Análise – Dead Island 2
Minha história com Dead Island começou lá naquele trailer de anúncio. Aquele lá mesmo, da menina caindo do prédio ao contrário em slow motion. Eu acho que foi em, o que, 2010? O mundo era um lugar diferente e as expectativas eram outras. Esse trailer me prometeu muita coisa e o jogo sofreu pra entregar o mínimo – gameplay repetitivo, uma história que pouco fez para eu me importar com o que estava acontecendo com os personagens e um verdadeiro arraial de bugs.
Um dos pontos de venda do game – jogar toda a história em modo cooperativo – foi, pra mim, o que salvou essa experiência de ser um total desastre. Pelo menos em coop dava pra rir junto de todas as bizarrices não planejadas que o jogo mandava pra gente. Mesmo com todos esses problemas, Dead Island conseguiu vender algumas milhões de cópias e quem sabe uma sequência consertaria todos esses problemas?
O anúncio de Dead Island 2 em 2014, assim como o primeiro, me pegou de surpresa. Mudando totalmente o tom do jogo para algo mais cômico, indo na direção contrária do anterior. Coisa que no meu caderninho é um plus. Pois bem, o tempo passou. Passou. E passou. Nove anos inteiros se passaram e aqui estamos. Dead Island 2 chegou e tenho o prazer de reportar que o jogo não é ruim! Com algumas ressalvas, problemas e questões que vou discutir ao longo da análise.
O inferno em Los Angeles
Ao contrário do primeiro jogo que se passava na ilha de Banoi, Dead Island 2 vai para um lugar muito mais mainstream: Los Angeles. Sem muitas explicações, uma epidemia que transforma os mortos em comedores de carne se alastrou pela cidade, causando pânico e uma evacuação imediata. Na fuga desse pesadelo, somos apresentados aos personagens que o jogador pode assumir comando, chamado de “slayers”: Amy, Bruno, Dani, Carla, Jacob e Ryan.
Cada um deles tem personalidades distintas e mecânicas de gameplay positivas e negativas. Escolhi a Dani, que conta com a habilidade inicial de regenerar vida quando múltiplos zumbis são mortos em rápida sequência – skill que alivia o fato dela ter uma regeneração nativa de vida mais baixa. Dani é uma irlandesa de sotaque carregado e jogadora de roller derby, não mede a hora de falar palavrão e fazer piada com absolutamente tudo.
Após a tentativa de fuga dar errado, Dani e outros sobreviventes se refugiam na mansão da (ex) estrela de Hollywood, Emma Jaunt. A casa da atriz agora serve como uma área segura e é possível interagir com outros sobreviventes, pegar novas quests e explorar os arredores. Depois de toda confusão inicial, não demora muito para que a protagonista descubra que é imune ao vírus.
Resumindo bem os acontecimentos para não entrar em muitos detalhes, Dani entra em contato com um pesquisador chamado Dr. Reed para que a protagonista seja resgatada e estudada, com a intenção de desenvolver uma cura que salve o restante da população da cidade e impeça que a doença se alastre para o resto do país e do mundo.
A partir daqui, algumas reviravoltas acontecem – algumas bem óbvias, outras nem tanto. O jogo entra nos meandros de explicar o motivo dos protagonistas serem imunes e o que isso vai acarretar, mas de uma forma muito superficial. Entretanto, para quem não esperava nada, ter uma história minimamente coesa com personagens que eu gosto, já está de bom tamanho. Só não vai de cabeça aqui esperando o melhor enredo do planeta.
Churrasquinho de zumbi
O gameplay de Dead Island 2 usa como base o combate do primeiro para expandir novas possibilidades e arrumar o que não funcionava. Dito isso, o feeling do combate não é lá muito diferente do que tínhamos visto, inclusive até bem parecido com o primeiro Dying Light. Inclusive alguns movimentos, como o drop kick (famosa voadora de dois pés), está presente aqui como habilidade desbloqueável.
Meu primeiro contato com o combate ao tomar controle do personagem não foi exatamente dos melhores. O primeiro hit que dei em um zumbi me deu a impressão de alguma coisa muito errada – o golpe não tinha “potência”, parecia estar passando manteiga num pedaço de pão. Sentia que não estava causando dano algum, fato que era contrariado pela barra de HP do zumbi descendo e dos pedaços de carne podre sendo arrancados.
Essa impressão persistiu por algum tempo após terminar o prólogo. Tive contato com outras armas e as coisas foram melhorando gradualmente e entendi que essa sensação esquisita de não “conectar” o ataque era relativa ao nível e tipo de arma usada. Não sei se é intencional, mas foi o que senti. Avancei, peguei armas mais fortes, mods que adicionavam dano elemental e, depois de algumas horas de jogo, tudo estava fluindo muito melhor.
O grande diferencial aqui está em como o jogo usa o cenário e elementos como fogo, eletricidade e água para criar um loop de gameplay interessante: barris de líquido inflamável podem criar armadilhas mortais; um cabo de eletricidade solto numa poça de água pode ser eletrocutar qualquer coisa que pise ali. Modificar seu arsenal para que cada arma tenha um mod elemental também causa o mesmo efeito.
Anatomia do morto-vivo
É importante lembrar que Dead Island 2 também é construído como um RPG. Seu personagem tem nível e desbloqueia novas habilidades – tratados aqui como cartinhas que você destranca ao subir de level e achar pelo cenário. O jogo dá espaço para criar builds básicas dependendo de qual tipo de skill você quer priorizar e qual tipo de dano causar. Os inimigos também tem nível e tentar peitar zumbis muito mais fortes é morte certa.
Essa mecânica de RPG é bem básica e pode ser relevada em vários momentos da jogatina. Eu mesmo não fiquei perdendo muito tempo buscando por sinergias e builds mega complexas – qualquer coisa que aumentasse meu dano ou regenerasse o HP já estava de bom tamanho. E digo isso como um ponto positivo.
Outro aspecto importante comentar é de como o mapa do jogo funciona. Não espere um game de mundo aberto como o anterior – Dead Island 2 funciona no esquema de “mapas pequenos interligados”, com locomoção restrita e caminhos específicos para chegar a certos lugares. Embora conte com várias missões paralelas, coletáveis e desafios (atividades típicas de mundo aberto), o jeito de navegar entre os mapas não é dos mais fluídos.
Em um primeiro momento isso me gerou certo incomodo, principalmente por não conhecer os mapas direito. É bem como ficar meio perdido ou não achar o caminho certo, já que o mapa do jogo não faz um trabalho decente de te situar direito. Analisando em retrospecto, sou muito mais fã de um mundo aberto com livre locomoção do que ter que ficar decorando caminho pra ir e vir.
Valeu a pena esperar?
Nove anos depois de seu anúncio inicial, é um milagre que esse jogo tenha lançado. Múltiplas mudanças de estúdio, direção e um desenvolvimento que beirou uma década deixam uma interrogação gigante em cima sobre a qualidade do jogo. Dead Island 2, entretanto, vai por um caminho seguro, morrendo de medo de ousar demais. E por ser um caminho seguro, posso dizer que deu certo.
O jogo conta com diversos problemas, desde como o mapa funciona até de como a história se desenrola. Ao meu ver, o todo é melhor do que a soma de suas partes e Dead Island 2 consegue cumprir a tarefa de ser um jogo funcional, com momentos divertidos e que não estende muito sua estadia.
É um game curto (zerável em 12-14 horas) mas com conteúdo extra até extenso. É difícil imaginar que alguém tenha altas expectativas pra esse jogo, então posso quase garantir que se você curte esmagar umas cabeças de zumbis e jogar com os amigos, Dead Island 2 vale seu tempo (talvez não o investimento visto o preço do jogo aqui no Brasil, então fique de olho em promoções).
O jogo foi analisado com base na versão de PS5 cedido gentilmente pela publisher.