Battlefield Hardline faz jus à franquia e tem competência, porém é mais um passo para o lado do que para frente.
Para muitos, o anúncio de Battlefield Hardline foi meio cedo demais. A franquia deu passos importantes com o terceiro e quarto títulos, conquistando novas audiências, e Hardline foi anunciado em um momento duvidoso, já que o próprio BF4 ainda sofria com problemas técnicos. Desta vez, devo reconhecer o bom trabalho da EA em finalmente lançar um Battlefield sem grandes problemas de conexão ou coisas do tipo, desde a minha primeira hora de jogatina, nada gritante aconteceu em relação à falhas técnicas.
Depois de jogar mais de 250 horas dos títulos anteriores e estar perto das 30 horas nessa nova edição, nada mais justo do que entregar-lhes uma análise que foca na questão: Hardline realmente é necessário?
No próximo episódio de Battlefield…
A Visceral, mesma produtora de Dead Space, cuidou da parte singleplayer de Hardline. Nada de brigas com os russos, guerras nucleares ou cibernéticas. O estúdio apostou em uma ideia aparentemente ousada – fazer uma campanha inspirada nas séries de TV, com todas as características marcantes das mesmas: a divisão em episódios, a narrativa e a recapitulação de acontecimentos anteriores quando se chega a um novo episódio.
No quesito apresentação, a Visceral mandou muito bem e conseguiu transmitir aquele ar de Netflix a Battlefield: Hardline. As músicas e o estilo de câmera das cutscenes combinam perfeitamente com o estilo que a produtora resolveu assumir.
Você está na pele de Nick Mendoza, um detetive de Miami que aparece logo no início do jogo sendo transportando em um ônibus de uma penitenciária. Por que ele está lá é o que o jogador vai descobrindo ao decorrer dos episódios, que possuem um enredo sólido, mesmo que não brilhante. No entanto, os diálogos e a interação entre os personagens frequentemente parecem galhofas e tirados de uma série policial dos anos 80. Por isso, trate a campanha como se você estivesse assistindo Velozes e Furiosos, não O Poderoso Chefão.
A Visceral optou por um sistema bastante simples no singleplayer – o uso de seu distintivo. É possível usá-lo para parar até três criminosos de uma vez, e o máximo que eles farão é te xingar. Absurdo? Sim, totalmente, mas também muito funcional e até mesmo necessário. É com este sistema que o jogo contabiliza quando você está sendo furtivo e quando está atirando em tudo e todos com uma espingarda. Com um design de mapas bem feito, o jogador é influenciado em agir ora silenciosamente, ora agressivamente, variando um pouco no estilo de jogo.
Uma pena essa variação não ser o suficiente. Com o tempo, a linearidade e a falta de novos itens para desbloquear tornam a campanha repetitiva. Isso acontece apenas no final, mas, após os créditos, pouquíssimos jogadores ficarão com o sentimento de “quero mais”.
Polícia e Ladrão
Nunca devemos esquecer do modo singleplayer de um jogo, mas todos sabemos que Battlefield é, essencialmente, um título feito para ser jogado online. Seus antecessores costumavam trazer apenas 1 novo modo de jogo, mas Hardline foi além e nos trouxe 3 novos modos que merecem maior destaque, além é claro dos já repetidamente consagrados Conquest e Team Deathmatch.
O modo Hotwire mostra o esforço que a DICE teve que fazer para tornar o multiplayer de Hardline interessante sem o feijão com arroz da série: jatos e tanques. Com essa pegada muito menos militar, o jogo nos traz carros mais comuns como sedans, que graças à produtora, são extremamente divertidos. No campo de batalha, cria-se uma disputa entre policiais e bandidos, que devem correr o mais rápido e por mais tempo possível pelo mapa, enquanto a polícia tenta capturá-los.
Em Blood Money, é colocado um monte de dinheiro em um determinado local do mapa. Ambos os times devem pegar o dinheiro e levar para suas bases. Os ladrões estão tentando executar um roubo e os policiais, tentando coletar evidências. O modo valoriza a agilidade e proporciona ótimos combates a curta distância.
No modo Heist, os criminosos devem invadir cofres e roubar sacos de dinheiro, depois disso, devem levá-los para um ponto de extração e esperar pelo helicóptero. Já os policiais devem evitar que isso aconteça, até que o limite de 100 respawns dos bandidos seja excedido.
Em geral, Battlefield: Hardline faz um bom trabalho com os novos modos, que realmente são competentes, mas não acaba de vez com os questionamentos sobre a necessidade de um novo título. Apesar das novidades parecerem revolucionárias na teoria, na prática a jogabilidade ainda parece que caiu de paraquedas de Battlefield 4, sem toda a ambição que poderia ter. Ao mesmo tempo que o design dos mapas melhorou consideravelmente e os veículos sofreram excelentes mudanças, os conflitos armados entre policiais e criminosos ainda são incrivelmente parecidos com os conflitos militares de BF4.
Gráficos, efeitos sonoros e dublagem brasileira
A série Battlefield sempre foi uma referência nos gráficos e no áudio, e a tradição não é destruída aqui, mas tem seus escorregões. A começar pelos gráficos, que utilizam a Frostbite Engine 3, um poderosíssimo motor gráfico que nos dá visuais dignos da nova geração. Todavia, o esquema de cores e os efeitos de iluminação que enchiam meus olhos em BF4 já não funcionam mais no novo título, que em momentos, parece “sem cor” demais.
Os efeitos sonoros, por outro lado, continuam fortes como sempre. A qualidade sonora de tiros destruindo a parede ao lado, granadas sendo lançadas perto de você, veículos explodindo e sirenes sendo ligadas continua impressionante. Além disso, a trilha sonora que acompanha o modo singleplayer também não deixa a desejar e combina com o estilo “polícia e ladrão” adotado.
A dublagem brasileira foi afetada negativamente principalmente pela voz de seu protagonista, que foi feita por Roger, da banda de rock Ultraje a Rigor. O artista emprestou sua voz a Nick Mendoza e, em poucas palavras, deu muito errado. Pela grande diferença de idade entre os dois e a falta de técnica do roqueiro nesse tipo de trabalho, a dublagem por vezes parece amadora. Para compensar, todo o resto dos personagens recebeu um tratamento profissional, que infelizmente não foi utilizado na voz de Mendoza.
O crime compensa?
Battlefield: Hardline se encontra dividido entre decisões conservadoras e ambiciosas. Não é uma reciclagem completa de Battlefield 4 com cassetetes, mas não aproveita todas as chances de renovar totalmente a franquia.
Passando pela história decente porém bastante clichê, pela qualidade gráfica sem grandes mudanças de seu antecessor e pela qualidade sonora afetada pela dublagem mal executada do protagonista, Hardline brilha no multiplayer, que mesmo não sendo tão ambicioso como poderia, continua fornecendo tiroteios emociantes, desta vez com mapas ainda melhores e modos de jogo que dão novos ares à série.
Uma dica: se você já tem amigos para jogar e gosta da série, Hardline não te deixará desapontado. Mas se você ainda não tem muitos companheiros para este novo jogo e/ou não criou um laço com a franquia, fique tranquilo, Battlefield 4 continua uma excelente opção.
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- O multiplayer continua excelente
- Modos de jogo novos e divertidos
- Bem polido, estável tecnicamente
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- Poderia ser mais ambicioso
- História muito clichê
- Dublagem do protagonista
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