Perguntar quem iria comprar o próximo Assassin’s Creed era quase uma piada pronta. Soava com o mesmo sarcasmo intencional ao sacanear seu amigo perguntando se ele iria comprar outro Call of Duty, com o ar de “para de desperdiçar seu dinheiro, animal”. Falta de motivo não foi: a novela chamada Assassin’s Creed Unity, embora não tenha sido mexicana, causou inveja no diretor de Maria do Bairro.
A problematização de séries anuais obviamente não é o objetivo desse texto, mas certos pontos ficarão latentes no decorrer da análise que sim, esse assunto deve ser abordado.
E cá estamos, 2015. O que mudou para Assassin’s Creed? Algumas perguntas continuam sendo eternas.
Em Syndicate temos um setting diferente, ambientado numa Londres vitoriana em seu ápice da Revolução Industrial. Essa época carrega um pacote recheado de contradições, desgraças e inovações – bem como qualquer outra época da humanidade, só que com uma pitada de steampunk e poluição. A evolução megalomaníaca da tecnologia e da expansão ferroviária formava uma cidade que seria o local perfeito para a dominação dos templários. Assim se fez o império de Crawford Starrick – o templário malvadão detentor de toda a economia londrina e principal responsável da vida de merda que muito de seus habitantes levavam.
Para combater o crime e as forças do mal, somos apresentados a não um, mas dois novos protagonistas que irão compor a resistência assassina em Londres. Evie e Jacob Frye são os irmãos gêmeos treinados pela Irmandade para se tornarem Assassinos e darem um fim à dominação cruel de Starrick sobre o povo, que era amaldiçoado com cargas de trabalho de mais de 18 horas, ambientes insalubres, trabalho escravo e infantil. Enfim, capitalismo sendo capitalismo.
Jacob e Evie têm ideologias semelhantes, mas direcionamentos opostos. Evie, atraente, inteligente, sagaz e focada, pretende desmoronar os planos dos Templários, que buscavam um poderoso artefato do Éden – peças de altíssimo poder criados por deuses de outras civilizações fora da Terra e pertencentes à Primeira Civilização – que estavam sendo liderados por Lucy Thorne (templária aliada de Starrick) em função de obter todo o poder daquele artefato pra, bem, dominar o mundo? Enfim, esses papos de vilão de videogame que todo mundo já sabe. Jacob, homem igualmente atraente, forte e intuitivo, formula planos de formar uma gangue – chamada de The Rooks – e combater a influência templária frente a frente, na base da porrada mesmo.
Só por essa breve introdução já deu pra ter uma ideia de como as mecânicas funcionam, né? Evie é focada em stealth e Jacob no combate. É um esquema completamente manjado, mas que na série, até então, não havia sido implementado de maneira eficaz. Digo, quantos de vocês jogavam Assassin’s Creed na furtividade? Tirando pelas partes que não ser visto era uma obrigação, nem o próprio jogo incentivava essa prática com o famoso ”aperte 1 botão para matar”. Porém, com o Syndicate, a furtividade tornou-se uma opção. E uma opção viável, até.
As tentativas de reformulação da série por parte da Ubisoft se demonstram de maneira latente. Alguma coisa como um selinho de ”eu tô tentando”. Várias das mecânicas de parkour sofrem do mesmo problema que o primeiro jogo da série sofria há 7 anos; ambos os enredos próprios de cada contexto histórico e dos dias atuais são forçados a não perder o foco, com a peteca quase caindo no quesito interesse. Assassin’s Creed é uma série que leva o carimbo de desperdiço criativo por causa da Ubisoft – e adivinhem por que mais? Se você chutou “anualização”, parabéns, toma aqui seu biscoito.
Você não continua andando no carro quando a gasolina acaba, nem fica sofrendo de lesão por esforço repetitivo quando seu punho já tá doendo horrores, e o mesmo deve ser dito aqui.
Syndicate apesar de ser um jogo divertido, estaciona aí. É sólido, funciona e diverte, mas… Algo mais fica perdido no caminho. Um ar rarefeito, uma neblina que ofusca alguma coisa e não te mostra o caminho certo. Por mais que eu seja um fã da série há mais de cinco anos, o cansaço já está mais que claro.
Jacob, eu amei seu jeito marrento e engraçado. Evie, eu amei seu jeito inteligente e sensato de conversar e resolver as coisas. Mas eu fico triste em ver personagens tão marcantes em uma franquia que acabou de sair da UTI. Desejaria ver vocês em outros episódios menos tristes do que esses bem recorrentes que estão acontecendo com Assassin’s Creed.