiras companhias para algumas pessoas. Mas será que em algum ponto os robôs conseguem ter vontade própria e autonomia ? Os que conseguem quebrar essa barreira são chamados de Deviantes e vistos como um grande problema para a sociedade.
O jogo trata justamente dessas situações, contando três histórias completamente diferentes que vão cruzar-se em torno desse mesmo tema. Kara é um tipo de robô doméstico, que ajuda nas tarefas da casa, bem como cuida da pequena Alice e de seu pai Todd. Connor é um detetive, feito com a melhor tecnologia da companhia Cyberlife, que investiga e captura os chamados Deviantes, androides que saíram de sua programação original, passando a agir por vontade própria e rebelando-se contra seus donos. Já Markus também é um robô doméstico, mas cuida de seu dono, um artista rico e que o trata como filho.
A jornada de Kara se intensifica ao presenciar Todd descontrolado e ao ameaçar Alice, você pode quebrar sua programação para proteger a pequena garota, tornando-se uma deviante. Esse é um ponto em que suas escolhas começam a fazer diferença e você percebe como as ações tomadas nas cenas anteriores podem te levar a outros caminhos para a conclusão da cena. Por exemplo: você pode descobrir que Todd guarda uma arma ao lado de sua cama quando limpar seu quarto e agora, poderá usá-la para proteger Alice. Agora Kara não é mais uma simples androide programada para ajudar na casa, ela se importa com Alice e promete levá-la para Jericho, onde os Androides podem ser livres. Vocês passarão por várias adversidades em sua jornada, tudo dependendo de suas escolhas e seu sucesso durante os quick time events de perseguições e alguns pequenos combates.
Com Connor, você estará focado em investigar casos com androides deviantes ao lado de Hank, um policial que despreza os robôs por algum motivo obscuro em seu passado (que você vai descobrir durante o desenrolar a história). Connor também tem como missão descobrir o verdadeiro motivo pelo qual os robôs tornam-se deviantes e ao final de cada investigação, você se reportará à sua Mentora, Amanda (cuja relação de confiança depende das suas ações e sucesso). Aqui você vai abusar de mecânicas de investigação e exploração, para descobrir as pistas de cada cenário e recriar as cenas de crime e perseguir os deviantes.
Desenvolver a relação entre Connor e Hank também depende única e exclusivamente das ações e escolhas do jogador durante as cenas. Dependendo do que falar, você pode afastar ou aproximar o detetive aparentemente mal humorado, mas que, no fundo, possui um bom coração. A relação dos dois personagens é um dos destaques de Detroit e recomendo fortemente que você jogue pelo menos uma vez para tentar transformá-lo em um amigo próximo.
Já a história de Markus começa após um mal entendido com a polícia onde o androide é destruído e jogado em uma espécie de ferro velho. Você precisa pegar partes de outros robôs que foram desativados (ou estão quase morrendo) para se recompor e buscar ajuda. Ele é o primeiro dos três a encontrar Jericho, uma espécie de comunidade onde os deviantes sobrevivem escondidos, às margens da sociedade. Markus então começa a desenvolver Jericho e inicia um movimento à favor dos Androides.
Aqui você pode escolher exatamente como seguir no movimento: de forma pacífica, com manifestações e sem vandalismo ou mortes, ou de forma violenta, como uma revolução. Isso impactará diretamente na opinião pública em relação aos deviantes e androides, podendo alterar os finais do jogo.
Uma experiência além do jogo
Em Detroit, você tem a opção de voltar e recomeçar as cenas a partir de alguns pontos específicos para entender as diferentes ramificações de cada escolha. Porém, o jogo recomenda que você jogue a primeira vez escolhendo o que você acredita que o personagem faria, moldando assim, a experiência para você mesmo. Essa experiência vai ter dar bons momentos de discussão com outras pessoas que jogaram ou estão jogando Detroit; entender e argumentar o motivo de você ter escolhido ser pacífico e seu amigo ou amiga ter escolhido a rota violenta só atesta a qualidade da narrativa e coloca uma nova barra para os próximos jogos com histórias moldadas pelos jogadores.
Diferente dos jogos da Telltale, onde as escolhas afunilam para um ou dois desfechos dos personagens principais, aqui você tem escolhas que darão acesso à cenas totalmente diferentes, conhecendo ou não alguns personagens que podem ser cruciais para o um bom final de Kara, Markus ou Connor. Ao final de cada capítulo, você também consegue ver a porcentagem de jogadores que fizeram as mesmas escolhas que você.
Em diversos momentos eu pensava antes de escolher qualquer opção dos diálogos, pois realmente estava me importando com os personagens e com um real medo de fazer alguma escolha “errada”.
Detroit também promove uma pequena interação com o jogador ao colocar Chloe para conversar com você,antes de iniciar ou retomar sua história. Você irá responder a uma série de perguntas e terá uma escolha bem interessante (sem entrar em spoilers, mas você saberá do que estou falando quando for colocado frente à essa questão).
Graficamente, o jogo explora bem o poder do PS4, construindo modelos muito fieis aos atores utilizados. Os cenários são bem detalhados e contribuem para a imersão e ambientação de cada cena. Você vai sentir a solidão e um vazio ao visitar o parque de diversões abandonado, sentir uma desconfiança ao chegar na mansão de Zlatko e também sentirá a tranquilidade dos jardins de Amanda.
Conclusão
Em suma, Detroit: Become Human é uma das melhores experiências narrativas disponíveis para a geração atual e um dos grandes destaques de David Cage e da Quantic Dream. Os personagens são envolventes e o fato de suas escolhas realmente fazerem diferença no desenvolvimento das histórias contribui muito para horas de discussão sobre cada possibilidade e para que você comece o jogo novamente e veja os caminhos inexplorados por pequenos detalhes que podem ter passado despercebidos ou diálogos com respostas diferentes. O tema de androides e inteligência artificial pode estar um pouco saturado, mas a história irá fazer com que você se importe com os personagens e se envolva profundamente em cada escolha.
[alert type=white]Essa análise foi feita com uma versão de PS4 fornecida gentilmente pela assessoria da Sony PlayStation. [/alert]